sábado, 23 de janeiro de 2021

 BOM DIA!

A menininha da calçada



Alceu Machado*

Eu hoje vi uma menininha na calçada.

Seu olhar infantil, era só pureza. Seu sorriso era todo encanto, nesse mundo de tanto desencanto.

Sentadinha no cordão da calçada, fazia seu mundo girar , com uma bonequinha companheira, com a qual se punha a brincar.

Olhando a menininha, me pus a imaginar seu universo e o da boneca companheira.

Ao seu lado, seu pai cumprindo seu duro ofício de guarda de rua, tinha um olho na menininha e outro no seu mister.

Me pus a pensar como pode ser simples a vida. Que lição aqueles olhinhos brilhantes, começando tanta vida, deram ao meu coração.

De súbito mandei um beijo a ela e ela me retribuiu.

De longe, dei meu melhor sorriso à ela que sorriu para mim..

De longe ela me diz: A Joaninha também tá sorrindo pro senhor.

Cheio de emoção, uma lágrima me correu em louvor a menininha da calçada a me mostrar que se   existe um modo de sairmos de nós é amar alguém!


*Alceu Machado é advogado, meu afilhado e filho de meu saudoso irmão Dilamar Machado


 

 



Contágio político


                                      
Alexandre Garcia

A abertura da temporada de vacinação marcou o auge da politização do que deveria ser um caso técnico de saúde pública e não uma disputa de poder, uma campanha eleitoral antecipada. 

Tivemos, até agora, a disputa entre o “fique em casa e volte quando tiver dificuldade de respirar, porque cloroquina dá arritmia” versus o “previna-se com ivermectina e vitamina D e trate ao primeiro sintoma com hidroxicloroquina, azitromicina e zinco”. Era a receita pró e contra Bolsonaro. Logo o governador Dória entrou na campanha, levando a vacina como mote. Aí, a disputa política foi adicionada de "vacina chinesa de 50% versus vacina Oxford de 70% que ainda está na Índia”. 

Não sei se o objeto das notícias, o leitor, o ouvinte, o espectador, está gostando de descobrir que tanto na mídia tradicional quanto nas redes sociais é difícil saber se a informação que recebeu é fato ou factoide. Resultado do envolvimento emocional nessa disputa política que usa o interesse e o medo das pessoas, numa crise sanitária, para inocular o noticiário com seus dogmas. 

A pandemia tem sido a demonstração de um embate entre dois lados de fanatismo, deixando de lado quem quer a verdade despida das fortes tintas ideológicas. Agora temos a vacina do Dória e a vacina do Bolsonaro. Um lado não festeja o início da vacina do outro, enquanto o adversário festeja a demora da vacina que virá da Índia. O marketing contagiou uma questão de saúde pública e  criou expectativas que vão muito além da realidade. Vacinas não deveriam ter propaganda enganosa. 

Se não houvesse a disputa política, quantas vidas teriam sido poupadas? Usar vacinas experimentais, como é o caso, tem a mesma lógica de usar um tratamento preventivo e um curativo precoce - é o que temos para tentar. Afinal, nunca se viu vacinas tão precoces. Seria mais fácil compreender isso se não houvesse o radicalismo que inibe a racionalidade.

O barulho político pode ter contribuído até para não se perceber a corrupção nas compras de respiradores, hospitais de campanha, material de proteção, culminando com a falta de oxigênio no centro do pulmão do mundo.