Agenda aponta
uso de offshores
PF
suspeita que Paulo Roberto Costa operou um esquema para ocultar desvios de
verba que era direcionada a doações para partidos e políticos
Fausto Macedo e Ricardo Brandt*
A Polícia Federal suspeita que o
engenheiro Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobrás, e o
doleiro Alberto Youssef – alvos da operação Lava Jato – empenharam-se na
montagem de complexo esquema de criação de offshores para blindagem de patrimônio
e ocultação de valores ilícitos doados a políticos e partidos.
A maior parte do dinheiro, para os
investigadores, teria origem em supostos desvios de contratos da estatal com
empreiteiras e fornecedoras. Essas offshores (empresas de fachada) teriam sido
usadas para a remessa de dinheiro para o exterior. Pelo menos duas já são
citadas em uma ação penal instaurada contra o doleiro: DGX Imp and Exp Limited
e RFY Imp. Exp. Ltd.
Por meio delas, de junho de 2011 a
março de 2014, Youssef teria lavado dinheiro supostamente
desviado da Petrobrás. Os investigadores rastrearam pelo menos US$ 78,2 milhões
enviados por meio de 1.114 contratos de câmbio fraudulentos, que simulavam
importações.
Costa está com US$ 23 milhões
bloqueados na Suíça. Youssef está com US$ 5 milhões congelados naquele país. A
suspeita é que as offshores foram usadas para movimentação desses valores.
A avaliação dos investigadores foi
feita a partir da análise dos documentos aprendidos no dia 17 de março, quando
a Operação Lava Jato foi desencadeada. Entre esses papéis estão a agenda
pessoal de Costa e uma planilha de duas páginas com anotações manuscritas, esta
encontrada em poder de um ex-aliado do ex-deputado José Janene (PR) que, no
escândalo do mensalão federal, era o líder do PP na Câmara.
Janene, que morreu em setembro de
2010, era amigo e mantinha negócios com Youssef. A PF e a Procuradoria da
República cravam que Youssef e Costa foram os mentores de organização criminosa
que se teria infiltrado em órgãos públicos e na própria Petrobrás.
Conexão. Os investigadores cruzaram informações da planilha do ex-assessor
de Janene e da agenda de Costa e identificaram menção a offshores para lavar o
dinheiro que teria como fonte pelo menos seis empresas citadas no documento.
A planilha, juntada a um inquéritos
instaurado há três meses sobre a lavagem do dinheiro, representa para os
agentes indício forte da colaboração de campanha para candidatos. Nela há nomes
de doadoras e executivos supostamente ligados a Costa. Eles deverão ser ouvidos
no inquérito.
Defesa. O criminalista Nelio Machado, que defende o engenheiro Paulo Roberto
Costa, declarou que nas duas ações penais instauradas contra o ex-diretor de
Abastecimento da Petrobrás não há nenhuma referência à planilha com nomes de
empreiteiras e supostas doações. Segundo Machado, as testemunhas ouvidas em um
dos processos “nada declararam nessa direção”.
Para o advogado, as acusações contra
Costa “são uma presunção, não propriamente uma decorrência de investigação
policial”. Machado disse que o ex-diretor da estatal “jamais falou sobre isso
(as informações da planilha e da agenda pessoal)”.
Na
planilha manuscrita usada para identificar as supostas origens do dinheiro
lavado por meio das offshores, estão seis empresas que têm 77 contratos com a
Petrobrás: Mendes Júnior, UTC/Constran, Engevix, Iesa, Hope e Toyo Sental. Elas
doaram até R$ 35,3 milhões para partidos da base aliada do governo federal nas
eleições de 2010, segundo a investigação.
*Estadão
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