PF: Depoimento de Lula é contraditório
Relatório da Polícia Federal aponta que declarações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em depoimento à Operação Aletheia, em 4 de março deste ano, vão ’em sentido contrário’ a mensagens apreendidas pela Lava Jato. Naquela ocasião, Lula foi levado para depor obrigatoriamente pela PF, no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, e afirmou não conhecer o executivo Paulo Gordilho, ligado à empreiteira OAS.
Gordilho é um dos alvos nas investigações envolvendo o
pagamento de benfeitorias no Sítio Santa Bárbara, em Atibaia (SP), e no tríplex
do Edifício Solaris, no Guarujá, que para a força-tarefa da Lava Jato são de
Lula. Além de ser a dona do tríplex no Guarujá, a OAS – junto a Odebrecht –
teria feito obras na propriedade rural em Atibaia.
No documento, de 22 de junho deste ano, a PF destacou a
troca de mensagens entre Paulo Gordilho, sua filha, Isnaia e Léo Pinheiro, dono
da OAS. O relatório confrontou os diálogos com o depoimento de Lula em 4 de
março.
“Na ocasião, em um dos momentos Lula revela que não
conhece o senhor Paulo Gordilho, ex-diretor da OAS Empreendimentos, declaração
esta que vai em sentido contrário do contexto da troca de mensagens inseridas,
uma vez que pelo teor dessas mensagens era possível notar que havia alguma relação
de proximidade entre Paulo Gordilho e o ex-presidente Lula”, aponta a Federal
no documento.
No depoimento, o delegado questiona Lula: “O senhor
conhece o senhor Paulo Gordilho, ex-diretor da OAS Empreendimento?”
O petista afirma. “Por nome não, mas…”
O delegado, então, retorna a pergunta. “Não? O Paulo
Gordilho, não?”
Lula responde fazendo ‘sinal negativo com a cabeça’,
segundo o depoimento.
“O senhor conhece algum ex-diretor da OAS?”, questiona o
delegado.
“Não”, afirma Lula.
O delegado, em outro trecho do depoimento, pergunta
novamente a Lula. “Esse Paulo Roberto Valente Gordilho, ex-diretor da OAS, que
eu lhe perguntei, o senhor sabe dizer se ele tinha alguma relação com esse
imóvel (tríplex do Guarujá), tinha alguma coisa lá?”
“Não”, diz o petista.
No relatório, a PF destacou mensagens em que Paulo
Gordilho conta à filha sobre um encontro em Atibaia “na fazenda de Lula”.
Estariam presentes o próprio Paulo Gordilho, Léo Pinheiro, Lula e a
ex-primeira-dama Marisa Letícia, ‘para tratarem de assuntos de arquitetura
relacionados “a casa e na lagoa que está vazando”, como explica o próprio Paulo
Gordilho à sua filha nas mensagens’.
“Além disso, Paulo Gordilho conta que haverá um segundo
encontro com Dona Marisa no decorrer daquela semana para tratarem dos mesmos
assuntos. Vale destacar também que Paulo Gordilho tem demasiada preocupação com
o sigilo do encontro, pedindo à sua filha o “sigilo absoluto” do mesmo. Dessa
forma, as mensagens demonstram a atuação de Paulo Gordilho, e consequentemente
da Construtora OAS, em obras realizadas no sítio em Atibaia/SP,
indicando ainda a ciência por parte do ex-presidente Lula acerca do assunto, pois em certo trecho da conversa Paulo Gordilho escreve “Ele quer uma coisa e Marisa quer outra e lá vai eu e o Léo dar opinião”, além de citar o encontro entre os mesmos”, relata o documento da Federal.
indicando ainda a ciência por parte do ex-presidente Lula acerca do assunto, pois em certo trecho da conversa Paulo Gordilho escreve “Ele quer uma coisa e Marisa quer outra e lá vai eu e o Léo dar opinião”, além de citar o encontro entre os mesmos”, relata o documento da Federal.
A análise da PF indica ainda que em outro trecho do
depoimento à PF, em 4 de março, Lula declara que ele e Léo Pinheiro estiveram
apenas uma vez visitando o sítio em Atibaia, em um churrasco.
“Informação esta que coincide com o contexto da troca de
mensagens entre Paulo Gordilho e sua filha, Isnaia quando na ocasião – troca de
mensagens – Paulo Gordilho comunica sua filha que vai à Atibaia em um churrasco
e que seria “na fazenda da Lula” e que estariam presentes ele, Léo Pinheiro e o
próprio Lula”, registra a Federal no relatório.
“Nesse sentido, mais uma vez as declarações de Lula – de
que não conhece Paulo Gordilho – vão de encontro ao contexto das mensagens
trocadas entre Paulo Gordilho e sua filha.”
A Federal destaca também no relatório que em outro
momento do depoimento, ‘quando questionado se Paulo Gordilho teria alguma
relação com o tríplex no Condomínio Solaris localizado no Guarujá, Lula
responde negativamente’.
“De forma que, mais uma vez, as declarações são no
sentido contrário dos fatos, pois em troca de mensagens entre Paulo Gordilho e
Léo Pinheiro, quando este questiona Gordilho se o projeto da cozinha do Guarujá
estaria pronto, Paulo Gordilho responde de forma afirmativa”, anota a PF no
relatório.
Segundo a PF, as mensagens capturadas apontam ‘a
participação de Paulo Gordilho, Léo Pinheiro – e consequentemente da
Construtora OAS – em projetos de cozinha instalados em imóveis localizados nas
cidades do Guarujá e de Atibaia, ambos no estado de São Paulo, fazendo
referência, possivelmente, ao sítio em Atibaia e ao apartamento 164-A
localizado no Condomínio Solaris no Guarujá’.
“É destacado também que os termos “chefe” e “madame” são
referências ao ex-presidente Lula e sua esposa Marisa Letícia. Nesse sentido e
levando-se em conta o teor das mensagens abaixo, causa estranheza o fato de ser
necessária a concordância – o que de fato ocorreu – por parte de Lula e Marisa
nos referidos projetos, já que, conforme suas declarações, não seriam eles os
reais proprietários dos imóveis”, indica o relatório da PF.
Outro laudo da Polícia Federal, anexado aos autos da Lava
Jato no fim de julho, destaca uma foto de um encontro entre Paulo Gordilho e
Lula em fevereiro de 2014.
“Bebemos eu e ele uma garrafa de cachaça da boa Havana
mineira e uma (sic) 15 cervejas.” A frase é do arquiteto da empreiteira OAS
Paulo Gordilho.
O encontro regado na cachaça teria ocorrido no dia 9 de
fevereiro de 2014, na área de churrasqueira da propriedade. Segundo o laudo,
foram encontradas 10 fotos com registro da reunião no sítio de Atibaia. “Tais
registros são condizentes com o conteúdo das comunicações identificadas no
Relatório 329/2016.”
Agência Estado