Agora, reconstruir
o País*
O pleito municipal se encarregou de
varrer do mapa o PT e demais facções de “esquerda” que, na falta de competência
e credibilidade para propor medidas concretas para tirar o País da crise,
vinham apelando para o escapismo irresponsável do “fora Temer”. A partir de
agora, sob o risco de em 2018 serem condenados ao mesmo destino que amargam
hoje os vendedores de ilusões, os representantes do povo terão que mostrar
serviço e interagir positivamente com as outras forças sociais para enfrentar
os gravíssimos problemas decorrentes do legado do lulopetismo. E terão que agir
levando em conta que a paciência dos brasileiros tem limites, como acaba de
ficar claramente demonstrado nas urnas.
O resultado do pleito nas duas maiores cidades do País
ajuda a entender o sentimento com que os brasileiros foram, ou não foram, às
urnas. No Rio de Janeiro, num universo de 4,9 milhões de eleitores, mais de
1,86 milhão – a soma, em números absolutos, da abstenção com os votos nulos e
brancos, que superou o número de sufrágios dados ao candidato vencedor – se
recusou a optar por um dos dois candidatos que representavam os extremos do
espectro político-ideológico: de um lado o conservadorismo ancorado nos
preconceitos do fundamentalismo religioso e de outro o voluntarismo
“esquerdista” e “libertário” engajado na luta contra os “inimigos do povo”. Ao
negar voto aos dois candidatos, o eleitor carioca deixou claro que repudia o
radicalismo político e demonstrou, como ocorreu em maior ou menor medida em
todo o País, insatisfação e descrença na política e nos políticos.
Em São Paulo, onde o eleitorado é quase duas vezes maior
que o do Rio (8,9 milhões contra 4,9 milhões), o não voto foi menor em números
relativos, 34,7%, mas confirmou a tendência nacional de insatisfação e
descrença. E essa tendência se evidencia também pelo fato de o tucano João
Doria ter sido eleito, já no primeiro turno, com um total de 3,08 milhões de
votos, superior à soma dos votos de todos os outros 10 candidatos, como
resultado de uma campanha em que vendeu competentemente a imagem do não
político. O mesmo ocorreu em Belo Horizonte, onde, no segundo turno, a soma de
abstenções e votos nulos e em branco superou o número de votos dados a qualquer
dos dois candidatos.
Está claro, portanto, o recado das urnas: além de
quererem ver na cadeia os corruptos que se valem de seus cargos e mandatos para
assaltar os cofres públicos – anseio que se traduz no apoio ao combate à
corrupção simbolizado pela Operação Lava Jato –, os brasileiros não estão
dispostos a continuar apoiando políticos inebriados pelo poder que não entregam
o que prometem. Aqueles que acenaram com o Paraíso e depois de 13 anos no poder
deixaram o Brasil em ruínas hoje estão reduzidos à condição de políticos sem
voto.
Além da retumbante derrota do PT, que só ganhou em uma
capital, Boa Vista, e não venceu em nenhuma das 57 cidades em que houve segundo
turno, chama a atenção o bom desempenho eleitoral do PSDB. Um em cada 4
eleitores de todo o País estará a partir do ano que vem sendo governado por
prefeitos tucanos. Esse bom desempenho ocorreu de modo especial no Estado de
São Paulo, onde os tucanos e seus aliados expulsaram os petistas de seus
tradicionais redutos na região metropolitana e ainda conquistaram as
prefeituras das principais cidades do interior. Conquistas que reforçam o
cacife político do governador Geraldo Alckmin na luta interna do partido pela
candidatura presidencial em 2018.
Um destaque negativo do pleito municipal é o fato de os
ex-presidentes petistas Lula da Silva e Dilma Rousseff – que estava em Belo
Horizonte, atendendo a mãe doente – terem deixado de votar. Lula alegou que,
com 71 anos, não está mais obrigado a comparecer às urnas. Evitou, assim, o
constrangimento de se expor publicamente numa secção eleitoral de São Bernardo
do Campo, onde o candidato que tinha seu apoio não chegou ao segundo turno.
Observe-se que o mesmo Lula que tem percorrido o Brasil em “campanha cívica” na
defesa dos interesses “populares” – na verdade, cuida de sua própria
sobrevivência política – não teve ânimo para se deslocar até uma urna eleitoral
e praticar o mais básico e elementar ato cívico da vida democrática.
*Publicado no Portal Estadão em 1º/11/2016
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