É preciso superar a fase lulista*
Se tivesse um mínimo de pudor, Lula da Silva já teria há
muito tempo se retirado da vida pública. Sendo, indubitavelmente, o maior
responsável pela violenta crise moral, política e econômica que atinge o País
desde a chegada do PT ao poder, em 2003, o chefão petista deveria ter ele
próprio abreviado o sofrimento ao qual vem submetendo os brasileiros todo esse
tempo, renunciando à pretensão de se tornar novamente presidente da República.
Seria um alívio para o País, pois restituiria racionalidade ao debate das
grandes questões nacionais, hoje submetidas à incessante mistificação
lulopetista.
Mas Lula jamais trairia sua natureza nem revelaria agora
uma grandeza que nunca teve, razão pela qual ele está, como sempre, em plena
campanha à Presidência. E o mais espantoso é que, mesmo tendo feito tudo o que
fez, ele aparece como favorito nas pesquisas eleitorais. Ou seja, uma parte
considerável do eleitorado parece não se importar com o fato de Lula e seu
partido terem protagonizado o mensalão, o petrolão e a destruição da economia
do País; ao contrário, aceita como verdadeiro o discurso mendaz do demiurgo
petista segundo o qual o Brasil era uma maravilha no tempo em que o PT estava
no poder.
Por conta disso, muitos apostam que o anunciado
julgamento do petista pelo Tribunal Regional Federal da 4.ª Região, no dia 24
de janeiro, em Porto Alegre, será o grande evento capaz de livrar a sociedade
brasileira do pesadelo lulopetista. E esse clima de confronto interessa muito
aos petistas. O ex-ministro José Dirceu, condenado a mais de 30 anos de prisão
por corrupção e que aguarda julgamento de recurso em liberdade vigiada,
convocou a tigrada: “A hora é de ação, não de palavras. De transformar a fúria,
a revolta, a indignação e mesmo o ódio em energia, para a luta e o combate.
Todos a Porto Alegre no dia 24, o dia da revolta”.
É inacreditável que o País dependa da decisão de três
juízes, sobre um caso de corrupção envolvendo um apartamento no Guarujá, para
que Lula, enfim, seja alijado de uma eleição da qual ele não tem condições
morais de participar. Essa situação expõe claramente o quanto ainda falta para
que se possa dizer que o País amadureceu de fato. Em nações com democracias
sólidas e educação cívica razoável, Lula e seus associados já estariam no
ostracismo, não necessariamente como desdobramento de alguma ação judicial, e
sim como consequência da repulsa do eleitorado.
Afinal, foi sob sua influência direta que se construiu
uma ampla rede de corrupção no Congresso, à base de pagamentos mensais a
deputados, para favorecer seu governo; foi durante sua Presidência que a
principal empresa estatal do País, a Petrobrás, começou a ser destroçada pelo
PT e outros partidos integrantes da quadrilha; foi em seu governo que o Brasil,
ignorando os interesses nacionais, fechou-se a acordos comerciais com as
maiores potências do planeta, preferindo fazer negócios com países periféricos
e populistas, alinhados ideologicamente ao PT; e foi de Lula a ideia de colocar
na cadeira presidencial a neófita brizolista Dilma Rousseff, cujo nome provoca
calafrios em todos os milhões de brasileiros que sofreram as consequências de
suas desastrosas decisões econômicas.
Por esse conjunto da obra, portanto, nenhum eleitor
deveria sequer cogitar a hipótese de votar novamente em Lula. Mas ele não só
tem muitos eleitores, como lidera as pesquisas e, o que é pior, conduz os
debates para onde quer. No momento, por exemplo, Lula está em intensa campanha
para desmoralizar as reformas defendidas pelo governo de Michel Temer, ajudando
a mobilizar uma parte significativa da opinião pública contra essas urgentes
medidas. Lula sabe que as reformas são fundamentais, mas responsabilidade,
afinal, nunca foi seu forte.
Infelizmente, como se vê, o Brasil ainda não conseguiu
superar Lula. E talvez não tenha conseguido porque o petista representa o País
do assistencialismo populista, das regalias às corporações e do capitalismo sem
risco. Ou seja, um País em que uma parte considerável de seu povo e de sua
elite sonha em prosperar sem fazer força.
*Publicado no Portal Estadão em 21/12/2017
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