Nelson Motta
Com a participação de todas as suas correntes internas na
discussão dos programas do partido e na ocupação de cargos de governo, com suas
assembleias intermináveis, o PT sempre se orgulhou de sua democracia interna,
de ser um partido sem caciques — embora comandado por Lula e José Dirceu.
Lula sempre mandou no partido, nas executivas, nos
diretórios, nas assembleias, em Dirceu, mas reinava principalmente nos
comícios, insuperável com sua inteligência, seu histrionismo, sua malandragem
política e suas bravatas que incendiavam a militância. Que partido não gostaria
de ter um líder com o carisma e a personalidade de Lula?
O lado ruim de ter um líder carismático absoluto,
cultuado e incontestável é depender de suas decisões pessoais, de acordo com as
suas conveniências de momento.
Ao indicar no “dedaço” Dilma Rousseff para presidenta,
enfrentando profundas e fundadas resistências no partido, afinal o DNA dela era
brizolista, assumiu o seu maior risco — e conquistou a sua maior vitória.
Depois, para eleger Fernando Haddad prefeito de São Paulo, chegou a fazer uma
aliança e posar ao lado de Maluf, para estupor dos petistas de todas as
correntes. E, cheio de orgulho e certeza, cunhou uma de suas grandes frases:
“De poste em poste vamos iluminando o Brasil”.
Se houvesse democracia interna no PT, com convenções para
escolher candidaturas, em 2014 Lula teria sido aclamado pelo partido para a
sucessão de Dilma e massacraria Aécio Neves. Mas, assim como a havia escolhido
imperialmente, Lula teria que discutir com a rainha, só com ela, a sua
sucessão.
Aquela meia hora decisiva em que os dois se trancaram em
uma sala, e Lula saiu abatido e Dilma candidata à reeleição, mudou o rumo do PT
e a História do Brasil. No momento em que sua força, sua experiencia e sua
inteligência foram mais necessários, Lula piscou. E Dilma ganhou no grito,
rompendo o acordo de o poste devolver-lhe o trono depois de quatro anos.
O resto é história, com as consequências funestas que
teve para o Brasil, para o PT e para Lula, porque um grande líder popular quase
religioso e infalível falhou num momento fatal.
Publicado no portal do jornal O Globo em 04/05/2018
Nenhum comentário:
Postar um comentário