O governo apura se três
movimentos políticos – “Intervenção militar já”, “Fora Temer” e “Lula livre” –
se infiltraram na paralisação dos caminhoneiros. Eles estariam alimentando os
focos que ainda querem manter os bloqueios, mesmo após ter boa parte de suas
reivindicações atendidas ou ao menos encaminhadas. Essa é uma leitura feita nas
reuniões do gabinete de crise montado pelo Palácio do Planalto na semana passada.
Os
caminhoneiros falam abertamente do problema. “Para esses que têm posição
extremista, esse ou qualquer outro acordo não iria funcionar porque a intenção
não é resolver problemas, mas criar o caos e a instabilidade”, disse o
presidente do Sindicato dos Transportadores Autônomos de Ijuí, no Rio Grande do
Sul, Carlos Alberto Litti. Para o líder gaúcho, o grupo mais resistente ao
acordo é movido “por um tema político e não econômico”.
“A pauta política existe,
mas não vamos nos envolver. Tudo o que os autônomos precisam para voltar a
ganhar dinheiro está aqui”, disse o presidente da Associação Brasileira dos
Caminhoneiros (Abcam), José da Fonseca Lopes, ao exibir o acordo firmado na
noite de domingo. Segundo líderes dos caminhoneiros informaram ao Planalto em
reunião ontem, os infiltrados somariam algo como 10% a 15% do movimento. A
informação foi recebida com irritação pelas autoridades federais,
principalmente por envolver o “Fora Temer”.
Ontem, o próprio
ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, admitiu a possibilidade de haver
infiltração política e informou que a Polícia Rodoviária Federal trabalha para
apartá-los do movimento. “A PRF conhece as estradas onde trabalha, conhece quem
é líder do movimento caminhoneiro e sabe das infiltrações políticas. Ela está
mapeando e não quer cometer nenhuma injustiça. Com muita cautela, vai começar a
separar os infiltrados.”
O
governo avalia já ter feito tudo o que estava a seu alcance para atender à
pauta dos caminhoneiros: redução da Cide e do PIS/Cofins no diesel, a promessa
de congelamento de preço por 60 dias – e depois reajustes a cada 30 dias –, a
liberação da cobrança de pedágio sobre eixo suspenso (quando o caminhão trafega
vazio e, por isso, suspende o terceiro eixo) e a reserva de 30% das cargas da
Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) para os caminhoneiros autônomos.
Mas, ao lado da pauta dos
caminhoneiros, ganhou força a pauta política. E sobre essa ainda é impossível
avaliar a intensidade e extensão do movimento. Os mais pessimistas não
descartam o risco de, havendo crescimento dessa vertente, o protesto resvalar
para algo semelhante às manifestações de 2013, quando atos que, inicialmente
tinham como questão central a reclamação contra o aumento das passagens de
ônibus ganhou dimensão muito maior.
Agência Estado
Fotos: Reprodução
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