O Rio de Janeiro chora*
Governadores, secretários, deputados, membros do TCE,
empresários... Quem escapa?
Eliane Cantanhêde
Aos que até hoje condenam a transferência da capital da
República, ironizam a “ilha da fantasia” e imaginam que Brasília é a origem de
todos os males e o centro da corrupção brasileira: já imaginaram se a capital
continuasse no Rio de Janeiro?
A Lava Jato explodiu esquemas em vários Estados do País,
inclusive no DF, mas nada tão avassalador quanto no Rio, pela abrangência,
pelos valores e pela diversidade de órgãos, partidos, personagens. Onde o MP, a
PF e a Justiça mexem, há escândalos. Nada escapa.
O símbolo disso é o ex-governador Sérgio Cabral, que se
arvorava até candidato à Presidência da República, enquanto dilapidava o
patrimônio público e vivia como magnata com sua mulher, Adriana Ancelmo. Só
faltou um apartamento com R$ 51 milhões em dinheiro vivo.
Não escapam nem os secretários de Cabral, nem mesmo
Sérgio Côrtes, da Saúde. Da Saúde!!! Mas o Rio não tem só um, mas pelo menos
três ex-governadores enrolados. Além do megalomaníaco Cabral, estão na mira
Anthony e Rosinha Garotinho que, diante do sucessor, parecem ladrões de
galinha, mas também são de colarinho-branco e têm fama de espertos.
Os desmandos no Rio, que continua lindo, não se resumem
ao Executivo. O presidente da Assembleia Legislativa, Jorge Picciani, foi preso
com dois outros deputados estaduais e é a ponta de um iceberg. Dá para imaginar
as falcatruas na Alerj? E na família Picciani? São três filhos: Leonardo,
ministro de Dilma e de Temer, Rafael, deputado estadual, e Felipe, empresário,
que também foi preso. Agora, é saber se os pares dos Picciani na Alerj vão
impedir a prisão do chefão. Chegariam a tanto?
É também do Rio o ex-presidente da Câmara dos Deputados
Eduardo Cunha, um outro peixe graúdo a cair na rede da Lava Jato na Baía da
Guanabara e agora passando um tempo em Curitiba. Mas grandes, médios e pequenos
empresários brilham nesse cardume.
Como o espaço é curto, fiquemos nos grandes, como Eike
Batista, do grupo X, e Jacob Barata Filho, o “rei do ônibus”. E o
vice-almirante da reserva Othon Silva, que presidiu a Eletronuclear, controlada
pela Eletrobrás? Difícil entender como alguém que entraria para a História como
pai do programa nuclear brasileiro joga tudo no lixo por corrupção, pelo vil
metal.
O que dizer do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro
(Comperj), que, de acordo com o TCU, gerou um prejuízo de US$ 12,5 bilhões à
Petrobrás? A própria Petrobrás, aliás, tem sede no Rio, uma coleção de
ex-diretores e gerentes condenados e três ex-presidentes respondendo por
corrupção e/ou má gestão, como Aldemir Bendine, que Dilma tirou do Banco do Brasil
e jogou na petroleira, apesar da Lava Jato e da má fama do nomeado.
E já que se falou de TCU, que tal o Tribunal de Contas do
Estado do Rio de Janeiro (TCE-RJ)? Dos sete conselheiros, cinco, inclusive o
presidente, Aloysio Neves, são acusados de corrupção pela Operação O Quinto do
Ouro, por aceitarem propinas à época do governo Sérgio Cabral. A eles se junta
mais um ex-conselheiro. Por enquanto...
Haveria ainda muito a dizer sobre o passado macabro do
lindo Estado do Rio, mas é preciso também refletir sobre o presente e o futuro.
No presente, o governador Pezão negocia dívidas com o mesmo empenho com que
precisa se descolar do padrinho Cabral. E o futuro é incerto e não sabido, com
Eduardo Paes, César Maia e Rodrigo Maia, todos três batendo na trave da Lava
Jato e seus desdobramentos.
Enquanto isso, quem sofre é a população carioca, sem
salários, sem 13.º, sem saúde e educação e ameaçada por ladrões e assassinos
sanguinários. Nem uma inofensiva moradora de rua escapou da barbárie. Só falta
o Cristo Redentor chorar.
*Publicado no Portal Estadão em 17/11/2017
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