Operação X*
A presidente Dilma Rousseff sofreu
impeachment, o ex-presidente Lula acaba de virar réu pela segunda vez, o
cérebro político petista José Dirceu foi duplamente condenado, o eterno
assessor econômico Guido Mantega está enrolado na Zelotes e foi preso (depois
solto) ontem na Lava Jato. Ficou faltando alguém?
Sim, falta Antônio Palocci.
A era Lula acabou caminhando para o desastre com Dilma,
mas foi sedimentada em cima do tripé Dirceu, Mantega e Palocci, o cordato, o
bonachão, o que assumiu o “neoliberalismo tucano”, o queridinho do mundo
empresarial e financeiro, que conseguiu a proeza de desabar não uma, mas duas
vezes: da Fazenda de Lula e depois da Casa Civil de Dilma. Mas jamais deixou de
frequentar as reuniões da alta cúpula lulista.
No castelo de cartas do PT, já caíram dois presidentes da
República, dois presidentes do partido e quantos tesoureiros mesmo? Três?
Quatro? Mas o escorregadio Palocci parece que sabe fazer as coisas direitinho.
A repórter Andreza Matais ganhou o Prêmio Esso de
jornalismo por descobrir que ele usou R$ 7 milhões, em espécie!, para
comprar um apartamentão na Avenida Paulista que, ora, ora, não tinha dono nem
placa na porta. Até hoje, anos depois, nunca se soube de onde veio e de quem
era o dinheiro. Palocci saiu do governo, mas manteve as graças de Lula. Como
tudo isso foi pré-delações premiadas, ele não abriu o bico e ficou por isso
mesmo.
Mas voltemos a Guido Mantega. A barbeiragem grosseira da
Polícia Federal, que chamou Mantega quando ele estava no centro cirúrgico onde
sua mulher se operava, deu munição aos petistas e adversários do juiz Sérgio
Moro e da Lava Jato, principalmente na trincheira da internet. Moro, alegando
que ele, o MP e a PF não sabiam da circunstância, voltou atrás e mandou liberar
o ex-ministro.
Apesar de tudo isso, o fato é que não tem nada de trivial
um ministro da Fazenda ser acusado de pedir milhões para um megaempresário, ou
para quem quer que seja, e isso piora muito quando se sabe que Mantega era
também presidente do Conselho de Administração da Petrobrás e Eike Batista
tinha negócios bilionários com a companhia.
A operação, segundo a força-tarefa, era circular: o
dinheiro saía da Petrobrás, passava pelas empresas e voava para contas de
marqueteiros da campanha petista no exterior, quando não para contas e bolsos
de gente de dentro e de fora do governo e da estatal.
O detalhe é que o pedido relatado por Eike Batista foi,
ou teria sido feito em 2012, quando Dilma já era presidente, e para quitar
dívidas da campanha dela em 2010. Logo, Mantega joga a Lava Jato no colo de
Dilma, que já tinha presidido o Conselho de Administração da Petrobrás durante
a nebulosa compra da refinaria de Pasadena, nos EUA. Ninguém, nem Dilma, sai
bem nessa foto.
Vai-se, assim, cristalizando a percepção de que havia um
modus operandi na era PT: todo mundo pedia propina e todo mundo dava propina,
num círculo vicioso sem fim. Dirceu no Planalto, Mantega na Fazenda, Palocci
nos dois, Paulo Bernardo no Planejamento... Nem mesmo os setores comandados (e
“operados”) pelos parceiros escapavam – como o Ministério de Minas e Energia,
bunker do PMDB, dos Sarney e de Edison Lobão.
Fica difícil, num quadro borrado assim, pintar um futuro
róseo para o PT, que já foi o maior partido de massas, o único detentor da
ética, o Robin Hood contra a miséria. Faltam-lhe as tintas: discurso, horizonte
e principalmente líderes.
Se Lula denuncia Sérgio Moro ao mundo e pretende
interditá-lo como seu juiz, deve se preparar para fazer o mesmo com vários
outros juízes, procuradores, delegados da PF e auditores da Receita. Para
tentar se salvar e salvar o PT, Lula precisa interditar as instituições do
País, talvez interditar o País inteiro.
*Publicado no portal do jornal Estado de São
Paulo em 23/09/2016
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