O ex-diretor da Petrobras Renato Duque afirmou nesta sexta-feira em depoimento ao juiz Sergio Moro que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tinha conhecimento do esquema de propinas na Petrobras e que comandava tudo. Segundo Duque, Lula teria dito que ele não podia ter contas no exterior. O ex-presidente quis saber detalhes para onde foi mandado o dinheiro referente às propinas dos contratos de sondas da Petrobras com a Sete Brasil, e recomendou: "Você não pode ter contas no exterior, entendeu?", teria dito Lula, segundo Duque ao relatar um encontro com o ex-presidente, em julho de 2014, num hangar da TAM no aeroporto de Congonhas, em São Paulo. Em nota, o ex-presidente diz que o depoimento de Duque é mais uma tentativa de fabricar acusações contra ele.
— No último encontro em 2014, já com a Lava Jato em andamento, ele (Lula) me chama em São Paulo. E tem (comigo) uma reunião no hangar da TAM em Congonhas. E ele me pergunta se eu tinha uma conta na Suíça com recebimentos da empresa SBM. Disse que a então presidente Dilma tinha recebido a informação de que um ex-diretor da Petrobras teria recebido dinheiro numa conta na suíça dessa SBM. Eu falei não, nunca recebi dinheiro da SBM. Aí ele vira pra mim e fala assim: ‘E das sondas, tem alguma coisa?’ E tinha, né? Ele falou assim: ‘Olha, presta atenção no que vou te dizer. Se tiver alguma coisa, não pode ter. Não pode ter nada no teu nome, entendeu?’ Eu entendi. Mas o que eu iria fazer? — disse Duque a Moro.
Ele tinha conhecimento de tudo
Segundo Duque, Lula teria dito que iria conversar com a presidente Dilma, que estaria preocupada com esse assunto.
— Nessas três vezes (três encontros com Lula) ficou claro para mim
que ele (Lula) tinha o conhecimento de tudo e que detinha o comando.
Enquanto explicava sobre propinas que recebia quando era diretor,
o juiz quis saber quem tinha conhecimento a respeito do funcionamento do
esquema dentro do PT. Duque foi direto:
— Todos sabiam. Todos do partido, desde o presidente do partido,
tesoureiro, secretário, deputado, senadores. Todos sabiam que isso ocorria.
Parte para PT, restante para Lula e Dirceu
Duque contou que, na negociação das sondas, João Vaccari perguntou a Pedro Barusco como estava a questão da participação das empresas no "dinheiro ilícito". Barusco teria dito que tinha fechado com todos os estaleiros uma participação de 1% (de propina) no valor dos contratos, à exceção dos estaleiros Kepper e Jurong, que teriam acertado percentual de 0,9%. Na conversa, Barusco teria proposto a divisão meio a meio — metade para "Casa" (os executivos da Sete Brasil e da Petrobras), e metade para o PT.
— Pela primeira vez em todos esses anos, o Vaccari não deu posição
final. Neste assunto específico vou consultar o "doutor", essa era a
forma que ele se referia a Palocci. Porque o Lula encarregou o Palocci de
cuidar desse assunto — relatou Duque.
Segundo Duque, Vaccari teria informado que a divisão seria um
terço da propina das sondas seria para "casa" e dois terços para o
PT. Na ocasião, Duque disse que Vaccari o informou que, da parte do PT, uma
parcela ficaria com o partido e o restante para Dirceu e Lula, sendo que a
parte do Lula seria gerenciada por Palocci.
— Na época eu conversei com Barusco e passei essa informação para
ele. Falei que ele não estava lidando com peixe pequeno.
Esquema envolvia Paulo Bernardo
Duque contou também ter sido chamado a Brasília em 2007, pelo então ministro Paulo Bernardo, que teria lhe dito que ele passaria a ser procurado por uma pessoa, que cuidaria de receber a propina das empresas. A partir de então, explicou, passou a ser procurado por João Vaccari Neto, que assumiu também como tesoureiro do PT.
— A partir de então passei a ser procurado por Vaccari, que tinha
uma capacidade tão grande de interlocução, que às vezes ele sabia muito mais de
resultado de licitação do que eu mesmo - disse Duque, acrescentando que Vaccari
normalmente já sabia quem havia ganhado a licitação e procurava diretamente as
empresas - nem sempre precisava que ele, como diretor da Petrobras, lhe
passasse as informações.
Sou um ator pequeno
Esta é a primeira vez que Duque fala a Moro. O ex-diretor da Petrobras já foi condenado na Lava-Jato e tenta fechar acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal.
— Queria deixar claro, meritíssimo, que cometi ilegalidades. Quero
pagar pelas ilegalidades, mas pelas ilegalidades que eu cometi. Sou ator, tenho
um papel de destaque nessa peça, mas eu não fui nem o diretor, nem o
protagonista dessa história. Quero pagar pelo que eu fiz. Hoje já estou há mais
de dois anos e dois meses em prisão preventiva — disse Duque, acrescentando que
pretende fazer uma delação premiada:
— Quero disponibilizar todas as provas que eu tiver. Eu estou aqui
para passar essa história a limpo. Hoje eu sou o preso com mais tempo, isso tem
a decorrência de um sofrimento pessoal, mas principalmente da família, então
era isso que eu queria falar.
Agência Globo
Nenhum comentário:
Postar um comentário