Maria Helena R.R. de Sousa*
Fiquei surpresa com a simpática descrição que Dilma
Rousseff
fez de sua temporada como presa política.
Creio que as duas coisas. A ex-presidente Dilma Rousseff,
ao lhe ser vetada a visita ao ex-presidente Lula no prédio da Superintendência
Federal de Curitiba, logo após a prisão do petista, fez uma revelação
surpreendente:
“Eu tenho uma certa experiência com estar presa. Mesmo
durante a ditadura, havia a possibilidade de receber parentes, amigos e
advogados”. E prosseguiu na comparação com 1964: “Enquanto o golpe militar
corta pela raiz a árvore da democracia, vivemos um momento que a árvore da
democracia é comida por fungos”.
Fiquei surpresa com a simpática descrição que Dilma
Rousseff fez de sua temporada como presa política. Podiam receber parentes,
amigos e advogados, disse a inacreditável senhora. Só não explicou se essas
visitas eram recebidas nos intervalos de “quando foi torturada física, psíquica
e moralmente, o que se deu durante vinte e dois dias após o dia 16 de janeiro
de 1970 (quando foi presa)”,segundo seu testemunho durante a campanha para a
presidência da República.
Ao final do processo que sofreu no Tribunal Militar,
Dilma Rousseff foi condenada a quatro anos de prisão e a dez anos sem direitos
políticos. Sobreviveu à ditadura. Diferente foi o caso de muitos de seus
companheiros de resistência que sucumbiram na luta.
Ontem ficamos sabendo de um documento que vem desdizer
mais ainda a afirmação da ex-presidente. O memorando da CIA datado de 11 de
abril de 1974, encontrado por Matias Spektor, professor de Relações
Internacionais da Fundação Getulio Vargas, e divulgado pelo site Opera Mundi,
revela que o ditador Ernesto Geisel autorizou a manutenção da política de
execuções sumárias iniciada no governo de seu antecessor, Emílio Garrastazu
Medici. Essa política, cujo alvo eram os “subversivos” opositores do regime,
foi repassada para o sucessor de Geisel, João Batista Figueiredo.
Hoje, isso faz parte dos livros de História.
Já Lula foi preso depois de condenado por diversas vezes
e sempre tratado com respeito. Está numa sala da PF com todo o conforto e
segurança que uma prisão pode garantir. Que uma prisão brasileira pode
garantir, quero dizer. E ele sabe disso tão bem que duvido que queira ser
transferido para qualquer outro presídio.
Claro que se ele pudesse ser indultado, isso faria sua
alegria, mas ser transferido para Brasília ou São Paulo… sei não. Só se a idade
estiver mexendo com seus miolos, o que não acredito.
*Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa é professora e
tradutora, escreve semanalmente para o Blog do Noblat desde agosto de
2005.
Publicado no portal da Revista VEJA em 11/05/2018
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