A hora de Temer*
Não se discute a legitimidade do governo interino de
Michel Temer, eleito pelos mesmos votos que mantiveram a presidente Dilma no
Planalto, hoje afastada à espera do julgamento do seu impeachment.
Temer, porém, precisa entender a delicadeza do momento
político e econômico, que lhe exige ações duras, rápidas, sem tergiversações.
Na economia, a partir da qualidade da equipe que tem conseguido montar e das
análises já feitas em público, o governo parece bem encaminhado.
Na política, nem tanto. Entende-se que Temer necessita de
sólido apoio no Congresso para conseguir aprovar reformas imprescindíveis, sem
as quais o país não superará a crise fiscal. Mas tudo tem limites.
Como é o caso da revelação, feita pela “Folha de
S.Paulo”, de diálogos do braço-direito do presidente, o senador licenciado
Romero Jucá (PMDB-RR), ministro do Planejamento, com o ex-presidente da
Transpetro, Sérgio Machado, gravados por este.
O conteúdo do que foi revelado, e não desmentido
pelo ministro em entrevista coletiva, torna inviável a sua permanência no
governo. O presidente interino pode inviabilizar sua gestão caso decida manter
Jucá.
O ministro dá explicações clássicas, reclamando de que
frases estão fora de contexto e assim por diante. Mas fica translúcido que Jucá
e Machado, dois apanhados nas malhas da Lava-Jato — o ministro ainda sendo
investigado —, tramavam barrar a Operação num eventual governo Temer. O
contrário do que o próprio presidente se comprometeu a fazer ao assumir. Os
diálogos, portanto, também atingem Temer.
Até para não dar razão aos lulopetistas que denunciam uma trama
contra a Lava-Jato por trás do impeachment de Dilma, o presidente não pode
demorar para afastar o auxiliar. Ou o próprio Jucá deve entregar o cargo, para
poupar Temer de mais dissabores. O tempo corre contra o governo.
*Publicado no globo.com, em 23/05/2016
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