Das cuecas aos contêineres*
Encurralados, corruptos passam a guardar dinheiro
sujo em
apartamentos e até contêineres
Eliane Cantanhêde
Ao estourar o apartamento com os R$ 51 milhões do
ex-ministro e agora presidiário Geddel Vieira Lima, a Lava Jato chegou a uma
outra frente de investigações: essa nova forma de guardar dinheiro sujo está
longe de ser exclusividade de Geddel e tende a produzir escândalos e fotos
espetaculares desde já e principalmente nas eleições de 2018. Nem doleiros, nem
laranjas, nem contas no exterior, nem paraísos fiscais. A moda agora é esconder
dinheiro vivo em apartamentos, casas, depósitos e... contêineres.
Os investigadores esfregam as mãos diante da delação do
ex-poderoso Antonio Palocci, ansiosos para ele entregar onde estaria, afinal, a
dinheirama que delatores atribuem ao ex-presidente Lula. A expectativa é de que
esteja não em um contêiner só, mas em contêineres, no plural, nos países em que
Lula atuava com as empreiteiras – por exemplo, na África e na América Latina.
Lembram dos dólares bolivarianos dando sopa por aí? Sem contar o que pode estar
em solo nacional, muito além das aplicações de R$ 9 milhões do
ex-presidente que têm origem clara e legal.
Segundo Marcelo Odebrecht e o próprio Palocci, era o
ex-ministro, e só o ex-ministro, quem gerenciava os milhões da conta pessoal do
“Amigo” Lula, cuidando da contabilidade de entradas e saídas, das retiradas em
dinheiro vivo, dos envios até Lula. Quando os também ex-ministros Guido Mantega
e Paulo Bernardo tentaram entrar na operação, Marcelo rechaçou. Quem metia a
mão no dinheiro de Lula era Palocci, hoje o principal algoz do chefe.
A primeira impressão, quando surgiu o inacreditável
bunker de Geddel, foi a de que se tratava de uma mania individual e patológica
de roubar e amontoar dinheiro num apartamento usado especificamente para esse
fim. Depois, foi ficando claro que a fortuna não era só de Geddel, como a
prática não ficava restrita a ele, sua família e o PMDB.
Os corruptos e corruptores começaram a se sentir
encurralados pelos vários e efetivos acordos entre a PF e o MP com seus
correspondentes na Suíça, no Uruguai, nos EUA... e isso piorou com as novas
regras de transparência na Europa para depósitos de estrangeiros. O dinheiro
sujo ficou facilmente rastreável, não é, Eduardo Cunha? Ele dizia que nunca
teve conta no exterior. A Suíça dizia que tinha e comprovou com contas e
extratos. A mentira ruiu, a carreira política de Cunha também.
Além disso, os principais operadores estão presos, a
começar por Marcos Valério, Alberto Youssef e Lúcio Funaro, e os outros andam
de barbas de molho. Quem vai lavar o dinheiro? Enviá-lo para o exterior? Servir
de laranja? Daí porque a PF acha que a descoberta dos R$ 51 milhões de
Geddel é um veio de ouro. Basta procurar para achar outros apartamentos,
depósitos e contêineres que seus donos julgam mais seguros do que operações
obsoletas, malas e cuecas. Só questão de tempo.
A maior festa de novos “apartamentos do Geddel”, porém,
deverá ser em 2018. As campanhas continuam pela hora da morte, mas as fontes
tradicionais (empreiteiras, JBS...) secam, as regras estão mais rígidas e a PF
e o MP estão na espreita. Sem falar que os vizinhos, como no caso de Geddel,
estão na onda de denunciar movimentos suspeitos. Coitados dos corruptos. A vida
deles está cada dia mais difícil.
Dobradinhas. Gilmar e Marco
Aurélio, PT e PSDB... São curiosas as alianças contra a decisão do STF de
prender Aécio Neves sem prender, inventando a figura da prisão preventiva
domiciliar, como diz Marco Aurélio. Além das dúvidas jurídicas, há o sentido de
autopreservação no Congresso: hoje é Aécio, amanhã pode ser qualquer um. Os
senadores deram um tempo ao STF: ou o plenário da Corte derruba a decisão, ou o
plenário do Senado vai fazê-lo.
*Publicado no Portal Estadão em 29/09/2017
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