terça-feira, 19 de janeiro de 2021

 



A guerra das vacinas não provou nada. Nem qual será seu peso para a eleição de 2022


J.R. Guzzo

A eleição presidencial de 2022 ainda está longe, e tentativas de adivinhar hoje o que vai acontecer daqui a dois anos são ótimas candidatas a quebrarem a cara. Apesar dessas evidências, o noticiário político está carregado de previsões sobre quem está ganhando e quem está perdendo. Tudo bem: eleição é assim mesmo, com muita fumaça e pouco fogo até a hora em que as coisas começam a ficar sérias de verdade. Não adianta brigar com isso.

Imagina-se, no momento, que as vacinas contra a Covid – a “vacina do Doria” de um lado do ringue, e a “vacina do Bolsonaro” no canto oposto – vão ser a chave de tudo. Ganha a eleição quem der ao eleitorado a impressão de que vacinou mais que o outro, ou que a sua vacina “pegou mais” que a do inimigo, e outros despropósitos da mesma ordem. 

É um retrato da qualidade miserável em que afundou o debate político no Brasil nos dias de hoje. Não há a mais remota possibilidade de se debater com seriedade as questões reais que a sociedade brasileira tem pela frente. É o bom encaminhamento que se der a elas, para começo de conversa, que vai determinar a eficácia da vacinação e de qualquer outra decisão do poder público.

Mas o que se tem no momento é uma operação de marketing para um lado fazer melhor figura que o outro junto aos eleitores – e uma briga de foice entre dois políticos que estavam juntos dois anos atrás, e são agora inimigos de morte por razões que não têm absolutamente nada a ver com nenhum princípio.

Nenhum país bem sucedido do mundo, em termos de vacinação, está fazendo nada remotamente parecido com o que se faz hoje no Brasil. Alguém já imaginou na Inglaterra, por exemplo, faixas, discurseira de político e propaganda grosseira sobre a vacina? Tipo: “A Rainha, o Duque de Edimburgo e você só estão tomando esta vacina porque o Governo resolveu tudo, e a oposição não fez nada”. Não dá mesmo para imaginar. 

Além da palhaçada, da vigarice e da perversidade de se transformar um desastroso problema de saúde pública em briga política pessoal, a guerra das vacinas ainda não provou nada – nem qual o seu exato efeito sobre a evolução da epidemia e, muito menos, qual o peso que a vacinação de hoje terá em 2022. Quais as lembranças que ainda estarão de pé, daqui a dois anos? É isso o que vai realmente contar, no fim de todas as contas.


 


Governadores isolam Doria após tucano antecipar vacinação; e isso pode ter impacto em 2022 

Vacinação 

Após o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), ter iniciado a vacinação contra a Covid-19 antes dos demais estados, parte dos governadores decidiu se alinhar ao governo de Jair Bolsonaro para isolar o tucano paulista. E isso deve ter reflexos, inclusive, nas eleições de 2022. 

Nesta segunda-feira (18) pela manhã, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, resolveu antecipar o Programa Nacional de Imunização (PNI) contra a Covid-19 após conversa com os governadores, no aeroporto de Guarulhos, São Paulo. Dessa forma, os demais estados poderão começar a vacinação a partir desta 17h desta segunda-feira.

“Combinamos com os governadores de acelerar todo o cronograma. O cronograma inicial era a logística hoje [segunda, de repasse das doses da União para os estados]. Amanhã [terça], a logística [era] dos estados para o município, e na quarta-feira o início [da vacinação]. Os governadores solicitaram que, assim que chegassem aos estados, eles tivessem a liberdade de iniciar a vacinação”, afirmou Pazuello durante a solenidade.


Mal-estar com Doria é por causa da foto da vacinação

Vacinação em São Paulo

Em caráter reservado, dois governadores afirmam à Gazeta do Povo que o fato de João Doria ter antecipado a vacinação em São Paulo criou um mal-estar. E por um motivo relativamente simples. Enquanto Doria “colhia os louros” pela primeira imagem de uma pessoa vacinada no país, os demais governadores estavam sendo cobrados por suas respectivas bases eleitorais, por aliados políticos e gestores de saúde por também não terem iniciado seus respectivos programas de imunização.

A cobrança nas bases foi tanta que alguns governadores – inclusive de partidos adversários ao do presidente, como o do Piauí, Wellington Dias (PT), e do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra (PT) – passaram a endossar o programa de imunização do governo federal e a tecer críticas ao governador paulistano.

Houve também bate-boca entre gestores nos grupos de WhatsApp de secretários de Saúde e dos governadores. “Assim que chegar ao nosso estado iremos começar imediatamente a vacinação. Uma luta que valeu a pena e vai beneficiar todos os brasileiros”, celebrou o governador do Piauí, Wellintgon Dias, na manhã desta segunda-feira (18).

O governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), tem sido um dos porta-vozes da insatisfação com Doria. Ele chegou a afirmar nesta segunda-feira que o governador de São Paulo colocou os demais estados em situação desfavorável. “É um gesto [a vacinação] que coloca os outros governadores numa situação de segunda categoria. O gesto é muito importante na vida pública. Uma situação de saúde pública não pode ser transformada num processo de campanha”, disse Caiado.

Já o governador de Amazonas, Wilson Lima (PSC), recusou antecipar 50 mil doses oferecidas emergencialmente por Doria no domingo. O governador paulistano queria fazer um gesto de solidariedade ao Amazonas, estado que passa por uma crise sanitária por causa da segunda onda da Covid-19 na qual falta oxigênio nos hospitais. Mas Lima teve receio de que esse gesto poderia comprometer sua relação com o governo federal. 

Nesta segunda-feira, porém, o governo federal disponibilizou 256 mil doses ao Amazonas. Além dessas, o governador aceitou as 50 mil prometidas pelo governo de São Paulo. “Assim que a vacina chegar, estamos preparados para começar o processo de imunização, principalmente na capital que é onde há uma maior incidência de casos”, ressaltou Lima. 

Aliados avaliam não apoiar tucano em 2022 por causa de suas atitudes

Nos bastidores, alguns governadores de partidos que são historicamente aliados do PSDB e até mesmo membros do tucanato admitem que Doria tem ido com “sede ao pote” na disputa contra o governo federal diante dessa corrida pela paternidade do programa de imunização contra a Covid-19. 

Por causa disso, setores do DEM já admitem que terão resistência a endossar uma eventual aliança com o PSDB, caso Doria faça parte da cabeça de chapa em uma disputa presidencial em 2022. 

Atualmente, o DEM discute a possibilidade de lançar candidato próprio na eleição presidencial. Mas sem um nome de consenso ou que de fato tope entrar em uma disputa pelo Planalto, alguns membros do partido já admitem que a sigla pode se aliar ao PSDB nas próximas eleições gerais.

Fonte: Gazeta do Povo