De puxadinho, Cardozo comanda tática do PT
Advogado da presidente afastada Dilma Rousseff, o
ex-ministro José Eduardo Cardozo (PT) desempenha um papel de maestro dos
senadores petistas na sessão final do julgamento do impeachment, iniciada nesta
quinta-feira no Senado. Tal qual um treinador de equipe olímpica, reúne
constantemente os senadores ao seu redor e dita a tática de atuação petista nos
intervalos.
O ex-ministro e ex-advogado-geral da União transformou o
espaço reservado à defesa em um “puxadinho” do plenário, aglomerando
bancos de madeira ao redor da bancada e pilhas de papeis no chão. Cardozo está debruçado sobre um notebook,
inúmeras pastas sobre a ação contra Dilma, livros de Direito, o Código de
Processo Penal e a Constituição Federal. A toda hora faz telefonemas e digita
mensagens pelo WhatsApp.
Cardozo está acompanhado do coordenador jurídico do
PT e de campanhas de Dilma, Flavio Caetano, e de ex-auxiliares no Ministério da
Justiça, como Gabriel Sampaio, que o assessorou para assuntos
legislativos. Sampaio, por exemplo, também partiu para o corpo a corpo e
se aproximou das senadoras Lídice da Mata (PSB-BA) e Vanessa Grazziotin
(PCdoB-AM) para orientá-las.
A primeira vitória do braço-direito de Dilma foi
conseguir impugnar o depoimento do procurador de Contas Júlio Marcelo de
Oliveira como testemunha. Uma pergunta do advogado fez o procurador admitir que
compartilhou postagem em seu Facebook pessoal convocando ativistas para uma
manifestação pela rejeição das contas de Dilma. O presidente do Supremo
Tribunal Federal (STF) e do julgamento do impeachment, Ricardo Lewandowski,
considerou que ele caiu em suspeição e dispensou o depoimento como testemunha,
rebaixando Julio Marcelo à condição de informante, cujo valor de prova
difere por não ter compromisso de dizer a verdade, nem de ser imparcial.
Senadora Katia Abreu e José Eduardo |
Em seguida, Cardozo combinou a estratégia com os
senadores petistas que se acercaram para ouvi-lo, como Lindbergh Farias (RJ),
Humberto Costa (PE) e Jorge Viana (AC), além de agregados como Randolfe
Rodrigues (Rede-AP) e Kátia Abreu (PMDB-GO): não fazer nenhuma pergunta ao
procurador, mas gastar o tempo para tecer comentários contra a procedência da
denúncia. “Júlio Marcelo é suspeito, parcial. Não vamos mais fazer pergunta
para informante”, comemorou Lindbergh. “O principal ator desse processo foi
considerado suspeito pelo presidente do Supremo, porque tem papel de
magistrado, não poderia tomar parte. O procurador foi transformado num cagueta,
num X-9”, disse a VEJA Jorge Viana, dando mostras do discurso petista de
parcialidade no processo. O vice-presidente do Senado depois sentou-se ao lado
de Cardozo para chancelar o novo adjetivo de Julio Marcelo.
A ação combinada entre a tropa de Dilma acabou sendo
freada por Lewandowski. Ao dedicar seu tempo de questionamentos apenas para
manifestações genéricas, a senadora Vanessa
Grazziotin acabou interrompida pelo presidente do STF, reprovando a
estratégia petista de procrastinar.
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