sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Crônica

O que é da moda não incomoda

Cesar Cabral*

Vocês sabem que moda é o uso passageiro que num determinado momento regula a forma de viver, vestir, falar, escrever e que depois de certo tempo passa; sai de moda. Há também a moda musical cantada e tocada no interior do Brasil e a modinha, geralmente uma cantiga triste, sentimental. Era a música preferida da elite colonial brasileira.
“Eu nasci naquela serra num ranchinho à beira chão. Todo cheio de buraco onde a lua faz clarão...” Essa é uma das mais conhecidas pra quem nasceu a mais de meio século. Mas a que eu mais gosto é “Não há oh gente oh não luar como esse do sertão.” É bonito de se ver e silencioso de se ouvir; a não ser um pio aqui outro lá de uma coruja.
Pois a moda vai e vem e o que é da moda não incomoda, como era moda dizer-se antigamente. E como tudo o que já foi moda e sai da moda, não se ouve mais alguém dizer que uma mulher gostosa, cintura fina – que era moda – avantajados quadris e uma bunda saliente era “um violão”. Eu vi, bem de pertinho, algumas que eram verdadeiros contrabaixos.
Uma guria bonitinha, elegante, educada, adolescente era “um brotinho”. Roberto Carlos nos tempos na Jovem Guarda cantava avisando “ brotinho toma juízo, ouve o meu conselho,abotoa esse decote, vê se cobre esse joelho...”
Paulo Mendes Campos impressionado com os “brotinhos” escreveu em uma de suas maravilhosas crônicas que ser brotinho “não é viver em um píncaro azulado: é muito mais.” E com sua genialidade explicou que ser “brotinho é ainda possuir vitrola própria e perambular pelas ruas do bairro com um ar sonso-vagaroso, abraçada a uma porção de elepês coloridos. Ser brotinho é adorar. Adorar o impossível. Ser brotinho é detestar. Detestar o possível. É acordar ao meio-dia com uma cara horrível, comer somente
e lentamente uma fruta meio verde, e ficar de pijama telefonando até a hora do jantar, e não jantar, e ir devorar um sanduíche americano na esquina, tão estranha é a vida sobre a Terra." Hoje ele as chamaria de adolescente e as vitrolas e elepês de outra coisa. O mais continua o mesmo.
Até o velho Lua, o Gonzagão, que ninguém tratava assim, mas apenas de “Seu Luiz”, com seu parceiro Humberto Teixeira não resistiram a moda e compuseram “Ai,ai, brotinho, não cresça meu brotinho e nem murche como a flor. Ai, ai, brotinho eu sou um galho velho mas, quero seu amor.
Meu brotinho, por favor, não cresça, por favor, não cresça,já é grande o cipoal.
Tá sobrando galharia seca, tá pegando fogo no meu carnaval.”
Apesar desses últimos versos quase incompreensíveis, foi um grande sucesso
naquelas chanchadas do cinema – se não me engano dirigidas por Carlos Manga - no final dos anos 50, cantada por Francisco Carlos, que era um broto.
Mas não vamos confundir moda com modismo esse idiotismo de linguagem. Os exemplos são tantos e alguns de vida tão curta que não dá pra guardar na memória mesmo que ela fosse um HD de 10 TB. Os modismos de hoje chegaram com abreviaturas e códigos à internete e são usados em todos os países desse mundo. Recebi um e-mail de uma instituição norte americana com o seguinte texto – em inglês, é claro
- “t’requested inf m’only be in 4wks. wait, p’tings.” Isso significa: “the requested information may only be provided in four weeks. Wait please, greetings.” (As informações solicitadas só podem ser prestadas em quatro semanas. Aguarde por favor. Cumprimentos.)
É praga.
O pão já deixou por um certo tempo de ser aquela massa assada que todo mundo come. Um homem bonitão já foi chamado de pão. Tive uma amiga que toda a noite empanturrava-se de pão; de cacetinho, nesse caso um qualificativo regional do tradicional pãozinho francês, mas que noutro sentido poderia decepcionar muitas gurias gulosas. E davam o bolo, que não é o que parece, mas, sim, apenas não se encontrariam mais. Dar o bolo era não aparecer no dia e na hora combinados.
Os criminosos e a polícia têm suas gírias e apenas eles se entendem; mas também saem de moda e novas surgem. Os soldados da Brigada Militar já foram chamados de Pé de Porco por causa do formato do bico das botas. Pé de Chinelo era ladrãozinho mixuruca, que também da já saiu da moda. Quero dizer só os ladrõezinhos mixurucas!
Hoje com a velocidade que a internete nos obriga a andar, pensar e agir surgem palavra da moda que duram, às vezes, uns dois ou três usos.Mas quem dá vida e um longo tempo a palavra da moda é a imprensa – os jornais, televisões e as emissoras de rádio.
As outras “midias” só vão imitando. Uma apresentadora de TV, que desapareceu, ( acho que foi abduzida) quando narrava uma imagem ao vivo, sobre tudo quando se tratava de uma desgraça qualquer, avisava que “essas são imagem de momento”. Queria dizer ao vivo. E se não fosse, qual a diferença que teria a imagem viva ou morta? Audiência meus caros leitores. Só que ninguém vê mais de um canal ao mesmo tempo.
Gírias, códigos, senhas ( quem não tem uma senha hoje em dia não faz “login” nem pra fazer pipi) modismos sempre existiram, morreram e outros mais nascerão. Na tal de mídia não sei qual é o propósito de bobagens como “ imagens feitas por um cinegrafista amador”; um tipo que já desapareceu que eram um bonitão da classe média com uma “máquina” (era assim que se chamava uma filmadora!) super 8mmm. Os profissionais trabalhavam com uma câmera 16mmm. Essas máquinas e esses cinegrafistas já desapareceram a mais de 50 anos e em tempos de celulares e outras geringonças a mídia TV continua nos fazendo essa advertência. Tem a tal de “exclusividade”; uma coisa que não interessa a ninguém, e só não é pior do que a “emissora que mais cresce” no país.
Quando ninguém em terras brasilinas sabia o que era mesmo esse tal de marketing – exceto quem sabia ler e entender inglês e os “cases” dos livros de Philip Kotler,Kevin Keller,Gary Armstrong, Theadore Levit, e outros, marketing, era “coisa” feita por jornalistas, onde se destacavam os “promotores de eventos e colunistas sociais”. Sim era uma coisa hibrida; uma mistura de jornalismo com relações públicas e gente que tinha influência aqui e ali, boa conversa, boa pinta, sempre “enfatiotados” mesmo com os 40º que fazia a sombra das arvores da Praça da Alfândega em Porto Alegre. Enfim, era um sujeito que tinha jeito pra coisa. Depois os publicitários tomaram o lugar. Levou tempo, mas a atividade foi parar nas mãos certas. E aí se criou a palavra “marqueteiro”, que no início era quase uma ofensa, uma espécie de deboche.
Marketing, como atividade profissional e, sobretudo especialidade, está hoje perfeitamente integrado ao nosso mercado de trabalho como profissão e até que com certo status.
Cada época tem sua gíria e sua palavra da moda. A de 2014 será “constrangimento”, que a Globonews utiliza 7 , 8 vezes numa única frase. Constrangimento, como todo mundo sabe, é aquele substantivo masculino que tira liberdade de ação com violência, que é o ato de constranger; esse verbo que significa apertar, impedir movimentos coagir, forçar, obrigar pela força, violar.
Acontece que a palavra “constrangimento” está sendo usada como sinônimo que “mal estar”, “um enjoosinho”, uma espécie de vergonha transitória; qualquer coisa como baixar os olhos pra não encarar o outro, um entabulamento coletivo. Como por exemplo, “a cassação de Genoino está causando um certo constrangimento na base do governo”. Isso é: a turma da base anda pra lá e pra cá feito barata tonta sem saber o que fazer com o farsante.
A imprensa usará a palavra “constrangimento” como um eufemismo amaciante para ossos duros de roer; que serão muitos. Prestem atenção.

Mudando de assunto

Havia um ditado em São Paulo lá pelo final dos anos 1977 “ Quem acende e fuma, o Romeu vem e Tuma.” Romeu Tuma foi Delegado do DOPS de 1977 a 1982. No livro Habeas Corpus, lançado em 2011, consta que ele “participou ativamente na ocultação de cadáveres e militantes políticos (penso que se refere a “esquerda”, PT,PCB,PC do B, MTR8, MOLIPO, ALN, VAR-PALMARES, VPR (ex Colina da Dilma Vana), assassinados sob tortura e no falseamento de informações que poderiam levar à localização dos corpos dos desaparecidos políticos.”
Não li ainda (estou em dúvida!) o livro que o filho, policial e delegado como ele escreveu (!). Li reportagens e entrevistas. Acabei cheio de perguntas: achar que o Lula era informante do Tuma porque dormia no sofá da sala, não prova nem que ele estava sequer dormindo. É acreditar que o caçador abriu a barriga do lobo e tirou de la de dentro a infeliz vovozinha ainda com vida, serelepe e contente. Acho que ela teria dito: “Lobo bobo!”  
No governo Collor o Tuma continuou dirigindo a Polícia Federal e depois foi Secretário da Receita Federal ( alias atividades com conhecimentos tão afins entre si como piloto e carpinteiro que qualquer pessoa desempenha com 100 por cento de conhecimento. Por duas vezes os paulistas o elegem senador pelo PL (hoje PR ) e depois andou passeando por uma meia dúzia de outros partidos até que em 2002 numa coligação com PT,PCB,PC do B e PMN, Romeu Tuma já um Senador ajuda a eleger Lula. Romeu Tuma Filho, que já foi Secretário Nacional de Justiça, disse numa entrevista que escreveu o livro para “revelar o motivo de terem me tirado da função, (2010) por meio de ataque serrado à minha reputação, o que foi feito de forma sórdida.” Será que esse livro não vai causar algum “constrangimento”?

*Jornalista e Escritor

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