Custo Brasil*
Eliane Cantanhêde
Ministério Público Federal e Polícia
Federal acreditam que o roubo no Ministério do Planejamento na gestão Paulo
Bernardo (PT), durante o governo Lula, chegou a R$ 100 milhões, desviados de
contratos com a empresa Consist, responsável pelo sistema de crédito consignado
dos servidores federais.
Um único gerente da Petrobrás, que
nem diretor era, se comprometeu na delação premiada a devolver aos cofres
públicos a bagatela de US$ 100 milhões: Pedro Barusco, ex-gerente executivo da
Diretoria de Serviços da maior, mais simbólica e mais querida companhia
brasileira.
Nestor Cerveró, ex-diretor da área
Internacional da Petrobrás, disse em depoimento que transferiu uns US$ 100
milhões de propina ao governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB) com a venda da
empresa petrolífera Pérez Companc.
De grão em grão, a galinha enche o
papo. Pois, de 100 milhões em 100 milhões (de reais ou de dólares), o País vai
empobrecendo em saúde, educação, habitação, costumes, ética e o que, talvez,
seja o mais assustador: em política.
O PT passou 20 anos na oposição,
vendendo-se como puro contra todos os demais, os impuros, até assumir o poder e
não apenas se embolar e se confundir com os impuros, como chegar a ponto de
disputar com eles em diferentes modalidades: “Quem dá mais?”; “É dando que se
recebe”; “Toma lá, dá cá”.
Nessa situação um tanto
desesperadora, o mundo se divide em dois: a sociedade vibra com gravações,
delações e prisões, mas o universo político começa assumir movimentos de
autoproteção.
Quando o ex-tucano e ex-petista
Delcídio Amaral viveu o ineditismo de um senador preso no exercício do mandato,
o plenário do Senado aprovou e votou a favor da sua prisão. Quando o ex-tucano
e peemedebista Machado entregou 20 políticos e fez um strike no PMDB de Michel
Temer, o PT foi contido e discreto.
Agora, quando o MP e a PF fazem busca e
apreensão no apartamento funcional da senadora petista Gleisi Hoffmann,
enquanto prendiam Paulo Bernardo, seu marido, o PSDB não ficou apenas contido e
discreto, mas partiu para vibrante defesa.
Segundo o líder tucano, Cássio Cunha
Lima, foi “um absurdo” um juiz de primeira instância mirar no apartamento
funcional de uma senadora, pois só o Supremo Tribunal Federal poderia fazê-lo.
“Apesar de políticos, somos gente (sic). É preciso ter um mínimo de compreensão
com a dor alheia. O silêncio dos senadores é um silêncio respeitoso”, disse
ele.
Trata-se do velho espírito de corpo,
quando a Lava Jato escancara tudo, expõe todos e cada um. Aparentemente, nenhum
partido sobrevive e todos os políticos caem na mesma vala comum, na percepção
cruel e destruidora de que “todos são iguais”. O problema é que isso tudo
dispara o espírito de corpo dos políticos, mas o brasileiro está cada dia mais
espírito de porco – no bom sentido.
Ausência. O líder natural na América do Sul é o Brasil, que tem o maior
território, a maior economia, a maior planta industrial, a maior população.
Mas, apesar disso, o Brasil ficou totalmente fora do acordo histórico entre
Farc e governo na Colômbia. Por quê? Por ideologia. Preferiu se agarrar à
Venezuela, que é de “esquerda”.
*Publicado no Estadão.com em 24/06/2016
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