A patética pesquisa do
PT
Estado de São Paulo
26/11/2014
Depois do segundo triunfo do presidente Lula nas urnas, apesar do fardo do mensalão que ele carregava, líderes tucanos começaram a se perguntar por que o partido não havia conseguido capitalizar contra o seu principal beneficiário o que até então constituía o maior escândalo político da democracia brasileira. A esse fracasso se somou outro: o definhamento do PSDB no Congresso Nacional.
Em 1998,
na esteira da consagradora reeleição do presidente Fernando Henrique, a legenda
viu a sua bancada na Câmara dos Deputados ampliar-se de 62 para 99 cadeiras.
Com o advento da era Lula, porém, começou o longo declínio tucano: os 99 caíram
a 70 em 2002 e a 66 daí a quatro anos.
Na
esperança, afinal frustrada, de pelo menos estancar a hemorragia em 2010, um
perplexo dirigente paulista da agremiação propôs numa reunião o que poderia se
revelar um primeiro passo em busca da luz no fim do túnel. Por que, perguntou
ele aos interlocutores, não encomendamos uma pesquisa para saber o que o
eleitorado gostaria que fosse o nosso programa? O tucano decerto não se deu
conta de que isso representaria uma abdicação: embora pesquisas periódicas
sobre políticas que mexem com o sentimento popular tenham se incorporado em
toda parte às práticas partidárias, o que se espera de uma sigla é que seja
capaz de persuadir o público de que as suas propostas são as que mais bem
atendem o interesse geral. A isso se chama liderança.
A ideia,
logicamente, não foi adiante. Serve, em todo caso, como lembrete de que não há
partidos imunes a iniciativas cujos autores podem achar o máximo da
modernidade, mas que são apenas patéticas. Agora, quem diria, o inimigo mortal
dos tucanos, o PT, resolveu perguntar aos brasileiros por que se tornou tão
mal-amado. O fato, em si, é inconteste. Não só a presidente Dilma Rousseff
escapou por muito pouco de ser desalojada do Planalto - obtendo uma vitória
eleitoral que não a poupou de sair politicamente derrotada da campanha -, como
o partido retrocedeu em todas as disputas. No primeiro turno do pleito
presidencial, a sigla teve 4,3 milhões de votos a menos do que em 2010. Na
segunda rodada, a perda foi de 1,2 milhão, embora nesses quatro anos tenham
surgido 7 milhões de novos eleitores.
No ABCD
paulista, onde nasceram o PT e a CUT, Dilma só derrotou Aécio Neves em Diadema
- e por uma diferença aquém de 8%. A bancada federal petista encolheu de 88
para 70 membros. As bancadas estaduais, de 149 para 108. A agremiação não
conseguiu reeleger nem o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, que
não chegou ao segundo turno, nem o do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, que
chegou, mas acabou goleado. O estigma de promotor da corrupção que o partido
fez por merecer, a fadiga de amplos setores do eleitorado com 12 anos de poder
petista, a virtual estagnação econômica e, não menos importante, a percepção da
incompetência da presidente explicam a rejeição ao petismo, que chega a ser
avassaladora em São Paulo.
Pois bem.
Como se isso não fosse evidente, a legenda mandou fazer uma sondagem em âmbito
nacional, acompanhada de pesquisas qualitativas, para ouvir da sociedade o que
os seus grãos-companheiros saberiam por conta própria, não fosse a cegueira de
que foram acometidos, há muito, pela fantasia de serem os exclusivos portadores
do progresso nacional e da redenção do povo injustiçado. Eis por que, antes até
de receber das urnas as más notícias que os desconcertaram, ficaram aturdidos
com o desgosto, também por eles, dos manifestantes de junho de 2013, não raro
acompanhado de agressivo antipetismo. A memória do mensalão, o colapso dos
serviços públicos - debitado em primeiro lugar à administração federal - e a
ojeriza ao sistema político, sem distinguir o PT do conjunto dos partidos
execrados, estilhaçaram a profana ignorância do apparat petista sobre o que
germinava em surdina no País.
Embora
sustentado também pelo contribuinte, via Fundo Partidário, o PT que faça o que
quiser com o seu dinheiro. Por exemplo, torrá-lo numa pesquisa que, de um lado,
deverá apenas confirmar o óbvio - e, de outro, dificilmente induzirá a elite
estrelada a deixar as práticas afrontosas que já são a sua segunda natureza.
Nenhum comentário:
Postar um comentário