Durante esta campanha
sobraram análises que apontavam para um novo duelo entre tucanos e petistas.
Entretanto, há alguns anos o eleitorado fornece sinais de que está cansado
desta polarização. Esta ruptura poderia ter acontecido no último pleito
presidencial não fosse o ataque sistemático de Dilma Rousseff para cima de
Marina Silva.
O Brasil, como já frisei
aqui, passa por ciclos políticos de 30 anos, quando sempre faz a opção pela
ruptura com o sistema. Neste ano estamos diante do fechamento do período da Nova
República, que se iniciou com a eleição de Tancredo Neves no Colégio Eleitoral.
Depois de um período de praticamente três décadas de polarização, caminhamos
aos poucos para um novo ciclo.
Desde as eleições de 1994
o Brasil faz a opção entre dois modelos de esquerda. Aquele de viés
social-democrata, menos radical, porém intelectual, e outro de vertente
sindical, sem o verniz dos tucanos, mas com estrutura política espalhada nos
mais diversos tecidos da sociedade. O petismo, nascido no sindicalismo, espalhou-se
por diversos campos, fincando bandeiras em movimentos sociais e inclusive na
classe artística, sua aliada histórica.
Tucanos e petistas são
duas faces de uma mesma moeda, uma esquerda intelectual e outra sindical. Na
Europa, por exemplo, geralmente estão no mesmo partido. É o caso dos
trabalhistas ingleses, do SPD alemão ou do PSOE na Espanha. No Brasil
dividiram-se em duas partes em função do contexto político e acabaram duelando
durante um longo período nas urnas.
O fato é que durante muito
tempo o Brasil não possuiu uma força autenticamente de direita. Os antigos
Arena, PDS, PFL PPR, PPB, PP, hoje Progressistas, eram agremiações de certo
cunho conservador, mas patrimonialistas, dirigidas por grupos que, no poder,
jamais aplicaram políticas liberalizantes profundas que mudassem a face do
Brasil. Na economia, seguiram a política da intervenção econômica adotada pelos
últimos presidentes militares.
A ascendência de Jair
Bolsonaro surge como uma resposta de grande parte da sociedade que se tornou
represada desde a implementação do duelo tucano-petista. O avanço da agenda
vermelha nos últimos anos fez com que estes grupos se organizassem e buscassem
voz. Ao encontrar no capitão-deputado alguém que enfrentava o modelo em curso,
optaram por essa alternativa.
Bolsonaro passa pelas duas
esquerdas e reorganiza o quadro político, especialmente quando ocupa o
quadrante da direita, fazendo com que os tucanos tenham que assumir sua postura
real. Não surpreende que em um segundo turno entre direita e petistas, o PSDB
apoie Haddad. É um realinhamento natural que faz bem para democracia
brasileira.
Este rearranjo ocorre no
momento histórico previsto, ou seja, 30 anos após a eleição de Fernando Collor,
assim como este surgiu 30 anos depois de Jânio Quadros, que veio 30 anos depois
de Getúlio Vargas. A mudança representada por Bolsonaro é mais profunda do que
podemos imaginar. Um realinhamento político está em curso e o resultado das
urnas servirá de ponto basilar para esta avaliação dos novos rumos do país.
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