WhatsApp é 'gópi'
Se você pensa que
viver fantasiado de herói progressista é moleza, está enganado. A vida é dura.
Pensa que é só inventar uma mentira charmosa, dessas que funcionam
maravilhosamente no Facebook, no Baixo Gávea e na Vila Madalena, e viver disso
para sempre? Negativo.
Você terá que ser mais e
mais criativo, se superar a cada dia – até chegar às raias da genialidade ao
propagar que o WhatsApp ameaça a democracia. Sim, você pode! Mas não pense que
é fácil.
Tudo começou quando deu
errado o truque de reabilitar os bandidos gente boa do PT lutando contra a
ditadura do século passado. Até chegou-se ao milagre de levar ao segundo turno
o partido que depenou o Brasil, mas aí o Ibope e o Datafolha – que vinham sendo
super legais e parceiros – tiveram que desmontar aquele cenário da vitória
final inevitável contra a caricatura da direita, tão bem alimentada por mais de
um ano.
Deu ruim, e o jeito foi
mostrar a real: Haddad morrendo na praia de novo.
Mas se você é um suposto
gladiador da elite cultural, ideias não te faltam. Quem passou mais de ano
espalhando fake news do Rodrigo Janot, transformando açougueiro biônico
(laranja bilionário do Lula) em denunciante da corrupção generalizada, pode
criar outras narrativas espertas.
Foi assim que a cruzada do
petismo enrustido foi dar nos costados do WhatsApp. A mensagem é clara: só quem
está autorizado a espalhar fake news é veículo de mídia tradicional aparelhado
pela narrativa politicamente correta. Ou seja: você só pode veicular notícia
falsa se ela tiver sido produzida genuinamente pela sua empresa. Como o
WhatsApp não produz notícia, não tem a prerrogativa de espalhar mentira.
Fica combinado assim: Lula
ia salvar a democracia de dentro da cadeia e foi impedido por um golpe de estado
do WhatsApp. Quem achar a formulação complexa demais, peça ao companheiro Cid
Gomes para resumir.
Decidido o novo script dos
cafetões da bondade, todos se tranquilizaram e partiram para o bom e velho show
de bravura cívica a 1,99. Surgiu inclusive um slogan “ditadura nunca mais”, com
um complemento que acabou não circulando, mas nós publicamos a seguir:
Ditadura nunca mais, a não
ser uma como a do Maduro, ou a do Ortega, ou a do Kadhafi, ou a do Ahmadinejad,
ou a do Saddam, ou a de algum outro amigo do Lula que arranque o couro do povo
sem perder a ternura e a simpatia do Roger Waters. O resto a gente não aceita.
E o show tem que
continuar. Preocupado com a liberdade de expressão, o grupo de artistas e
intelectuais decidido a garantir a qualidade do conteúdo nas mídias e no
WhatsApp deveria criar logo uma junta de notáveis para tomar conta disso.
Alguns nomes naturais, dado o histórico do movimento, seriam os dos pensadores
Nicolás Maduro, Lindbergh Farias, Robert Mugabe e Renan Calheiros.
Para mostrar que quem
ameaçar a democracia eles prendem e arrebentam, poderiam difundir com mais
intensidade o vídeo do professor Haddad explicando por que Stalin era melhor
que Hitler: porque, diferentemente do nazista alemão, ele lia os livros de suas
vítimas antes de fuzilá-las. Não é lindo?
Vai ver é por isso que há
editores de livros no manifesto democrático em defesa do poste iluminado do PT.
O importante é afirmar, em
defesa do estado de direito e das liberdades individuais, que o WhatsApp é
golpista – e nós podemos provar. Por exemplo: estava tudo correndo
perfeitamente bem na democrática operação de abafar a notícia de que o PT, na
sua metamorfose verde-amarela, apagou seu apoio à ditadura pacifista e
sanguinária do companheiro Maduro.
Se acabamos de demonstrar
que Stalin é um ser evoluído, é claro que está tudo certo com a prática de
fazer informações sumirem do mapa e, também, com a consequente ocultação do
expurgo.
Aí o que faz o WhatsApp?
Espalha essa informação que tinha sido tão bem escondida. É ou não é golpista?
Outra notícia que estava
fora das manchetes e esse aplicativo fascista mandou para todo mundo foi a da
conclamação do companheiro Boulos à invasão da casa de Bolsonaro. É o tipo da
informação irrelevante, considerando que Boulos é ex-companheiro de partido do
homem que tentou matar o candidato com uma facada – portanto está todo mundo
cansado de saber que o negócio deles é barbarizar geral, nenhuma novidade aí.
O Brasil não sabe o que
será o provável governo Bolsonaro. Mas os progressistas de carnaval que
cultivaram tão dedicadamente a polarização burra em que o país entrou já sabem
o que farão: atiçarão sofregamente a boçalidade para tentar continuar vivendo
(bem) como vítimas profissionais.
Gazeta do Povo (PR)