Alckmin por W.O.*
Sem Doria, sem Huck e com o PSDB na mão, Alckmin
vai se
tornando a opção de centro
Eliane Cantanhêde
O governador Geraldo Alckmin ganhou dois presentes ontem
para a sua corrida para a Presidência da República. Primeiro, Luciano Huck
fingiu que ia, mas não foi. Depois, os tucanos Tasso Jereissati e Marconi
Perillo abriram mão da presidência do PSDB para ele. Sem João Doria, sem Huck e
com o partido na mão, o caminho de Alckmin para 2018 fica bem mais fácil.
Agora, falta combinar com outro tipo de adversário: os
eleitores. Alckmin tem deixado clara desde o início a intenção de concorrer e
tem trunfos nada desprezíveis: o recall de 2006, o governo do principal Estado,
o fato de São Paulo ter sobrevivido à crise um tanto melhor do que os outros e
uma preferência no PSDB que Doria nunca chegou a de fato ameaçar. Mas, apesar
de todas essas vitrines, ele não deslancha nas pesquisas. Equivale a dizer que
não convence?
Afoito, audacioso, Doria chegou a ultrapassar os índices
de Alckmin ao se apresentar como “o novo” e sair viajando pelo País, mas foi
com muita sede ao pote. Acabou perdendo fôlego e ressaltando qualidades do
governador e padrinho, como a prudência.
Como mostrou claramente a pesquisa Barômetro Político
Estadão-Ipsos, Doria murchou, mas a ansiedade da sociedade pelo “novo”
continuou e Huck ocupou o espaço. Não se tratava de pesquisa de intenção de
votos, mas de aprovação e desaprovação, e Huck disparou depois de dar claros
sinais de ter sido mordido pela mosca azul. Suas conversas políticas, sua opção
pelo PPS, sua adesão a movimentos como o Agora! e o RenovaBR, tudo isso animou
não apenas agentes políticos, mas a opinião pública.
Nessa fase, valiam o “se colar, colou” e o “falem mal,
mas falem de mim”. Muitos falaram mal e Huck não resistiu à pressão – ou à
tensão. Quando escrevi que sua eventual candidatura estava deixando de ser
brincadeira e virando coisa séria, não negou, mas ressalvou que “não estava na
hora de assoprar a brasa”. E quando o PPS parecia criar um fato consumado,
avisou: “De fato, tenho me mexido para entender o tamanho da encrenca, mas daí
a mudar os rumos da minha vida vai uma boa distância”.
Ao saber da pesquisa Estadão-Ipsos, Huck deixou uma
fresta: “Tenho responsabilidade, não vou ficar impassível diante do retrocesso,
dos dois extremos (Lula e Bolsonaro)”. Mas, no mesmo dia, começou a redigir o
artigo que acabou divulgando ontem e que termina com uma outra disposição de
luta: “Contem comigo, mas não como candidato a presidente”.
Pesaram na decisão o fator família, o fator salário e o
fator zona de conforto. Celebridades são retratadas pela mídia alegres e
felizes. Políticos têm suas vidas devassadas. Convenhamos, não é, ou não seria,
uma troca atrativa.
É assim que o roteiro da eleição de 1989 vai se
reproduzindo na de 2018. Uma foi a primeira eleição direta após um longo e
tenebroso inverno. Deu em Collor. A outra está refletindo a descrença com a
política tradicional e a busca por novas formas e novos nomes. Mas o risco é
dar justamente numa das principais estrelas da Lava Jato ou num novo
aventureiro.
Listam-se Marina e Ciro, ora Joaquim Barbosa, ora Doria,
ora Huck, mas, assim como em 1989, as pesquisas vão cristalizando Lula, uma
candidatura incerta e não sabida, e Bolsonaro, que enfrenta fortes e mais do
que compreensíveis resistências. Alckmin pode não ser um salvador da Pátria,
mas vai se consolidando menos pelas qualidades, mais pelos defeitos e ameaças
dos rivais.
Outra visão. Sem querer responder à ministra Cármen
Lúcia, mas já respondendo, o ex-presidente do STF Carlos Ayres Britto tomou
partido contra a decisão das medidas cautelares para parlamentares: “A
separação entre os Poderes precede a harmonia, que é justamente resultado da
separação”.
*Publicado no Portal Estadão em 28/11/2017
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