O que é da moda não incomoda
Cesar Cabral*
Vocês sabem que moda é o uso
passageiro que num determinado momento regula a forma de viver, vestir, falar,
escrever e que depois de certo tempo passa; sai de moda. Há também a moda
musical cantada e tocada no interior do Brasil e a modinha, geralmente uma
cantiga triste, sentimental. Era a música preferida da elite colonial
brasileira.
“Eu nasci naquela serra num
ranchinho à beira chão. Todo cheio de buraco onde a lua faz clarão...” Essa é
uma das mais conhecidas pra quem nasceu a mais de meio século. Mas a que eu
mais gosto é “Não há oh gente oh não luar como esse do sertão.” É bonito de se
ver e silencioso de se ouvir; a não ser um pio aqui outro lá de uma coruja.
Pois a moda vai e vem e o que
é da moda não incomoda, como era moda dizer-se antigamente. E como tudo o que
já foi moda e sai da moda, não se ouve mais alguém dizer que uma mulher
gostosa, cintura fina – que era moda – avantajados quadris e uma bunda saliente
era “um violão”. Eu vi, bem de pertinho, algumas que eram verdadeiros
contrabaixos.
Uma guria bonitinha,
elegante, educada, adolescente era “um brotinho”. Roberto Carlos nos tempos na
Jovem Guarda cantava avisando “ brotinho toma juízo, ouve o meu conselho,abotoa
esse decote, vê se cobre esse joelho...”
Paulo Mendes Campos
impressionado com os “brotinhos” escreveu em uma de suas maravilhosas crônicas
que ser brotinho “não é viver em um píncaro azulado: é muito mais.” E com sua
genialidade explicou que ser “brotinho é ainda possuir vitrola própria e
perambular pelas ruas do bairro com um ar sonso-vagaroso, abraçada a uma porção de elepês coloridos. Ser brotinho é adorar. Adorar o impossível. Ser brotinho é
detestar. Detestar o possível. É acordar ao meio-dia com uma cara horrível,
comer somente
e lentamente uma fruta meio
verde, e ficar de pijama telefonando até a hora do jantar, e não jantar, e ir
devorar um sanduíche americano na esquina, tão estranha é a vida sobre a Terra."
Hoje ele as chamaria de adolescente e as vitrolas e elepês de outra coisa. O
mais continua o mesmo.
Até o velho Lua, o Gonzagão,
que ninguém tratava assim, mas apenas de “Seu Luiz”, com seu parceiro Humberto
Teixeira não resistiram a moda e compuseram “Ai,ai, brotinho, não cresça meu
brotinho e nem murche como a flor. Ai, ai, brotinho eu sou um galho velho mas,
quero seu amor.
Meu brotinho, por favor, não
cresça, por favor, não cresça,já é grande o cipoal.
Tá sobrando galharia seca, tá
pegando fogo no meu carnaval.”
Apesar desses últimos versos
quase incompreensíveis, foi um grande sucesso
naquelas chanchadas do cinema
– se não me engano dirigidas por Carlos Manga - no final dos anos 50, cantada
por Francisco Carlos, que era um broto.
Mas não vamos confundir moda
com modismo esse idiotismo de linguagem. Os exemplos são tantos e alguns de
vida tão curta que não dá pra guardar na memória mesmo que ela fosse um HD de
10 TB. Os modismos de hoje chegaram com abreviaturas e códigos à internete e são
usados em todos os países desse mundo. Recebi um e-mail de uma instituição
norte americana com o seguinte texto – em inglês, é claro
- “t’requested inf m’only be in 4wks. wait, p’tings.” Isso significa: “the
requested information may only be provided in four weeks. Wait please, greetings.” (As informações solicitadas
só podem ser prestadas em quatro semanas. Aguarde por favor. Cumprimentos.)
É praga.
O pão já deixou por um certo
tempo de ser aquela massa assada que todo mundo come. Um homem bonitão já foi
chamado de pão. Tive uma amiga que toda a noite empanturrava-se de pão; de
cacetinho, nesse caso um qualificativo regional do tradicional pãozinho
francês, mas que noutro sentido poderia decepcionar muitas gurias gulosas. E
davam o bolo, que não é o que parece, mas, sim, apenas não se encontrariam
mais. Dar o bolo era não aparecer no dia e na hora combinados.
Os criminosos e a polícia têm
suas gírias e apenas eles se entendem; mas também saem de moda e novas surgem.
Os soldados da Brigada Militar já foram chamados de Pé de Porco por causa do
formato do bico das botas. Pé de Chinelo era ladrãozinho mixuruca, que também
da já saiu da moda. Quero dizer só os ladrõezinhos mixurucas!
Hoje com a velocidade que a
internete nos obriga a andar, pensar e agir surgem palavra da moda que duram,
às vezes, uns dois ou três usos.Mas quem dá vida e um longo tempo a palavra da
moda é a imprensa – os jornais, televisões e as emissoras de rádio.
As outras “midias” só vão
imitando. Uma apresentadora de TV, que desapareceu, ( acho que foi abduzida)
quando narrava uma imagem ao vivo, sobre tudo quando se tratava de uma desgraça
qualquer, avisava que “essas são imagem de momento”. Queria dizer ao vivo. E se
não fosse, qual a diferença que teria a imagem viva ou morta? Audiência meus
caros leitores. Só que ninguém vê mais de um canal ao mesmo tempo.
Gírias, códigos, senhas (
quem não tem uma senha hoje em dia não faz “login” nem pra fazer pipi) modismos
sempre existiram, morreram e outros mais nascerão. Na tal de mídia não sei qual
é o propósito de bobagens como “ imagens feitas por um cinegrafista amador”; um
tipo que já desapareceu que eram um bonitão da classe média com uma “máquina”
(era assim que se chamava uma filmadora!) super 8mmm. Os profissionais
trabalhavam com uma câmera 16mmm. Essas máquinas e esses cinegrafistas já desapareceram
a mais de 50 anos e em tempos de celulares e outras geringonças a mídia TV
continua nos fazendo essa advertência. Tem a tal de “exclusividade”; uma coisa
que não interessa a ninguém, e só não é pior do que a “emissora que mais cresce”
no país.
Quando ninguém em terras
brasilinas sabia o que era mesmo esse tal de marketing – exceto quem sabia ler
e entender inglês e os “cases” dos livros de Philip Kotler,Kevin Keller,Gary Armstrong, Theadore Levit, e
outros, marketing, era “coisa” feita por jornalistas, onde se destacavam os
“promotores de eventos e colunistas sociais”. Sim era uma coisa hibrida; uma
mistura de jornalismo com relações públicas e gente que tinha influência aqui e
ali, boa conversa, boa pinta, sempre “enfatiotados” mesmo com os 40º que fazia
a sombra das arvores da Praça da Alfândega em Porto Alegre. Enfim, era um
sujeito que tinha jeito pra coisa. Depois os publicitários tomaram o lugar.
Levou tempo, mas a atividade foi parar nas mãos certas. E aí se criou a palavra
“marqueteiro”, que no início era quase uma ofensa, uma espécie de deboche.
Marketing, como atividade
profissional e, sobretudo especialidade, está hoje perfeitamente integrado ao
nosso mercado de trabalho como profissão e até que com certo status.
Cada época tem sua gíria e
sua palavra da moda. A de 2014 será “constrangimento”, que a Globonews utiliza
7 , 8 vezes numa única frase. Constrangimento, como todo mundo sabe, é aquele substantivo
masculino que tira liberdade de ação com violência, que é o ato de constranger;
esse verbo que significa apertar, impedir movimentos coagir, forçar, obrigar
pela força, violar.
Acontece que a palavra
“constrangimento” está sendo usada como sinônimo que “mal estar”, “um
enjoosinho”, uma espécie de vergonha transitória; qualquer coisa como baixar os
olhos pra não encarar o outro, um entabulamento coletivo. Como por exemplo, “a cassação
de Genoino está causando um certo constrangimento na base do governo”. Isso é:
a turma da base anda pra lá e pra cá feito barata tonta sem saber o que fazer
com o farsante.
A imprensa usará a palavra
“constrangimento” como um eufemismo amaciante para ossos duros de roer; que
serão muitos. Prestem atenção.
Mudando de assunto
Havia um ditado em São Paulo
lá pelo final dos anos 1977 “ Quem acende e fuma, o Romeu vem e Tuma.” Romeu
Tuma foi Delegado do DOPS de 1977 a 1982. No livro Habeas Corpus, lançado em 2011,
consta que ele “participou ativamente na ocultação de cadáveres e militantes
políticos (penso que se refere a “esquerda”, PT,PCB,PC do B,
MTR8, MOLIPO, ALN, VAR-PALMARES, VPR (ex Colina da Dilma Vana), assassinados sob
tortura e no falseamento de informações que poderiam levar à localização dos
corpos dos desaparecidos políticos.”
Não li ainda (estou em
dúvida!) o livro que o filho, policial e delegado como ele escreveu (!). Li
reportagens e entrevistas. Acabei cheio de perguntas: achar que o Lula era
informante do Tuma porque dormia no sofá da sala, não prova nem que ele estava
sequer dormindo. É acreditar que o caçador abriu a barriga do lobo e tirou de
la de dentro a infeliz vovozinha ainda com vida,
serelepe e contente. Acho que ela teria dito: “Lobo bobo!”
No governo Collor o
Tuma continuou dirigindo a Polícia Federal e depois foi Secretário da Receita
Federal ( alias atividades com conhecimentos tão afins entre si como piloto e
carpinteiro que qualquer pessoa desempenha com 100 por cento de conhecimento.
Por duas vezes os paulistas o elegem
senador pelo PL (hoje PR ) e depois andou passeando por uma meia dúzia de
outros partidos até que em 2002 numa coligação com PT,PCB,PC do B e PMN, Romeu
Tuma já um Senador ajuda a eleger Lula. Romeu Tuma Filho, que já foi Secretário
Nacional de Justiça, disse numa entrevista que escreveu o livro para “revelar o
motivo de terem me tirado da função, (2010) por meio de ataque serrado à minha reputação,
o que foi feito de forma sórdida.” Será que esse livro não vai causar algum
“constrangimento”?
*Jornalista e Escritor
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