O novo presidente
encontrará uma inflação ainda bem-comportada, próxima da meta, se o quadro
eleitoral evoluir sem sustos muito grandes e, é claro, se a turbulência
internacional continuar suportável. Do lado dos preços, será esse o quadro mais
favorável à reativação dos negócios neste semestre. Se essas condições se
confirmarem, o Banco Central (BC) poderá manter em 6,50%, até o fim do ano, a
taxa básica de juros, a Selic. Será menor, portanto, o risco de novos entraves
à recuperação da economia até a passagem da faixa presidencial ao sucessor do
presidente Michel Temer. A prévia da inflação de agosto, divulgada ontem,
permite manter essa boa expectativa. Ficou em 0,13% a alta do Índice Nacional de
Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15). Em julho, o aumento havia sido de
0,64%. A taxa de agosto foi a menor para o mês em oito anos. Em 2010, houve um
recuo de 0,05%.
Com a acomodação dos
preços em agosto, a elevação no ano bateu em 3,14%. Em 12 meses a taxa
acumulada ficou em 4,30%, pouco abaixo da contabilizada nos 12 meses terminados
em julho, de 4,53%. Esgotados os primeiros impactos da paralisação do
transporte rodoviário, os preços, principalmente dos alimentos, voltaram à
normalidade em junho e em parte de julho.
Com essa correção se
reforça a expectativa de uma taxa próxima de 4,30% no encerramento do ano,
tanto para o IPCA-15 como para o IPCA. Os dados para a prévia são coletados
entre o meio de cada mês e o meio do mês seguinte. Esse levantamento sinaliza a
tendência do índice oficial, válido para o mês fechado.
Sem pressões
inflacionárias mais importantes, o BC poderá manter os juros básicos sem
alteração até o fim do ano, confirmando as projeções correntes no mercado
financeiro. Essas projeções apontam taxa de 6,50% no fim de 2018, com elevação
gradual para 8% em 2019. Isso dependerá também da evolução das condições
internacionais e de seus impactos na formação dos preços no Brasil. O quadro
externo, sensivelmente instável desde o ano passado, tem refletido
principalmente dois fatores. Um deles é a tensão comercial entre Estados
Unidos, China e, em menor escala, outros parceiros comerciais. O outro é o
aperto gradual das condições monetárias no mercado americano, com impactos em
todo o sistema financeiro internacional.
Esses fatores têm afetado
os mercados cambiais, com forte valorização do dólar em relação à maioria das
outras moedas, especialmente as de economias emergentes. O real tem sido uma
das moedas mais pressionadas por esses movimentos, mas sem os efeitos
dramáticos observados em países com balanços de pagamentos mais frágeis, como
Argentina e Turquia, exemplos mais evidentes até agora.
Reservas cambiais próximas
de US$ 380 bilhões têm garantido alguma segurança. Mas o BC, de acordo com seus
dirigentes, precisa de algo mais que uma forte pressão cambial para elevar os
juros básicos. A taxa será aumentada, segundo eles, só se a desvalorização do
real produzir um forte impacto inflacionário.
Os condutores da política
monetária continuam seguindo cada movimento dos mercados externos. O risco de
problemas decorrentes do câmbio parece hoje mais limitado que até há poucos
dias.
Os juros americanos devem
continuar subindo, mas há sinais de muito comedimento na execução dessa
política pelo banco central dos Estados Unidos. Os sinais estão na ata da
última reunião de política monetária. Se essa interpretação for correta, os
juros serão elevados só mais uma vez neste ano, embora alguns analistas ainda
admitam a hipótese de mais dois aumentos.
Quanto maior a moderação
nesse aperto, mais espaço terá o BC brasileiro para retardar uma nova elevação
da taxa Selic. Do lado da Europa, o risco de um aperto sensível continuará
muito baixo por um longo período, segundo as últimas indicações do Banco
Central Europeu (BCE).
Feito o balanço, as
maiores ameaças à estabilidade de preços e de juros no Brasil são mesmo
internas. A pouco mais de um mês da eleição, grandes sustos ainda podem
ocorrer.
Portal Estadão, em
24/08/2018
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