Dever de esclarecer*
No Brasil e no exterior têm sido promovidas algumas
manifestações contra o processo de impeachment da presidente afastada Dilma
Rousseff. Em claro desrespeito aos fatos, elas denunciam a existência de um
golpe contra a democracia no País. A divulgação no exterior de inverdades sobre
o que ocorre internamente traz inegáveis prejuízos à imagem do Brasil, com
consequências diretas sobre a economia nacional. É dever, portanto, do novo
governo esclarecer os fatos, com uma diligente campanha de neutralização desses
irresponsáveis protestos.
Alguns desses atos ocorreram em sedes de organismos
internacionais, o que provoca ainda mais danos, já que transmitem a equivocada
impressão de que os órgãos diretores de tais entidades apoiam o discurso do
golpe. Outras vezes, militantes aproveitam espaços sem qualquer relação com a
política, apenas como forma de ampliar a visibilidade do engodo. Foi o que
ocorreu, por exemplo, no Festival de Cannes, quando meia dúzia de artistas
aproveitou o lançamento de um filme brasileiro para denunciar o alegado golpe
contra a democracia no País.
Não são ingênuos esses protestos. Eles se aproveitam da
ignorância de muitos, no Brasil ou no exterior, sobre a real situação do País
para difundir infundados temores sobre suas instituições. Não há golpe no País.
No momento está em curso um processo de apuração de graves denúncias contra a
presidente Dilma Rousseff, a respeito do qual a Constituição Federal prevê,
para um isento funcionamento das instituições, o afastamento do cargo da
Presidência da República por até 180 dias.
A normalidade institucional do atual processo de
impeachment foi exposta de forma solene pelo decano do Supremo Tribunal Federal
(STF), ministro Celso de Mello, que atestou o pleno cumprimento da Constituição
Federal e do rito definido pela Suprema Corte. Na ocasião, referindo-se à
possibilidade de a presidente Dilma Rousseff usar um discurso na ONU para
denunciar o suposto golpe em curso no País, Celso de Mello classificou como
“gravíssimo equívoco” alardear mundo afora que a democracia no Brasil estava em
risco.
A fala do ministro Celso de Mello foi tão contundente que
a presidente Dilma Rousseff recuou do vexame na ONU. Mas depois não abandonou
completamente o falso discurso do golpe, utilizando-o em entrevistas à imprensa
internacional. Agora, parte da companheirada – descontente não apenas com o
apeamento do PT do poder, mas com o consequente corte de suas boquinhas –
replica irresponsavelmente o mesmo palavrório em manifestações mundo afora.
Tal discurso não é uma mentira gratuita. Ele provoca
sérios danos à imagem do País, ao propagar que aqui as instituições
democráticas não funcionam e ao dizer que a ordem jurídica não é respeitada.
Logicamente, tais rumores dificultam o restabelecimento da confiança externa no
País e atrapalham o bom ambiente de negócios.
Por isso, é responsabilidade do governo Michel Temer
esclarecer os fatos com prontidão, sem esperar simplesmente que o tempo coloque
tais inverdades em seu devido lugar. Não se pode assistir passivamente a um
punhado de pessoas denegrir a imagem do País e de suas instituições no
exterior.
O dever de esclarecer os fatos é especialmente grave para
o atual governo, que propõe realizar uma nova política externa, com uma
inserção mais profunda do Brasil na economia internacional, acabando com o
desserviço que o lulopetismo prestava ao País ao fazer prevalecer afinidades
ideológicas sobre interesses nacionais.
O diligente esclarecimento dos fatos é também sinal de
respeito para com a população. Os milhões de brasileiros que foram às ruas em
todo o País pedir o impeachment da presidente Dilma Rousseff não são golpistas.
Lá estavam em defesa da lei, das instituições, da moralidade pública – enfim,
do Estado Democrático de Direito. O mundo pode, portanto, estar muito tranquilo
com a democracia brasileira.
*Publicado no Estadão.com, em 23/05/2016
Nenhum comentário:
Postar um comentário