O
fiasco dos investimentos
O ESTADO DE S.PAULO*
22 Outubro 2014
De fracasso em fracasso, a presidente Dilma Rousseff
completará em dezembro quatro anos de fiascos no PAC 2, a segunda etapa do
Programa de Aceleração do Crescimento. Até o réveillon, só terá conseguido
inaugurar 2 de 11 grandes obras com conclusão prometida para o trimestre final
de seu mandato. Neste ano, o governo até acelerou os desembolsos para
investimentos, como ocorre em todo período eleitoral, mas sem desemperrar a
execução da maior parte dos projetos.
Desde a gestão do presidente Luiz Inácio
Lula da Silva, orçamentos e prazos têm sido rotineiramente estourados. Esse
resultado é explicável por uma invulgar incompetência administrativa temperada
com boas pitadas de corrupção. A faxina realizada em 2011 no Ministério dos
Transportes e a longa saga de escândalos na Petrobrás são episódios importantes
e instrutivos dessa história.
Com operação recém-iniciada, a Hidrelétrica de Santo Antônio do
Jari, no Amapá, é um dos dois projetos com entrega atualmente prevista para
este fim de ano. O outro é a Hidrelétrica Ferreira Gomes, no mesmo Estado.
Deverá funcionar em breve, se nenhuma surpresa ocorrer. As duas usinas são
empreendimentos privados.
Os outros nove projetos, com prazos alongados para os próximos
dois anos, incluem a transposição do Rio São Francisco, grandes obras de
saneamento no Nordeste, investimentos em rodovias e a famigerada Refinaria
Abreu e Lima, em Pernambuco. Esta é uma das mais vistosas gemas da coroa de
escândalos da Petrobrás.
Bastaria o estouro de seu orçamento - de US$ 2,4 bilhões na previsão
inicial para cerca de US$ 20 bilhões nas últimas estimativas - para converter
em personagens históricas dignas de estudo as principais figuras envolvidas no
projeto. A lista incluiria, naturalmente, o presidente da República, o ministro
de Minas e Energia e vários dirigentes da Petrobrás.
Em 2011, quando a presidente Dilma Rousseff iniciou seu mandato,
ainda se previa o começo das operações da Abreu e Lima em 2012. No fim de 2014,
a obra deveria estar completa. Um dia essa história poderá ser contada a
estudantes de administração como exemplo da desastrosa mistura de
irresponsabilidade, incompetência gerencial, asneira ideológico-diplomática (a
aliança entre lulismo e chavismo) e corrupção.
O atraso dessas nove obras prioritárias é um capítulo especialmente
interessante da história iniciada em 2003, com a chega do PT ao governo
federal, e ainda sem conclusão. Mas é só isso, uma coleção de exemplos
particularmente interessantes de ações desastrosas. Administração e
investimento nunca foram pontos fortes dos três mandatos petistas.
Neste ano, o governo federal aplicou, até setembro, R$ 45,3
bilhões em obras e na compra de equipamentos. Investiu, portanto, 30,5% mais
que nos nove meses correspondentes do ano anterior. Maiores desembolsos para
investimentos têm ocorrido repetidamente em anos de eleições, tanto na
administração federal como nos governos estaduais e municipais.
Nem assim o governo da presidente Dilma Rousseff conseguiu
tornar muito melhor a execução de projetos dependentes da União. Boa parte das
obras prometidas para a Copa do Mundo de Futebol ficou sem conclusão. O caso
dos aeroportos é um exemplo muito claro. Até abril deste ano, só foi concluído
um terço dos empreendimentos previstos para o setor no PAC 2, segundo o último
balanço divulgado pelo governo. De acordo com esse levantamento, 23 das 108
obras programadas continuavam no papel.
Além disso, nos primeiros três bimestres de 2014 a Infraero
investiu mais que no ano anterior. No quarto, aplicou menos que em julho e
agosto de 2013. Explicação mais plausível: depois da Copa, as obras ficaram
menos urgentes. "Pela primeira vez neste ano a Infraero reduziu o ritmo
dos investimentos", noticiou a organização Contas Abertas, dedicada ao
exame das contas públicas.
A política de investimentos vai mal em todo o setor de
infraestrutura. O PAC continua sendo principalmente um programa de obras
imobiliárias e de financiamentos habitacionais. Sem estes componentes, seria
mais difícil atenuar o vexame em cada balanço periódico.
*Editorial do Estadão, edição desta quarta-feira
Nenhum comentário:
Postar um comentário