Um país pior para todos*
Da devastação social legada ao País pelo fracasso da
administração lulopetista – liderada no seu final pela presidente afastada
Dilma Rousseff – pode se dizer que foi democrática: afetou duramente a vida dos
brasileiros de todas as faixas de renda, independentemente da origem de seu
rendimento. O Brasil ficou mais pobre e a vida piorou para todos. A Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) realizada pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE) constatou que, em 2015, pela primeira vez em 11
anos, o rendimento real médio da população encolheu. A perda de rendimentos foi
generalizada, tanto por fonte como por nível de renda. Tanto os que ganham pouco
como os que ganham muito tiveram, no ano passado, rendimento médio menor do que
o obtido um ano antes em valores reais.
Entre 2014 e 2015, o rendimento médio de todas as fontes
– que, além do trabalho, incluem aposentadorias, demais benefícios sociais, recebimento
de aluguéis e juros, entre outros – caiu de R$ 1.845 para R$ 1.745, com redução
de 5,4%. O rendimento de todos os trabalhos diminuiu 5,0%, de R$ 1.950 para R$
1.853. O rendimento domiciliar caiu ainda mais, de R$ 3.443 para R$ 3.186, uma
redução de 7,5%, porque, além da redução da renda real dos residentes no
domicílio que mantiveram sua fonte, cresceu em media o número de pessoas
desempregadas, isto é, sem nenhuma renda.
Também pela primeira vez em 11 anos diminuiu o número de
pessoas com alguma ocupação remunerada. Em 2015, a população ocupada perdeu 3,8
milhões de pessoas, uma redução de 3,9%. Esta é a medida mais dramática do
impacto da recessão sobre o mercado de trabalho. Entende-se, com dados como
esse, por que o número de desempregados no País, aferido mensalmente pela Pnad
Contínua – outra pesquisa realizada pelo IBGE –, já ultrapassa 12 milhões.
Além do drama social que um número dessa ordem de
grandeza gera, há ainda uma séria consequência do desemprego para as contas
públicas. Cai o número de contribuintes do sistema previdenciário, o que agrava
ainda mais seu desequilíbrio financeiro. No ano passado, 2 milhões de pessoas
deixaram de contribuir para o INSS.
Entre os grupos de atividade, a indústria foi o mais
afetado, com o fechamento de mais de 1 milhão de postos de trabalho no ano
passado. Entre os que se mantiveram ocupados, diminuiu a participação dos
empregados (de 61,3% para 60,6%) e aumentou a dos que trabalham por conta
própria (de 21,4% para 23%). Mais do que indicação do fortalecimento do
empreendedorismo e de capacidade de iniciativa dos brasileiros, a busca de
trabalho por conta própria em períodos de crise é sinal de deterioração do
mercado. Pessoas que perderam emprego buscam alguma forma de renda quaisquer
que sejam as condições de trabalho, mesmo sem a proteção de que gozam os
regularmente contratados ou com sua atividade regularizada.
Curiosamente, o coeficiente de Gini, que mede a
desigualdade de renda num determinado grupo social, mostrou que o Brasil se
tornou um país menos desigual em 2015. O índice – que varia de 0 a 1 e quanto
mais perto do teto mostra maior concentração de renda – caiu de 0,497 para
0,491 no ano passado. Na realidade, o que ocorreu foi que, mesmo com
distribuição menos desigual, a renda piorou para todos. Mas, como a crise
afetou mais duramente os que ganham mais, o coeficiente de Gini melhorou. Não
há o que comemorar. “Quando todo mundo perde, fica pior para todo mundo”, como
destacou a gerente do Pnad, Maria Lucia Vieira.
A recessão começou no segundo semestre de 2014, último
ano do primeiro mandato de Dilma Rousseff. Por isso, os indicadores econômicos
e sociais vinham piorando desde então. Mas os dados sociais de 2015 agora
apresentados pela Pnad mostram a rapidez com que o quadro se deteriorou no primeiro
ano do segundo mandato de Dilma. A persistência da crise em 2016, mesmo depois
do afastamento definitivo do PT do governo, é uma indicação de que, já ruim, o
quadro social pode ter piorado.
*Publicado no Portal Estadão em 27/11/2016
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