Devolver Dilma ao
poder é debochar do Brasil*
Carlos José Marques
Dilma
é um assombro. Um despropósito político sem precedentes. Uma hecatombe
administrativa que condenou o País a anos de retrocesso. Dilma é a ausência de
noção de realidade em pessoa. A negação repetida dos fatos da forma mais cínica
e desavergonhada possível. Por isso mesmo, trazê-la de volta ao poder
equivaleria à contratação antecipada do caos para o Brasil. Quem tiver dúvidas
sobre essa hipótese que reserve ao menos alguns meros minutos do seu tempo para
dar uma olhada minuciosa, e despojada de ideologias, sobre a herança que ela
nos legou. Em um rápido “overview” será impossível esquecer o maior rombo das
contas públicas de que se tem notícia na história republicana.
Ao menos R$ 170
bilhões, com pedaladas, muitas, de toda natureza. Não dará para apagar, nem da
memória de futuras gerações, a corrupção sistêmica, institucionalizada e
disseminada de seu governo – em episódios que deixou o mundo inteiro
estarrecido e consumiu a riqueza da estatal de ouro, “joia da coroa”,
Petrobras. Os quase 12 milhões de desempregados; as vítimas de seus desmandos e
barbeiragens com a inflação, os juros e as políticas tarifárias de energia e
combustíveis; os políticos e empresários ignorados em seus apelos; a entourage
de eleitores que nela depositaram a confiança dos votos, traídos
inapelavelmente; todos, enfim, não irão perdoar qualquer possibilidade de
“revival” que sua volta significaria. E desse sentimento decorre a condição de
presidente mais impopular em décadas, segundo as pesquisas. Dilma mentiu e
mente a cada manifestação pública. Isso fica evidente, inclusive, nos inúmeros
acordos de delações que a colocam – lado a lado com o mentor, Lula – no coração
dos escândalos de desvios e favorecimentos de campanha. O ex-diretor da
Petrobras, Nestor Ceveró, foi apenas mais um a confirmar na semana passada, em
sua delação, que Dilma mentiu também sobre a compra de Pasadena, fonte original
das investigações do Petrolão. Dilma sabia dessa e de outras maracutaias,
apontam os artífices do propinoduto. Dilma distorce fatos em prol de interesses
pessoais. Diz que o sucessor quer desmontar a Lava Jato, quando foi ela,
petistas, Lula & cia. que tramaram um sem número de vezes para driblar os
avanços da operação. Dilma não admite os próprios erros.
Nunca. A recessão, a
inapetência para o diálogo, a prisão de seu marqueteiro e do tesoureiro do
partido, o cataclismo de sua gestão são frutos de um complô das elites, dos
adversários, de fatores externos. O que se evidenciou na malfadada era Dilma é
o pior dos mundos em todos os sentidos.
E
nesse contexto soa estranho que certos setores do próprio Congresso ainda
flertem com a hipótese do seu retorno. Parecem estar mais atentos a barganhas
em interesse próprio do que na inadiável e necessária busca da estabilidade e
bem-estar da Nação. Pensar na absurda alternativa de eleições presidenciais
antecipadas é outro despropósito. Oportunismo que macula a Constituição. Um
devaneio sem lastro, cuja chance de ocorrer é tão remota quanto à possibilidade
de renúncia coletiva, e acordada, do colegiado de parlamentares para que tal
pacto se viabilize. Assim sendo, é fundamental a compreensão por parte dos
senhores senadores do momento decisivo pelo qual passa o País e do papel que
lhes cabe de restauração da ordem. O presidente da transição, Michel Temer, que
dá demonstrações claras de estar movido por um real desejo de arrumar a casa,
precisa de trégua para trabalhar. A missão é inglória. No posto ele está por
direito constitucional e é preciso que seu trabalho ali dê certo, como
precondição para o conserto da bagunça criada. Diante do complexo quadro de
desafios, as dificuldades são inevitáveis. As resistências também. Mas o voto
de confiança tem de prevalecer. A sabotagem é antidemocrática. Desprezível.
Petistas, agora na oposição, revanchistas de carteirinha, fazem de tudo para
manter o Brasil em estado de permanente instabilidade. Seus arautos e
simpatizantes provocam arruaças, invadem prédios públicos, protestam amiúde –
com meia dúzia de seguidores aqui e ali, parando avenidas e estradas -, contra
o interesse geral.
Como dar respaldo institucional, no legislativo, através de
apoio pelo voto, a essa algazarra? A comparação de métodos e ações do atual
governo Temer com o calamitoso modelo de gestão de Dilma Rousseff é, no mínimo,
risível. Temer não tem medo de errar e de voltar atrás, quando necessário.
Qualidade esperada de um líder. Exibe pulso e equipe competente para
reorganizar a economia, encaminhar as reformas necessárias e ajustar interesses
políticos tão distintos. Pode não ser a opção ideal de segmentos variados da
sociedade. Mas é notoriamente mais habilidoso que sua antecessora. Abissal é a
distância que o separa dela. O Planalto que em tempos recentes, sob Dilma,
viveu dias de palanque e circo, está decerto focado agora no que importa: a
condução do País, outra vez, na rota do desenvolvimento. Ninguém tem saudades
do que aquela senhora nos causou.
*Publicado
no portal da Revista IstoÉ
Nenhum comentário:
Postar um comentário