DO MEU ASÇERVO PEÇOAL
Cesar Cabral*
Leve e solto como uma pluma
pelo ar, continuo escrevendo sobre inutilidades. Fuçando aqui e acolá, encontrei
verdadeiras obras de arte em blogues, jornais e revistas e, edições digitais
onde tudo é possível até o que é indevido. São coisas do meu “asçervo peçoal”.
Como sou maios ou menos
desorganizado, por absoluta ignorância em meus guardados internéticos, nada
está em ordem nenhuma; nem por data, nem por blog, jornal,revista, ordem
alfabética e nem numérica.
No O Globo, no blog “Educação
à Brasileira” o título do artigo é: “Cai o numero de crianças no Brasil”. Não
sei o numero de crianças caídas, nem onde nem como essa tragédia aconteceu. Na
primeira linha do texto o “blogueiro” escreve: “A população brasileira continua
crescendo, mas cada vez menos.” E acrescenta sabiamente que “o resultado é que
o número de crianças vem caindo”.
Aflito, procuro ajuda antes
de ter um surto sei lá do que e sair por aí fazendo coisas que depois, talvez,
me arrependa ou não (como diz Caetano Veloso) tais como “...de bêbado não tem
dono!”
Demétrio Weber, que assina o
blogue, 40 anos de idade, se define Jornalista Amigo da Criança, um título que diz
ter recebido de uma tal de Agência de Notícias dos Direitos da Criança (Andi).
Não duvido, porque não posso. Apenas acho engraçado, coisa que posso e as
pampas.
Usar o verbo cair como
sinônimo de diminuir, que pode ser tornar menor, mais curto, abreviar, reduzir,
subtrair (aritmética), é um modismo ou ignorância. Nesse caso acho que é as
duas coisas, pois hoje é o que se ouve e se lê. “Cai a Bolsa de Tóquio”. Ora o
que cai é o índice, o indicador de valor.
No caso do jornalista Amigo
da Criança a ignorância prevalece, pois ele começa certo e acaba errado. “Cai o
número”, mas sendo “de crianças”, embora diga que é no Brasil, não se sabe onde
caíram. Se no conto do vigário, se na conversa de um pedófilo; sabe-se lá!
Na GloboNews um elegante
apresentador narrando a abertura dos Jogos Olímpicos de Inverno na Rússia nos
diz que a festa esta “muito bonita apesar da não presença de várias
autoridades, entre elas Barack Obama”.
Arquibaldo, o Breve, ao meu
lado me pergunta se não seria melhor dizer apenas “da ausência de varias...”,
já que ele imagina que quem não está presente é porque, certamente, está
ausente. “да, приятель – Da tovarishch”,
respondi, mas ainda com um leve sotaque português brasileiro.
Na Folha de São Paulo, a
colunista Maria Cristina Frias (uma das donas do jornal),jornalista que edita a
coluna Mercado Aberto, diz ela, sobre macroeconomia,negócios e vida
empresarial. O título da coluna de hoje é: ”Fila de
espera por instalação de
ar-condicionado tem alta”.C’os diabos! O que isso quer dizer?
No Correio do Povo leio que
Kleber tem lesão ”ligamentar” no joelho. Como sou tricolor acho isso “lamentante”.Mas
acredito que os médicos conseguirão a “religamentação” do joelho do atacante.
Por falta de assunto e de
dinheiro e atacado pela virose da preguiça devido ao aumento do IPTU de apenas 285%,
fui em busca de uma explicação e de alguma coisa nesse planeta que tenha um
aumento dessa ordem. Encontrei apenas a explicação do Secretário de Finanças do
Município: “Fortaleza precisa aumentar seus recursos próprios. Mais de 60% das
receitas são transferências do Estado e da União.” E que “não haverá novo
reajuste real
antes de 2017”. E Finalizou a
“coletiva” –(O Sindicato da Habitação do Ceará (Secovi) entrou na Justiça com
uma ação coletiva contra o reajuste do imposto) – dizendo que a Procuradoria
Geral do Município (PGM) está preparada para a disputa judicial e que não
acredita haver ganho de causa para o setor imobiliário”. Depois dessas
arrogantes e prepotentes “explicações”, nada mais foi perguntado e os
repórteres bateram os calcanhares e foram para as redações repetir o “press
release”.
Ai lembrei-me do “repúdio
radical” que a imprensa em geral e o Sindicato dos Jornalistas do Rio
especificamente andam fazendo sobre os comentário da jornalista Rachel Sheherazade
que, com o experiente jornalista Joseval Peixoto, apresenta o telejornal SBT
Brasil. A paraibana jornalista sempre fez seus comentários e assinou o que disse
desde quando saiu da Universidade Federal da Paraíba em1994. Trabalhou em três
emissoras de TV, até chegar ao SBT, a convite de Silvio Santos, e seu trabalho passou
a ser visto em todo o país. Não é, portanto, uma modelo ou assistente de palco
bonita que foi ler notícias
na bancada de um telejornal.
Disse que os “defensores do
laicismo radical e antirreligioso são ingratos com o Cristianismo”, quando o governo
mandou imprimir nas notas de real a frase “Deus seja louvado”.
Defendeu a liberdade de
expressão e religiosa do pastor e deputado federal Marco Feliciano afirmando
que “ele tem o direito de manifestar opiniões e que foi eleito democraticamente”.
Em dezembro do ano passado o professor de
filosofia da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, postou (que
palavra!!) no facebook dele uma mensagem de fim de ano: “Votos para 2014.Que a
Rachel Sherazedo(sic) seja estuprada”. Rachel foi à polícia. O professor de filosofia
negou a denuncia e disse que o FC dele havia sido invadido por hackers. Assunto
encerrado.A jornalista não é uma unanimidade apesar dos milhares de acessos que
tem no youtube, twitter e facebook. Ela é, porém, a única a fazer comentários
no telejornal do SBT. Em nenhum outro telejornal há um jornalista que faça o
que ela faz. Talvez Rachel não dure muito mais tempo no SBT – e não será
contratada por nenhuma outra emissora. Será uma espécie feminina de Jorge
Kajuru, banido da televisão porque diz o que pensa e denuncia as maracutaias do
futebol. E prova.
O art. 6º do Código de Ética
dos Jornalistas Brasileiros dia que é dever do jornalista:- opor-se ao
arbítrio, ao autoritarismo e à opressão, bem como defender os princípios
expressos na Declaração dos Direitos Humanos;
- defender o direito dos
cidadãos, contribuindo para a promoção das garantias individuais e coletivas,
em especial as das crianças, adolescentes, mulheres, idosos, negros e minorias;
(aqui cabe um breve comentário: em especial quanto aos negros e minorias. O que
há com os nossos negros, estão sob ameaça? Seriam alguma espécie que a imprensa
tem o dever de defender, de contribuir para promover seja lá o que for? Dar
esse destaque aos negros, sobretudo porque entre eles há crianças, adolescentes,
idosos, mulheres, homens não é segregar, afastar, apartar, isolar, separar, na
definição do Michaelis, os negros? Já não bastam as estúpidas “cotas” para entrar
numa Universidade? Vejam bem caros leitores: se numa Faculdade de Medicina, por
exemplo, existem 100 vagas, 25 estão reservadas aos negros, que no total são 42
candidatos, todos aprovados. O que fazer com os outros 17? E as minorias? Quem
são? Se significar os desprotegidos,os pobres,os analfabetos; os que não tem escolas,hospitais;
os que não tem onde morar, o que comer, esses são a maioria. Então posso pensar
que entre os 200 milhões de brasileiros as minorias sejam os que tem tudo o que
a maioria não tem. Será esse “defender os direitos dos cidadãos” um dos papéis de
imprensa?) combater a prática de perseguição ou discriminação por motivos
sociais, econômicos, políticos, religiosos, de gênero, raciais, de orientação
sexual, condição física
ou mental, ou de qualquer
outra natureza. ( Combater a prática disso tudo “ou de qualquer outra
natureza”? O que é mesmo que significa isso? Quem será que escreveu
essa bobagem com “jeitão” de
discurso de comunista/democrata dos anos 50?)
Art. 7º O jornalista não
pode:
– usar o jornalismo para incitar a violência,
a intolerância, o arbítrio e o crime; ( Nem ninguém; num palanque,num palco com
show de qualquer coisa;nem dentro do ônibus;do avião; na delegacia de polícia;
num cabaré; numa igreja; seja lá onde for.
O 7º art. não é privilégio de
jornalistas, meus caros! O Art. 3º da Constituição Federal define que o
objetivo da República Federal do Brasil também consiste em "IV - promover
o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer
outras
formas de
discriminação." Além do mais tudo isso também está previsto nos Códigos
Civil e Penal. A final qual é o papel da imprensa? Pergunto e respondo: é, em
princípio, com precisão, buscar o direito a informação. A imprensa não é uma
entidade, asséptica, transparente, inodora e incolor. Reflete a sociedade a
qual pertence, ao país onde atua. Limites e direitos são conceitos abstratos
que os ordenamentos jurídicos determinam seus parâmetros. A imprensa e seu
papel não é uma unânime é verdade em todo o planeta, em
todos os países em qualquer
regime político. A imprensa é controversa por sua natureza.
Sua prática segue parâmetros,
obedece regras e normas, estilos e conveniências. O código dos jornalistas é
uma utopia delirante. Jornais, impressos ou não, seguem a linha editorial de
seus proprietários. O primeiro jornal diário do Brasil, o Diário do Rio de
Janeiro, em l822, sequer noticiou o Grito do Ipiranga. Talvez porque tenha sido
um caso único na história das civilizações que uma colônia de um império ficou
independente no grito e
tornou-se um outro império.Uma
dezena de jornais fervilhava o Rio de Janeiro nos primeiros anos do regime republicano,
cada um com uma linha editorial. Max Leclerc, jornalista e escritor Frances,
que naquela época estava no Rio, autor do livro “Lettres Du Bresil” (livro raro
que encontrei num sebo por 300,00 e não comprei) escreveu esse trecho: "A
imprensa no Brasil é um reflexo fiel do estado social nascido do governo
paterno e anárquico de D. Pedro II: por um lado, alguns grandes jornais muito
prósperos, providos
de uma organização material
poderosa e aperfeiçoada, vivendo principalmente de publicidade, organizados em suma
e antes de tudo como uma empresa comercial e visando mais penetrar em todos os
meios e estender o círculo de seus leitores para aumentar o valor de sua publicidade,
a empregar sua influência na orientação da opinião pública. (...) Em torno
deles, a multidão multicor de jornais de partidos que, longe de ser bons
negócios,
vivem de subvenções desses
partidos, de um grupo ou de um político e só são lidos se o homem que os apoia
está em evidência ou é temível."
Em 125 anos de República pouca coisa mudou na imprensa
e no jornalismo, como se pode ver. A ética e a moral não advêm da religião e
muito menos do jornalismo como muitos nos fazem acreditar. O cristianismo tem
seus pedófilos, estelionatários, ladrões assim como a imprensa têm os seus;
inclusive assassinos.
Não concordo com tudo o que
Rachel Sheherazade diz nos comentários que faz e penso mesmo que logo poderá ser
dispensada do SBT. Acho apenas que a imprensa, sobretudo o jornalismo de
televisão, precisa disso.
Jornalistas que opinem; que
fazem a audiência sair da letargia provocada pelo “press release” diário. Ou
ficar “noticiando” durante semanas, antes e depois, um tal
de “beijo gay” numa novela de
TV. Não gostei. Achei o beijo muito fraquinho, parecido com os “selinhos” da Hebe.
Pensei que beijo gay fosse outra coisa.
Na dúvida perguntei a um
amigo gay como era. Ele me disse que é como qualquer outro beijo que trocam os
amantes de qualquer gênero.
- “Quer experimentar?” -
ofereceu-se amável. Agradeci a oferta e alegando falta de tempo sai de fininho;
à francesa.
*Jornalista e escritor
Nenhum comentário:
Postar um comentário