O partido do ‘Fora
Temer’
Um eleitor desatento poderia pensar
que o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, não é mais do PT. Sua propaganda
para a eleição do mês que vem esconde a famosa estrela vermelha do partido de
Lula da Silva, algo bem diferente do material que apresentou aos paulistanos “o
novo homem para um novo tempo” na campanha de 2012, quando Haddad se elegeu.
Pode-se dizer que o prefeito, bem como muitos outros candidatos do PT nas
eleições municipais, perceberam que assumir-se petista hoje é candidatar-se à
humilhação nas urnas. Mesmo com toda a máquina municipal à sua disposição,
Haddad disputa palmo a palmo com candidatos nanicos a rabeira das pesquisas,
pela simples razão de que, além de mau administrador, ele continua petista.
Diante de tal perspectiva, o prefeito resolveu aderir ao mais novo partido da
praça: o partido do “Fora Temer”.
O partido do “Fora Temer” é uma agremiação inventada
pelos oportunistas do PT para congregar todos aqueles que, como consequência do
impeachment da presidente Dilma Rousseff, ou perderam a boquinha de que
desfrutavam no governo federal ou precisam desesperadamente de uma boia
política, por mais furada que seja, para sobreviver ao naufrágio petista.
No primeiro time estão os grupelhos que, apresentando-se
como “movimentos sociais”, recebiam fartas verbas públicas para fazer a defesa
violenta do governo petista. Destacam-se, nessa turma, o notório Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) e seu subproduto urbano, o Movimento dos
Trabalhadores Sem-Teto (MTST). São eles que, junto com a Central Única dos
Trabalhadores (CUT), estão na vanguarda das manifestações que vêm infernizando
a vida dos brasileiros a título de exigir a saída do presidente Michel Temer.
No segundo grupo aparecem os políticos petistas que,
aflitos, temiam ficar sem discurso na campanha eleitoral, já que o PT, antes um
trunfo eleitoral, se tornou um fardo. As pesquisas de intenção de voto mostram
esse peso morto: os candidatos petistas perdem em quase todas as cidades
importantes, e de maneira acachapante. Além das agruras de Haddad em São Paulo,
a tigrada está em maus lençóis em Belo Horizonte, no Rio de Janeiro, no Recife
e até mesmo em Porto Alegre, seu tradicional reduto.
Isso explica por que, de uma hora para outra, a campanha
de Haddad deixou de lado qualquer discussão séria sobre a cidade que ele
administra de forma tão amadora e passou a vincular os adversários do prefeito
ao tal “golpe” que os petistas vivem a denunciar. Foi Lula, em recente comício
com seu afilhado, quem deu a senha: “O Doria, a Marta e o Russomanno
representam exatamente aqueles parlamentares que deram o golpe na Dilma”. Tanto
Lula como Haddad estavam usando no paletó um adesivo em que se lia “Fora Temer,
Fica Haddad” – sem nenhuma menção ao PT.
Assim, o “Fora Temer” foi formalizado como o “partido”
dessa turma, inclusive no material de campanha. Mas, como tudo o que envolve
Lula e seus sequazes, o “Fora Temer” é apenas uma palavra de ordem. É um grito
vazio, irresponsável, antidemocrático. Se a reivindicação desse pessoal fosse o
retorno de Dilma Rousseff à Presidência, ainda haveria nisso alguma dose de
racionalidade política. Mas nem os próprios petistas – Lula à frente – querem saber
de Dilma, cuja desastrosa gestão foi em parte responsável pela formidável
debacle do PT.
A reivindicação de que Michel Temer deixe o governo, sem
mais nem menos, e que se convoquem novas eleições diretas para presidente,
sabe-se lá com base em que legislação, somente se presta a fornecer aos
petistas algum discurso que lhes permita evitar a discussão de temas mais
constrangedores, como a corrupção envolvendo vários de seus principais
dirigentes e o amadorismo gerencial de Haddad, Dilma e outros pupilos de Lula.
Felizmente, a despeito do apoio que o partido do “Fora Temer” conseguiu
amealhar entre alguns incautos, parece claro que a essa associação de intrujões
está reservado, nas urnas, o profundo desprezo da maioria dos brasileiros.
Editorial do jornal O Estado de São Paulo de
19/09/2016
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