Ministro Gilmar Mendes (STF) - Foto: Estadão/Reprodução |
Demorou, mas a teia de corrupção na Petrobras, desvendada
a partir da Lava Jato, e que já levou tanta gente pra cadeia no Rio de Janeiro
e em Curitiba, começa a abalar o establishment político de São Paulo.
Principal reduto do PSDB, o Estado mal aparecia nas
denúncias mais cabeludas de propinas, cartéis, fraudes em licitações, lavagem
de dinheiro ou caixa dois de campanha.
Foi a partir da delação da Odebrecht que a documentação
contra alguns caciques tucanos começou a criar corpo.
Mencionados por nada menos que sete delatores da
empreiteira, o senador José Serra e o ministro das Relações Exteriores, Aloysio
Nunes Ferreira, são, hoje, alvo de inquérito no Supremo.
Relatoria: ministro Gilmar
Mendes.
Outro personagem chave acusado pelos mesmos delatores,
porém, não tem foro privilegiado.
Trata-se de Paulo Vieira de Souza, antigo assessor de
confiança de Serra e de Aloysio, que por muitos anos foi diretor da Dersa
(rodovias São Paulo).
Mais conhecido no partido pelo apelido de Paulo Preto,
foi preso em 6 de abril, por ordem da juíza Maria
Isabel do Prado, da 5a. Vara Federal de São Paulo, e a pedido da força tarefa
local da Lava Jato.
Recaem sobre ele graves suspeitas de roubo de dinheiro
público.
A prisão preventiva, segundo a magistrada, é necessária
para que 17 testemunhas, algumas funcionárias da Dersa, possam prestar
depoimentos com tranquilidade, sem risco de ameaças.
(Não seria a primeira vez que Paulo Preto recorreria a
avisos sinistros. Em 2010, quando seu nome surgiu como importante
“arrecadador”de dinheiro ilegal para campanha tucana, Serra disse que não o
conhecia. O engenheiro revidou na hora com a frase: “não se deixa um líder
ferido na estrada”. Serra mudou de ideia rapidamente e disse que o conhecia, sim.)
Muito bem.
Do dia 6 de abril em diante, a decisão de Maria Isabel do
Prado foi vista e revista por nada menos que seis outros juízes. De segunda e
terceira instâncias. Todos concordaram que a prisão é necessária nesta fase do
processo.
Dá só uma olhada nessa linha do tempo, que compreende 36
dias corridos:
6 de abril: primeira instância (juíza Maria Isabel) manda
prender.
12 de abril: segunda instância, instada a rever a
decisão, deixa tudo igual. Por ordem do desembargador André Nekatschalow,
Tribunal Regional Federal da 3.ª Região.
13 de abril: o pedido de liberdade chega ao Superior
Tribunal de Justiça, em Brasília. Um terceiro juiz, o ministro Reynaldo
Soares da Fonseca, revê os votos dos dois colegas e nega a liminar impetrada
pela defesa.
7 de maio: de novo no STJ, mais quatro magistrados, agora
no âmbito da chamada Segunda Turma, dão seus pareceres. Além de Soares da
Fonseca, pronunciam-se os ministros Félix Fischer, Jorge Mussi, Ribeiro
Dantas e Joel Ilan Paciornik.
Por 5 a zero, eles voltam a confirmar a prisão
preventiva.
Nada muda.
11 de maio: depois que sete juízes olharam os autos e
mantiveram o réu preso, Gilmar Mendes, do STF, diz que está tudo errado.
Manda soltar Paulo Preto, ordem cumprida no mesmo dia.
Um mês antes, em 11 de abril, e a propósito de outro
pedido de liberdade da turma dos corruptos, Gilmar, em mais uma de suas muitas
críticas a Sérgio Moro, saiu-se com essa: “ele pensa que fala com Deus?”
Depois de ter contrariado também o juiz Marcelo Bretas,
pondo em liberdade notórios presos muito ricos do Rio de Janeiro, o magistrado
da Suprema Corte realmente segue destemido.
O que me leva a uma singela pergunta: afinal, nesse meio
jurídico, quem será que, de fato, fala com Deus?
Você tem algum palpite?
Publicado no portal da Revista VEJA em 16/05/2018
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