João Vaccari Neto decide quebrar o silêncio
Em março passado, o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto
teve uma conversa reveladora com um de seus companheiros de cárcere. A situação
de abandono do superburocrata petista, sentenciado a mais de 24 anos de prisão
e com pelo menos outras quatro condenações a caminho, fez o interlocutor
perguntar se ele não considerava a hipótese de tentar um acordo de delação com
a Justiça.
Conhecido pelo temperamento fechado, que lhe rendeu o apelido de
"Padre" nos tempos de militância sindical, Vaccari respondeu como se
já tivesse pensado muito sobre o assunto: "Não posso delatar porque sou um
fundador do partido. Se eu falar, entrego a alma do PT. E tem mais: o pessoal
da CUT me mata assim que eu botar a cara na rua". Algo aconteceu nos
últimos dois meses. Depois desse diálogo travado com um petista importante e
testemunhado por outros presos, Vaccari não resistiu às próprias convicções e
resolveu romper o pacto de silêncio. O caixa do PT, o homem que durante décadas
atuou nas sombras, o dono de segredos devastadores, decidiu delatar.
Preso desde abril do ano passado, o ex-tesoureiro, hoje
no Complexo Médico-Penal de Pinhais, no Paraná, está corroído física e
psicologicamente, segundo relatam pessoas próximas. Ele sabe que a hipótese de
escapar impune não existe. Assim como os demais delatores, sabe que, aos 57
anos de idade, a colaboração com a Justiça é o único caminho que pode livrá-lo
de morrer na prisão. Os movimentos do ex-tesoureiro em direção à delação estão
avançados. Emissários da família de Vaccari já sondaram advogados
especializados no assunto. Em conversas reservadas, discutiu-se até o teor do
que poderia ser revelado. Um dos primeiros tópicos a ser oferecido aos
procuradores trata da campanha eleitoral de Dilma Rousseff em 2014. Vaccari tem
documentos e provas que podem sacramentar de vez o destino da presidente
afastada, mas não só. O ex-tesoureiro sempre foi ligado ao ex-presidente Lula
e, como ele mesmo disse, conhece a alma do PT.
A cúpula do partido foi informada sobre a disposição do
ex-tesoureiro há duas semanas. A primeira reação dos petistas foi de surpresa,
depois substituída por preocupação. Até onde o ex-tesoureiro chegaria? Uma
comitiva foi despachada a Curitiba para tentar descobrir. Encarregado da missão
estava o líder do PT na Câmara, Afonso Florence, que foi ao presídio
acompanhado pelo ex-deputado paranaense Ângelo Vanhoni. Em Pinhais, ainda não
se sabe exatamente de que maneira a comitiva conseguiu driblar os controles da
prisão e conversar longamente com o ex-tesoureiro. Magoado, reclamando de ter
sido esquecido na prisão, Vaccari confirmou sua decisão de quebrar o silêncio.
Os petistas retornaram a Brasília estranhamente mais calmos. Florence procurou
o líder do PT no Senado, Paulo Rocha, e relatou a conversa que tivera com
Vaccari. "Será uma explosão controlada", disse. O que significava
isso? O parlamentar explicou que Vaccari pode prestar depoimentos calculados,
detonando explosões com efeito controlado para provar a
"ilegitimidade" do governo Temer. Se o plano petista der certo, a
carreira política de Dilma Rousseff será liquidada, mas também terá arrastado
ao cadafalso o presidente interino Michel Temer, por comprometer a chapa eleita
em 2014.
Fonte: veja.com
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