Lula quer mais do
mesmo*
Dilma Rousseff, efetivamente, já era. Pouco importa,
portanto, saber se vai ou não divulgar a tal Carta aos Senadores e aos
Brasileiros, na qual deposita suas últimas esperanças vãs de não perder o
mandato de presidente da República. Tampouco se vai ou não excluir daquele
documento o termo “golpe”, que foi aconselhada a abandonar para não ferir as
suscetibilidades dos senadores que ela espera que revertam votos a seu favor no
julgamento final. Nesse quadro patético, Dilma só poderá continuar contando com
o apoio da brancaleônica tropa de choque de senadores – e senadoras, é claro –
que têm usado e abusado em proveito próprio de cada segundo de valiosa
exposição diante das câmeras de televisão, como também de seu fiel e eloquente
advogado, que igualmente tem sabido aproveitar a preciosa oportunidade de se
redimir, perante seus companheiros petistas, das acusações de ter sido um
ministro da Justiça “frouxo” no controle da Operação Lava Jato. A Dilma,
portanto, só resta decidir como passar a longa vilegiatura que terá à sua
frente.
Já Lula da Silva parece disposto a seguir em frente,
administrando como puder aqueles dois desafios impostos a seus seguidores. Um
deles, o de voltar a fazer oposição, é mais fácil, porque corresponde à
verdadeira vocação do lulopetismo. Manter vivo o legado do PT é um pouco mais
complicado, até porque implica, para começar, chegar a um acordo sobre o que
vale a pena trombetear como resultado positivo dos governos Lula e Dilma.
Os petistas jamais se preocuparam em ofender a
inteligência e o discernimento dos eleitores. Essa é uma característica comum
ao populismo, qualquer que seja. Por isso, não será problema, tanto para fazer
oposição quanto para polir a imagem de 13 anos de poder, usar os velhos
recursos de apregoar feitos extraordinários, não necessariamente verdadeiros, e
de transferir para terceiros a responsabilidade pelo que não deu certo. E
também, obviamente, prometer o que não têm intenção de, ou capacidade para,
cumprir.
Um governo se julga pelos resultados concretos que
apresenta, não por suas maravilhosas intenções. Diante do verdadeiro legado do
lulopetismo com o qual o País terá que se haver agora – finanças públicas
arrombadas, inflação, recessão, desemprego, corrupção generalizada no governo e
em certos meios empresariais, etc. – não há margem, mesmo com muita boa
vontade, para uma avaliação positiva de resultados. E não é por outra razão que
o impeachment vem aí, apoiado pela existência de crimes de responsabilidade que
representam, em última análise, o modus operandi de um governo
arrogante e incompetente.
É óbvio que nos últimos 13 anos – descontados todos os
exageros do marketing político – houve conquistas que fizeram o Brasil andar
para a frente. Mas são avanços naturalmente resultantes de uma dinâmica social
que, em boa parte, independe de governos. O que poderia ser um legado do qual
se orgulhar – o resgate de milhões de brasileiros da pobreza e sua ascensão à
classe média – provou-se, em grande parte, demagogia de efeito efêmero.
O mais desalentador, contudo, na perspectiva de ação
definida por Lula para o futuro imediato de seu agonizante partido, é a
inexistência de pelo menos um aceno em direção à urgente necessidade de se
tentar um entendimento amplo, suprapartidário, capaz de favorecer o trabalho de
tirar o País do buraco. Lula prefere continuar cultivando o ambiente em que se
sente à vontade: de um lado, “nós”, de outro, “eles”. De novo.
*Publicado no
estadão.com em 12/08/2016
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