Morreu Ferreira Gullar
O escritor, poeta e teatrólogo Ferreira Gullar morreu na
manhã deste domingo, 4, no Rio de Janeiro, aos 86 anos. Gullar estava internado
no Hospital Copa D'Or, na Zona Sul do Rio com um quadro de insuficiência
respiratória e pneumonia, apontada como a causa da morte.
Um dos mais importantes literatos da história da
literatura brasileira, Ferreira Gullar passeou por vários
campos da expressão
poética, literária e crítica, quase sempre com um forte tom político. Avesso a
rotulações binárias, usualmente se colocava no sentido contrário ao do poder em
questão.
Seu primeiro livro, depois renegeado pelo autor, foi Um
Pouco Acima do Chão, em uma edição de 1949. Cinco anos depois, veio A Luta
Corporal, este já com os primeiros esboços da poesia esteticamente ambiciosa em
que ele trabalharia incansavelmente até Em Alguma Parte Alguma e Bananas
Podres, dois de seus livros mais recentes.
Ele estava com os irmãos Augusto e Haroldo de Campos na
Exposição Nacional de Arte Concreta, em 1956, considerada o marco inicial do
movimento concretista, expressão poética fundamental do século 20. Porém a
contribuição foi breve: em fevereiro do ano seguinte, Gullar publicou um artigo
no Suplemento Dominical do Jornal do Brasil questionando as teses do movimento,
e o rompimento viria em seguida.
A disputa entre "concretos" e
"neoconcretos" sempre ocupou um campo mais ou menos nebuloso entre a
intelectualidade, mas os ecos, que influenciaram muitas das expressões
artísticas nacionais desde os anos 1960, chegaram até 2015, quando Augusto de
Campos e Ferreira Gullar trocaram cartas agressivas pelo jornal Folha de S.
Paulo.
Em 1976, ele lançou seu trabalho mais célebre, o Poema
Sujo -- cem páginas de poesia na sua mais alta expressividade política. Símbolo
de resistência à ditadura, o poema chegou aos brasileiros primeiro por uma fita
que pertencia a Vinicius de Moraes, trazida de Buenos Aires, onde Gullar estava
exilado.
Colecionador de prêmios, Gullar venceu o Machado de Assis
da Biblioteca Nacional em 2005, e o Camões, o mais importante da língua
portuguesa do mundo, em 2010. Era membro da Academia Brasileira de Letras (ABL)
desde 2014 - depois de anos dizendo que esta honraria ele não aceitaria.
Ele nasceu em São Luís (MA), em 10 de setembro de 1930,
como José Ribamar Ferreira. Gullar deixa a esposa, dois filhos e oito netos.
Agência Estado