terça-feira, 29 de outubro de 2013

Crônica

Tumulto de rua não se enfrenta com bordoadas. 
Isso apenas espalha a baderna.

Cesar Cabral*

Lá pelos anos 60 do outro século, a polícia batia com cassetetes de borracha em estudantes, operários, marginais...Mas a questão aqui não é essa; é o cassetete. Eram mais flexíveis, não como são os de hoje feitos de madeira, de nome “Tonfa”, que se compra pela Internete por mais ou menos R$ 50,oo. Segundo Kunhg Fu, um sábio chinês meu amigo há muitos anos, a Tonfa foi desenvolvida há 8 “séculos atrás(!)” – certamente impedidos de desenvolver o que quer que fosse há 8 séculos a frente - como uma arma de madeira pelos habitantes de Okinawa, no Japão, especificamente para uso no caratê.
“Duas Tonfas eram frequentemente usadas simultaneamente, sendo uma arma muito eficiente contra ladrões. Os movimentos circulares da Tonfa eram usados como forma de ataque, a parte lateral era usada para bloquear golpes de nunchakus (aqueles dois bastões presos um ao outro com uma corrente) e as extremidades para ataques penetrantes. É preciso extrema habilidade para o uso da Tonfa e um longo e específico treinamento já que cada uma de suas partes tem uma função. Hoje, substituindo o ultrapassado cassetete de borracha, a Tonfa se tornou um bastão ainda mais resistente feito de fibra sintética, para ser usada como arma de defesa policial!” - assim explicou-me Kunhg Fu. Pois o que se vê não é isso. A polícia usa a Tonfa como se fosse um pedaço de pau pra dar porrada. Não têm preparo; não sabem usá-la já que não recebem treinamento adequado – ou nenhum – tanto de manuseio, com suas diversas possibilidades de uso, quanto um mínimo de preparo psicológico, talvez o idem mais importante para sua utilização. É o que se vê pela TV. Ao vivo o fiasco é 100%. Se me processarem por essas afirmações, não me peçam que prove as afirmações, pois terei que eu mesmo me submeter a uma sessão de tonfadas para provar o que todo mundo sabe. É claro que levarei o honorável Kunhg Fu para apontar os erros e o despreparo da polícia das tonfadas que levarei antes de seguir para o serviço de traumatologia de urgência mais próximo.
Por certo os cassetetes de borracha daqueles anos que já se vão longe não quebravam - como se quebrou a Tonfa de um policial em pânico numa dessas passeatas - a não ser as costelas de quem levava bordoadas. Além disso, o infeliz ficava com um baita hematoma por várias semanas; às vezes varava um mês.
Nunca levei borrachada nessa época de grandes “distúrbios populares” como se dizia. Mas vi amigos e companheiros sofrerem sem dó nem piedade da polícia. Afinal a polícia quando bate, goza.
Corríamos do Mercado Livre, Borges de Medeiros a cima, no centro de Porto Alegre – ainda não havia a tal de Esquina Democrática – e nos safávamos das borrachadas. Não porque fôssemos fujões, nem mais espertos do que os outros protestantes de rua, mas sim por uma questão física. Quem corre mais rapidamente por cima do piso escorregadio do Edifício Sulacap? A gurizada calçando Sete Vidas, vestindo uma calça Faroeste e uma camiseta Hering, ou um brigadiano barrigudo calçando botinas pé-de-porco, 40 anos de idade, 90 kg, “louco de raiva alheia”, sem uma ideologia juvenil, soldo beirando a esmola, faminto e apertado de mijo?
Passados mais de 50 anos a polícia continua fazendo a mesma coisa; usando a mesma tática (!) e estratégia (!). Apenas é que agora usam Tonfas, e andam fardados como soldados de filme de ficção científica. Parecem um esquadrão explorando o sul de Plutão, portanto escudos que mais atrapalham do que mesmo protegem, balas de borracha de ferro, bombas de efeito imoral e indecente e esprei de pimenta, que já não são mais aqueles do tipo lata de inseticida para matar mosquito, mas um trambolho de cor preta tamanho de um extintor de incêndio.E foi só o que mudou. A aparência e não a competência. Ao invés de combaterem os “vândalos”, que a Globo News já está chamando de “arruaceiros”, - Black bloc não “pegou” -  agora batem nos professores que estão na primeira fila; numa briga inglória, corpo a corpo com os escudos feitos de kevlar.
Desde a antiguidade os escudos já eram usados por tropas militares em campos de batalha. Os soldados formavam uma parede de escudos cada um lado a lado. Assim cada soldado se beneficiava da proteção do escudo vizinho. Sendo que o da direita protegia o da esquerda, e assim por diante. Persas, gregos, romanos e tribos africanas usaram essa tática de guerra, para defesa e ataque.
Nada mudou como se vê pelos noticiários das emissoras de televisão e pelas fotografias dos jornais e das revistas. A diferença é que os “inimigos” de hoje não são soldados de um outro império ou de outra tribo. Não usam nenhuma tática de guerra e nem têm estratégias de ataque e defesa. Apenas se juntam, avançam com suas “palavras de ordem” de toda a ordem e se dispersam sem rumo a fugir das bombas de efeito imoral, das balas de borracha de ferro, do gás que faz chorar e embrulhar o estômago, das pedradas dos baderneiros de sempre quebrando vidraças,incendiando lixeiras e sacos de lixo e, mais recentemente, capotando carros de reportagem da imprensa.
Os da linha de frente, muitos deles, são professores dos filhos desses soldados policiais. Além das pesquisas que Vulpino Argento o Demente, 4 º suplente de senador e meu assessor para buscas de informações que ao fazê-las quase sempre me dão uma baita duma preguiça, tenho algumas fontes e por elas morro de pé mas não revelo quem são, É justo; jornalista ou escritor sem fonte não passa de fofoqueiro inútil. Nós temos fontes, policia tem alcaguete.
Pois entrevistei minha fonte: PM, aposentado, sofrendo com a gota do joelho e a bursite do ombro direito – que adquiriu de tanto dar porrada inútil  em quem nem sabia o por que. Nessa entrevista, que reproduzo sem nenhuma correção, vamos nos tratar por eu e ele.
Eu – Porque a polícia ataca quem protesta, considerando que protestar é legitimo numa democracia? 
Ele – Por que eles nos enfrentam, estão na nossa frente; nos xingam com palavrões, nos ofendem.Não há uma mãe sequer de um policial que não tenha sido chama de puta. E nós de seus filhos.
Eu- Mas ataca-los, por isso é coisa de guri ofendido.
Ele – É, mas a gente sente raiva; a gente não quer ser ofendido. Basta gritá as palavra de orde.
Eu – Mas esse motivo é ridículo; os manifestantes não são bandidos, não tem armas, não são militares; apenas defendem uma ideia, uma reivindicação que não compete à polícia decidir se certa ou errada.
Ele – É! Mais a gente sente raiva e tem que obedece a ordem do Comando.
Eu – E qual é a ordem do Comando?
Ele – Espancar.
Eu – Espancar?
Ele- É a palavra de ordem.
Eu – E qual é a diferença entre bater e espancar?
Ele – Pra nóis é tudo a mesma coisa.
Eu – E por que vocês não batem ou espancam e prendem os vândalos, baderneiros, agitadores profissionais que sempre se infiltram, em qualquer cidade do mundo, nesses protestos de rua e estão vestidos de fácil identificação e além disso formam um pequeno grupo dentro da passeata?
Ele – É aí que tá o pobrema.
Eu – Que “pobrema”?
Ele – A PM2 não colabora. Os vândalo forma um outro grupo nos tumulto. Dá pra ve pela indumentária; todo mundo sabe. A PM2 tinha que se vestir igual que eles, sinfiltra e até mesmo quebrar uma vidraça de um banco qualquer. Ganhá confiança deles que são um grupo de meia dúzia. E na hora agá prendê, algemá e intregá prum batalhão de choque de suporte na retaguarda.
Eu – Acho que em todo o Brasil desde junho vemos esses vândalos, virando carros, inclusive da própria polícia, incendiando ônibus, saqueando lojas e quebrando fachadas de bancos, que são todas de vidro, sem roubarem sequer um centavo. E enquanto isso a polícia atacava, batia, agredia pessoas de várias categorias profissionais que protestavam em favor do que entendiam ser o melhor para eles e para a sociedade brasileira.
Ele – A polícia, que também tem seus vândalo e seus bandido, não tem nenhum interesse em acabá com essa baderna. A alta cúpla tem interesse em desviar a atenção do povo para esses tumulto porque eles encobrem a bandidagem policial. Tem muito vândalo que é da polícia. E até ganham dinheiro para quebrar orelhão, lata de lixo e vidraça de loja.
Eu - Você pode provar essas terríveis revelações?
Ele – Posso! Mas não viverei 10 minutos.
Um capacete balístico de Kevlar usado pelo Exercito dos Estados Unidos pode ser comprado por um conhecido site desse mercado livre que é a internete. Custa R$ 550,oo e pode ser pago em 12 parcelas de R$ 53,16. Um colete tático, com bolsos e coldre para pistola 45, custa R$ 120,oo. E tem muito mais; botas, cantis, calças, jaquetas, joelheiras, caneleiras, óculos para visão noturna e tudo o mais que um “vândalo” precisar para...divertir-se.
Como será que viveremos quando eles trocarem, as camisetas pretas e as toucas ninjas para esconder o rosto por fardas e equipamentos semelhantes aos da polícia?
Um coronel PM, mais parecendo um paisano, pela roupa que trajava, ser encurralado pelos furiosos baderneiros, visivelmente identificáveis pelos trajes que usam de arruaceiros e desordeiros, não pode comandar uma tropa e enfrentar um tumulto sem que tenha um rígido treinamento e um sólido conhecimento de que ações policiais devem ser tomadas nessas ocasiões. É de se lamentar seus ferimentos, mas é assustador não ter capacidade policial para não meter-se em arruaças sem o preparo que se espera para a nossa proteção; sobretudo a dele.
Os tais vândalos estão usando táticas de guerrilha urbana, enquanto a nossa polícia se comporta como uma meia legião romana em campo aberto. Tumulto de rua não se combate com Tonfas, escudos, esprei de pimenta, tiros de intimidação. Isso só espalha a baderna.
*Jornalista e escritor


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