Impeachment não é golpe!
Ana Amélia Lemos*
O processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff,
iniciado na Câmara e ainda sem rito definido, é instrumento democrático e,
portanto, constitucional. Falar em golpe é desrespeitar a nossa jovem
democracia, o contraditório.
Inflamado por disputas políticas, o atual momento
tem alguma semelhança com 1992, quando o então presidente Fernando Collor foi
obrigado a enfrentar o processo de impeachment. Há 23 anos, o governo estava
contaminado por denúncias graves, baixíssima popularidade, protestos nas ruas,
hiperinflação e governabilidade comprometida.
Hoje, os episódios de corrupção são conhecidos e crescem
com os desdobramentos da Operação Lava Jato. Por causa das pedaladas fiscais as
contas de 2014 foram rejeitadas pelo Tribunal de Contas da União e o país corre
sério risco de enfrentar sua pior recessão desde os anos 30. A preocupação
sobre os rumos da economia, da política e da área social do país está ampliando
a desconfiança sobre a capacidade do governo para superar a crise. Nesse
cenário desolador, constatamos, com otimismo, que as instituições continuam
fortalecidas. E isso é salvaguarda à democracia. Com enorme constrangimento, e
com voto aberto, o Senado manteve o senador Delcídio do Amaral na prisão, respeitando
a determinação do Supremo Tribunal Federal. A alteração da meta fiscal prevista
na Lei de Diretrizes Orçamentárias, proposta pelo governo, foi aprovada por 314
deputados e 46 senadores, entre os quais o meu voto, para autorizar o déficit
primário de quase R$ 120 bilhões e evitar a paralisia administrativa.
Processos favoráveis à transparência e rigor na aplicação
dos recurso públicos avançam, protagonizados pela Justiça, Polícia Federal,
Ministério Público e imprensa, como forma de combater a corrupção. Pairam no
ar, entretanto, muitas incertezas relacionadas à governabilidade. A vontade da
sociedade brasileira deve prevalecer na inadiável apreciação do processo de
impeachment da presidente da República, fundamentado na representação feita
pelos respeitados juristas Hélio Bicudo, Miguel Reale Jr. e Janaína Paschoal.
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