Fiapos de esperança*
Eliane Cantanhêde
Se causou espanto o pedido de prisão
preventiva de Lula por três promotores de São Paulo, não é menos surpreendente
o procurador Rodrigo Janot pedir a abertura do sétimo inquérito contra o
presidente do Senado, Renan Calheiros, justamente na sexta-feira à noite. Terá
sido por acaso? Ou confirma o desespero de quem sabe que o governo não tem mais
jeito?
Mesmo ministros do Supremo, tão
escaldados, estranharam a oportunidade do pedido de Janot, horas antes da
convenção em que o PMDB colocaria o pé fora do governo e dois dias depois do
jantar em que pemedebistas e tucanos selaram um pacto de união para tocar o
País após a queda de Dilma Rousseff – considerada favas contadas.
Dilma afundava na Câmara e contava
com Renan no Senado, mas até essa boia furou, quando Renan concluiu que ela não
tem condições de concluir o mandato. Daí a entrada em campo dos profissionais
da política, no PMDB e no PSDB, para não deixar o País cair no vácuo. Pode até
ser injusto, mas a leitura em Brasília é que Janot parece dar um aviso a Renan:
se ele se “comportar bem”, a pressão continua só em cima de Eduardo Cunha, mas,
se ele abandonar Dilma no oceano da ingovernabilidade, aí tem troco.
É mais um lance para confirmar a
situação crítica de Dilma, que se agarra a boias furadas e a fiapos de
esperança para tentar se segurar no mandato até 2018. Renan é a boia furada e o
ex-presidente Lula é o fiapo de esperança, numa falsa escolha de Sofia. Se
Dilma não nomear Lula para “primeiro-ministro”, seu governo acaba. Se nomear,
acaba também.
Dilma, Lula e o PT, portanto, entram
na fase do desespero, enquanto o País mantém a interrogação e o mundo político
começa a preparar a resposta para essa interrogação. Todos os lados sabem que
não dá mais para esperar, está se tornando uma questão de vida e morte –
sobretudo para o País.
É por desespero que a presidente da
República faz algo raiando ao patético: chama a imprensa para negar que vá
renunciar! Quem não imaginava a possibilidade passou a considerá-la. Assim como
atraíra antes para dentro do Planalto a palavra “impeachment”, Dilma agora
carimba na sua testa o termo “renúncia”.
É uma forma elementar de
autoenfraquecimento e com um detalhe que piora tudo: ares de soberba.
“Testemunharam que não tenho cara de renúncia?”, disse aos jornalistas, de
nariz em pé, ironizando a versão – dadas pelos seus próprios assessores,
diga-se – de que esteja “resignada” com o triste fim da primeira mulher eleita
presidente no Brasil. Um desastre.
Presidente de um país afundado em
crises, à frente de um governo que não governa, rechaçada pelo PT, abandonada
pelo PMDB e o PSB, rejeitada pela sociedade, em confronto aberto com o
Congresso, amparada melancolicamente por Jaques Wagner e José Eduardo Cardozo –
que não têm alternativa –, resta a Dilma agora jogar a toalha, resignada ou
não, e ceder a cadeira e o comando para Lula.
Mas... se não se pode subestimar o
carisma e a genialidade política de Lula, também não se deve superestimar um
ex-presidente que sacoleja, desengonçado, dentro de um lava-jato: depoimento de
horas à PF, condução coercitiva determinada pela Justiça, até um atrevido
pedido de prisão preventiva feito por promotores estaduais.
Que Dilma está acabada, não há
dúvida. Mas será que Lula tem condições de virar o jogo, recuperar o respeito
do Congresso, a confiança do empresariado, a idolatria da maior parte da
população e fazer o ajuste fiscal, salvar o governo, a própria pele e, enfim, o
País?
*Publicado no Portal do Estadão em 13/03/2016
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