segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Artigo

DO MEU ASÇERVO PEÇOAL

Cesar Cabral*

Leve e solto como uma pluma pelo ar, continuo escrevendo sobre inutilidades. Fuçando aqui e acolá, encontrei verdadeiras obras de arte em blogues, jornais e revistas e, edições digitais onde tudo é possível até o que é indevido. São coisas do meu “asçervo peçoal”.
Como sou maios ou menos desorganizado, por absoluta ignorância em meus guardados internéticos, nada está em ordem nenhuma; nem por data, nem por blog, jornal,revista, ordem alfabética e nem numérica.
No O Globo, no blog “Educação à Brasileira” o título do artigo é: “Cai o numero de crianças no Brasil”. Não sei o numero de crianças caídas, nem onde nem como essa tragédia aconteceu. Na primeira linha do texto o “blogueiro” escreve: “A população brasileira continua crescendo, mas cada vez menos.” E acrescenta sabiamente que “o resultado é que o número de crianças vem caindo”.
Aflito, procuro ajuda antes de ter um surto sei lá do que e sair por aí fazendo coisas que depois, talvez, me arrependa ou não (como diz Caetano Veloso) tais como “...de bêbado não tem dono!”
Demétrio Weber, que assina o blogue, 40 anos de idade, se define Jornalista Amigo da Criança, um título que diz ter recebido de uma tal de Agência de Notícias dos Direitos da Criança (Andi). Não duvido, porque não posso. Apenas acho engraçado, coisa que posso e as pampas.
Usar o verbo cair como sinônimo de diminuir, que pode ser tornar menor, mais curto, abreviar, reduzir, subtrair (aritmética), é um modismo ou ignorância. Nesse caso acho que é as duas coisas, pois hoje é o que se ouve e se lê. “Cai a Bolsa de Tóquio”. Ora o que cai é o índice, o indicador de valor.
No caso do jornalista Amigo da Criança a ignorância prevalece, pois ele começa certo e acaba errado. “Cai o número”, mas sendo “de crianças”, embora diga que é no Brasil, não se sabe onde caíram. Se no conto do vigário, se na conversa de um pedófilo; sabe-se lá!
Na GloboNews um elegante apresentador narrando a abertura dos Jogos Olímpicos de Inverno na Rússia nos diz que a festa esta “muito bonita apesar da não presença de várias autoridades, entre elas Barack Obama”.
Arquibaldo, o Breve, ao meu lado me pergunta se não seria melhor dizer apenas “da ausência de varias...”, já que ele imagina que quem não está presente é porque, certamente, está ausente. “да, приятель – Da  tovarishch”, respondi, mas ainda com um leve sotaque português brasileiro.
Na Folha de São Paulo, a colunista Maria Cristina Frias (uma das donas do jornal),jornalista que edita a coluna Mercado Aberto, diz ela, sobre macroeconomia,negócios e vida empresarial. O título da coluna de hoje é: ”Fila de
espera por instalação de ar-condicionado tem alta”.C’os diabos! O que isso quer dizer?
No Correio do Povo leio que Kleber tem lesão ”ligamentar” no joelho. Como sou tricolor acho isso “lamentante”.Mas acredito que os médicos conseguirão a “religamentação” do joelho do atacante.
Por falta de assunto e de dinheiro e atacado pela virose da preguiça devido ao aumento do IPTU de apenas 285%, fui em busca de uma explicação e de alguma coisa nesse planeta que tenha um aumento dessa ordem. Encontrei apenas a explicação do Secretário de Finanças do Município: “Fortaleza precisa aumentar seus recursos próprios. Mais de 60% das receitas são transferências do Estado e da União.” E que “não haverá novo reajuste real
antes de 2017”. E Finalizou a “coletiva” –(O Sindicato da Habitação do Ceará (Secovi) entrou na Justiça com uma ação coletiva contra o reajuste do imposto) – dizendo que a Procuradoria Geral do Município (PGM) está preparada para a disputa judicial e que não acredita haver ganho de causa para o setor imobiliário”. Depois dessas arrogantes e prepotentes “explicações”, nada mais foi perguntado e os repórteres bateram os calcanhares e foram para as redações repetir o “press release”.
Ai lembrei-me do “repúdio radical” que a imprensa em geral e o Sindicato dos Jornalistas do Rio especificamente andam fazendo sobre os comentário da jornalista Rachel Sheherazade que, com o experiente jornalista Joseval Peixoto, apresenta o telejornal SBT Brasil. A paraibana jornalista sempre fez seus comentários e assinou o que disse desde quando saiu da Universidade Federal da Paraíba em1994. Trabalhou em três emissoras de TV, até chegar ao SBT, a convite de Silvio Santos, e seu trabalho passou a ser visto em todo o país. Não é, portanto, uma modelo ou assistente de palco bonita que foi ler notícias
na bancada de um telejornal.
Disse que os “defensores do laicismo radical e antirreligioso são ingratos com o Cristianismo”, quando o governo mandou imprimir nas notas de real a frase “Deus seja louvado”.
Defendeu a liberdade de expressão e religiosa do pastor e deputado federal Marco Feliciano afirmando que “ele tem o direito de manifestar opiniões e que foi eleito democraticamente”.
 Em dezembro do ano passado o professor de filosofia da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, postou (que palavra!!) no facebook dele uma mensagem de fim de ano: “Votos para 2014.Que a Rachel Sherazedo(sic) seja estuprada”. Rachel foi à polícia. O professor de filosofia negou a denuncia e disse que o FC dele havia sido invadido por hackers. Assunto encerrado.A jornalista não é uma unanimidade apesar dos milhares de acessos que tem no youtube, twitter e facebook. Ela é, porém, a única a fazer comentários no telejornal do SBT. Em nenhum outro telejornal há um jornalista que faça o que ela faz. Talvez Rachel não dure muito mais tempo no SBT – e não será contratada por nenhuma outra emissora. Será uma espécie feminina de Jorge Kajuru, banido da televisão porque diz o que pensa e denuncia as maracutaias do futebol. E prova.
O art. 6º do Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros dia que é dever do jornalista:- opor-se ao arbítrio, ao autoritarismo e à opressão, bem como defender os princípios expressos na Declaração dos Direitos Humanos;
- defender o direito dos cidadãos, contribuindo para a promoção das garantias individuais e coletivas, em especial as das crianças, adolescentes, mulheres, idosos, negros e minorias; (aqui cabe um breve comentário: em especial quanto aos negros e minorias. O que há com os nossos negros, estão sob ameaça? Seriam alguma espécie que a imprensa tem o dever de defender, de contribuir para promover seja lá o que for? Dar esse destaque aos negros, sobretudo porque entre eles há crianças, adolescentes, idosos, mulheres, homens não é segregar, afastar, apartar, isolar, separar, na definição do Michaelis, os negros? Já não bastam as estúpidas “cotas” para entrar numa Universidade? Vejam bem caros leitores: se numa Faculdade de Medicina, por exemplo, existem 100 vagas, 25 estão reservadas aos negros, que no total são 42 candidatos, todos aprovados. O que fazer com os outros 17? E as minorias? Quem são? Se significar os desprotegidos,os pobres,os analfabetos; os que não tem escolas,hospitais; os que não tem onde morar, o que comer, esses são a maioria. Então posso pensar que entre os 200 milhões de brasileiros as minorias sejam os que tem tudo o que a maioria não tem. Será esse “defender os direitos dos cidadãos” um dos papéis de imprensa?) combater a prática de perseguição ou discriminação por motivos sociais, econômicos, políticos, religiosos, de gênero, raciais, de orientação sexual, condição física
ou mental, ou de qualquer outra natureza. ( Combater a prática disso tudo “ou de qualquer outra natureza”? O que é mesmo que significa isso? Quem será que escreveu
essa bobagem com “jeitão” de discurso de comunista/democrata dos anos 50?)
Art. 7º O jornalista não pode:
 – usar o jornalismo para incitar a violência, a intolerância, o arbítrio e o crime; ( Nem ninguém; num palanque,num palco com show de qualquer coisa;nem dentro do ônibus;do avião; na delegacia de polícia; num cabaré; numa igreja; seja lá onde for.
O 7º art. não é privilégio de jornalistas, meus caros! O Art. 3º da Constituição Federal define que o objetivo da República Federal do Brasil também consiste em "IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras
formas de discriminação." Além do mais tudo isso também está previsto nos Códigos Civil e Penal. A final qual é o papel da imprensa? Pergunto e respondo: é, em princípio, com precisão, buscar o direito a informação. A imprensa não é uma entidade, asséptica, transparente, inodora e incolor. Reflete a sociedade a qual pertence, ao país onde atua. Limites e direitos são conceitos abstratos que os ordenamentos jurídicos determinam seus parâmetros. A imprensa e seu papel não é uma unânime é verdade em todo o planeta, em
todos os países em qualquer regime político. A imprensa é controversa por sua natureza.
Sua prática segue parâmetros, obedece regras e normas, estilos e conveniências. O código dos jornalistas é uma utopia delirante. Jornais, impressos ou não, seguem a linha editorial de seus proprietários. O primeiro jornal diário do Brasil, o Diário do Rio de Janeiro, em l822, sequer noticiou o Grito do Ipiranga. Talvez porque tenha sido um caso único na história das civilizações que uma colônia de um império ficou independente no grito e
tornou-se um outro império.Uma dezena de jornais fervilhava o Rio de Janeiro nos primeiros anos do regime republicano, cada um com uma linha editorial. Max Leclerc, jornalista e escritor Frances, que naquela época estava no Rio, autor do livro “Lettres Du Bresil” (livro raro que encontrei num sebo por 300,00 e não comprei) escreveu esse trecho: "A imprensa no Brasil é um reflexo fiel do estado social nascido do governo paterno e anárquico de D. Pedro II: por um lado, alguns grandes jornais muito prósperos, providos
de uma organização material poderosa e aperfeiçoada, vivendo principalmente de publicidade, organizados em suma e antes de tudo como uma empresa comercial e visando mais penetrar em todos os meios e estender o círculo de seus leitores para aumentar o valor de sua publicidade, a empregar sua influência na orientação da opinião pública. (...) Em torno deles, a multidão multicor de jornais de partidos que, longe de ser bons negócios,
vivem de subvenções desses partidos, de um grupo ou de um político e só são lidos se o homem que os apoia está em evidência ou é temível."
 Em 125 anos de República pouca coisa mudou na imprensa e no jornalismo, como se pode ver. A ética e a moral não advêm da religião e muito menos do jornalismo como muitos nos fazem acreditar. O cristianismo tem seus pedófilos, estelionatários, ladrões assim como a imprensa têm os seus; inclusive assassinos.
Não concordo com tudo o que Rachel Sheherazade diz nos comentários que faz e penso mesmo que logo poderá ser dispensada do SBT. Acho apenas que a imprensa, sobretudo o jornalismo de televisão, precisa disso.
Jornalistas que opinem; que fazem a audiência sair da letargia provocada pelo “press release” diário. Ou ficar “noticiando” durante semanas, antes e depois, um tal
de “beijo gay” numa novela de TV. Não gostei. Achei o beijo muito fraquinho, parecido com os “selinhos” da Hebe. Pensei que beijo gay fosse outra coisa.
Na dúvida perguntei a um amigo gay como era. Ele me disse que é como qualquer outro beijo que trocam os amantes de qualquer gênero.
- “Quer experimentar?” - ofereceu-se amável. Agradeci a oferta e alegando falta de tempo sai de fininho; à francesa.

*Jornalista e escritor

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