O que estará em jogo em 2018*
Ainda é cedo para fazer a lista das pré-candidaturas à
Presidência da República que ocupam as páginas dos jornais quase todos os dias
e pautam acalorados debates entre os seus prosélitos nas redes sociais. Muitas
não sobreviverão aos atritos do tempo. Para o grau de volatilidade da política
brasileira, um ano é tempo demasiadamente longo para sustentar inalteradas as
variáveis complexas do quadro partidário e eleitoral.
Mas, independentemente dos nomes que estarão sob o
escrutínio da sociedade em 2018, é possível afirmar que a disputa de fundo a
ser travada nas urnas no ano que vem será entre realidade e ficção, fatos e
narrativas, notícias e fake news, racionalidade e paixão.
Evidentemente, tal dicotomia não será inédita. Porém, é
certo que no próximo pleito ela será exacerbada diante das fissuras no tecido
social provocadas pela radical polarização adotada como política de governo
durante 13 anos pelo lulopetismo.
A massificação do acesso às redes sociais também não é um
fenômeno novo, mas a cada eleição torna o ambiente digital cada vez mais relevante
como espaço para a promoção do debate público. Não é por outra razão que as
redes têm servido como meios preferenciais para a propagação de mentiras e
distorções, justamente por não serem dotadas dos mecanismos de apuração e
controle de qualidade de que dispõem os veículos de comunicação ditos
tradicionais.
Os eleitores também estarão mais suscetíveis a entrar em
falsos debates sobre falsas questões, promovidos em boa medida pelos chamados
robôs, contas automatizadas nas redes sociais que servem para manipular e
direcionar o debate político na internet, aumentando artificialmente a
popularidade de determinadas pessoas ou a importância de certas “causas”.
Estes dois fatores, vale dizer, a forte polarização
política e o aumento da relevância das redes sociais como espaço público,
aliados à pulverização das candidaturas e à descrença generalizada da sociedade
em relação aos políticos, formam o adubo ideal onde vicejam as mentiras e
dissimulações que empobrecerão, e muito, o debate eleitoral de 2018.
E não é preciso esperar tanto tempo para chegar a tal
conclusão. Basta observar o que andam dizendo os dois pré-candidatos à
Presidência que, no momento, lideram as pesquisas de opinião.
Em entrevista a uma rádio de Goiás na quinta-feira, o
ex-presidente Lula da Silva disse que “quem salvou o Brasil uma vez pode salvar
o Brasil de novo”. Primeiro, é sempre bom lembrar que suas afirmações como
eventual candidato à Presidência devem ser tomadas com parcimônia, não só por
seu histórico de mentiras, mas por uma incerteza jurídica. Condenado a 9 anos e
6 meses de prisão pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, Lula
da Silva só poderá ser candidato caso não seja condenado em segunda instância.
Logo, trata-se de uma fala marcada por dúvidas. Mas apenas à guisa de
argumentação caberia indagar que Brasil o sr. Lula da Silva precisou salvar e
qual ele se julga em condições de salvar novamente caso possa ser candidato e
então eleito.
A quantidade de indicadores sociais e econômicos que hoje
atestam o franco processo de recuperação do País após o desastre das
administrações petistas é tal que somente por má-fé ou desinformação podem ser
negados.
Já Jair Bolsonaro, que tem escrito cartas aos cidadãos
brasileiros para tentar transmitir a ideia de que representará uma candidatura
“liberal”, nada de concreto tem a apresentar que corrobore as suas versões dos
fatos. Sua atuação como parlamentar mostra exatamente o contrário, um político
populista e pouco afeito a medidas econômicas que levem a um equilíbrio das contas
públicas. Além disso, sua retórica é tipicamente autoritária.
O futuro do País estará em jogo nas eleições de 2018.
Diante de um ambiente pantanoso, em que verdade e mentira serão contrapostas o
tempo inteiro, a maturidade dos eleitores em dissociar dados e paixões também
estará sob escrutínio.
*Publicado no Portal Estadão em 27/11/2017
Nenhum comentário:
Postar um comentário