O presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, prestou
depoimento nesta segunda-feira (7) ao juiz federal Sergio Moro, no processo que apura se
o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu
propina de empreiteiras por meio de obras em um sítio em Atibaia (SP),
frequentado pelo petista e sua família. Ouvido na condição de testemunha,
Okamotto afirmou que Lula pretendia comprar a propriedade no interior paulista
como um “presente” à ex-primeira-dama Marisa Letícia Lula da Silva, que
morreu em fevereiro de 2017.
A intenção de adquirir o sítio do empresário Fernando
Bittar, conforme Paulo Okamotto, foi discutida em um almoço na sede do Instituto
Lula, em 2015. “O presidente Lula, já há algum tempo, ele achava que precisava
comprar o sítio como presente pra dona Marisa. Ele estava com um pouco de
dúvida, mas ele tinha essa intenção. Eu sei que o tema que seria tratado era
esse tema. Eu não participei desse almoço, mas fiquei sabendo que essas coisas
foram tratadas, sim”, disse Okamotto, respondendo a uma pergunta da advogada de
Bittar, Ingrid de Oliveira Ortega.
Fernando Bittar, ex-sócio de Fábio Luís Lula da Silva, o
filho mais velho do ex-presidente, é um dos proprietários formais do sítio
Santa Bárbara, adquirido por ele em 2010. O presidente do Instituto Lula também
disse que a propriedade era de Bittar e que foi até lá algumas vezes
acompanhado apenas do empresário, sem que Lula estivesse presente, porque
também tem um sítio na região.
Okamotto ainda relatou que participou de algumas festas
no Santa Bárbara a convite de Marisa Letícia. “Também fui em várias festas aí,
convidado por ele[Fernando Bittar], convidado
pela dona Marisa, festa junina, também fui outras vezes, quando o presidente
Lula estava chegando e eu precisava falar com o presidente, queria ter uma
conversa com o presidente, ele dizia que estava indo pro sítio e ele acabava me
encontrando lá”, declarou.
Segundo a força-tarefa do Ministério Público Federal que
atua na Operação Lava Jato, o Sítio Santa
Bárbara recebeu benfeitorias e reformas no valor de 1 milhão de reais, feitas
pelas empreiteiras Odebrecht, OAS e Schahin, entre o fim de 2010 e o início de
2011, para beneficiar Lula, que deixava a Presidência da República.
Uma minuta de venda do sítio, datada de 2012 e apreendida
no apartamento do petista em São Bernardo do Campo (SP), em março de 2016, na
Operação Aletheia, mostra que Lula e Marisa comprariam a propriedade por
800.000 reais.
O cartorário João Nicola Rizzi, também
ouvido como testemunha no processo, afirmou ter preparado duas novas
minutas de venda da propriedade em 2016, a pedido de Roberto Teixeira, compadre
do ex-presidente. Em uma deles, figuravam como vendedores de “um quinhão de
terras” do sítio Fernando Bittar e sua esposa, Lilian, em uma transação no
valor de 1.049.500 reais. Na outra minuta de escritura, no valor de 662.150
reais, o vendedor de outro “quinhão de terras” na propriedade seria Jonas
Suassuna, o outro proprietário do sítio.
Em ambas, os nomes dos compradores estão em branco.
Segundo o depoimento de Rizzi, contudo, Teixeira lhe disse que os espaços
seriam preenchidos com os nomes de Lula ou de Marisa Letícia.
Agência Estado/VEJA