terça-feira, 1 de dezembro de 2020

 



Eleição não aponta ninguém capaz de rivalizar com Bolsonaro 

J.R. Guzzo 

Os resultados do segundo turno das eleições municipais confirmaram praticamente tudo, ou quase tudo, o que foi previsto ao serem concluídas as apurações do primeiro: o crescimento eleitoral, em matéria de prefeitos por partido, sobretudo nas capitais, encheu a bola dessa nebulosa que por falta de uma definição melhor costuma ser chamada de “centro”. É aquela pasta disforme de sempre: PSD, DEM, PP, e mais o resto da farinha que sai do mesmo saco. 

Muito vai se ouvir falar, daqui para frente, da necessidade de se construir uma aliança entre isso aí e o PSDB, agora escalado para representar o papel de “esquerda” – e mesmo os perdedores do PT e outros fracassados do “campo progressista”. 

Vão lhe dizer, naturalmente, que esse acordo deve ser procurado em nome dos mais altos interesses da nação brasileira – e não, como alguém poderia suspeitar, para atender aos interesses materiais dos políticos; como é do conhecimento comum, nossa classe política é altruísta, honesta e patriótica demais para isso. Qual a seriedade – e, mais ainda, qual a viabilidade concreta – de se armar um acerto desse daqui até 2022, quando vai se disputar a Presidência da República? Pois é isso, a partir de agora, que vai ser a única preocupação real da política brasileira.

Os próximos meses terão de apontar um nome mais forte que todos os outros pretendentes e detentor de força política própria para enfrentar o presidente Jair Bolsonaro na sua tentativa de reeleição. É o trabalho mais importante, e mais urgente, que esse “centrão-esquerda” terá de fazer no futuro próximo para ter chances reais de sucesso. No momento, citam um arco de nomes espantosos como Luciano Huck, Rodrigo Maia, João Doria e outros colossos que parecem destinados a um desempenho de Cabo Daciolo em 2022. Vai ser preciso encontrar coisa melhor do que isso. 

Parece, vendo-se as coisas como elas são hoje, que essa campanha, pela primeira vez desde a supressão do AI-5 e a volta das eleições diretas ao Brasil, não terá um nome de esquerda. Lula e o seu PT, as forças perenes de qualquer quadro eleitoral, viraram paçoquinha nessas últimas eleições – conseguiram o prodígio de não eleger um único prefeito de capital e, mais ainda, de perder todas as eleições, sem nenhuma exceção, nos grandes centros operários da região metropolitana de São Paulo, onde sempre esteve a alma do partido. 

Parece sobrar à esquerda brasileira, agora, a comemoração das derrotas que sofreram os "primos" de Lula e do PT dos quais tanto se falou nesta campanha – os Psol, PCdoB, etc. Festejam o segundo lugar nas disputas finais como uma espécie de “vitória moral”, ou como o triunfo do time que perdeu, mas “merecia ganhar”. Fazer o quê? É o que existe no momento. 

Começaram a dizer que as eleições municipais revelaram o grande competidor de Bolsonaro em 2022: o candidato do Psol que perdeu em São Paulo, e cujo partido governa apenas uma capital e mais três ou quatro municípios, entre os 5.600 que existem no Brasil. Se é isso mesmo, a campanha da oposição está começando mal.


 



Pesquisas erram de novo e colocam a culpa no eleitor 

Alexandre Garcia 

Ibope e Datafolha ainda tem muito o que explicar. No domingo (29), o presidente do MDB do Rio Grande do Sul, deputado federal Alceu Moreira, tuitou: “a quem serve o Ibope no RS? Para quem trabalha manipulando dados de véspera de eleição”.

Nesta segunda-feira (30), a CEO do Ibope, Márcia Cavallari, em entrevista na Rádio Gaúcha, pediu desculpas ao povo porto-alegrense reconhecendo que o instituto não teve um bom desempenho na última pesquisa do último turno. Mas, no meu ver, erraram também na pesquisa do primeiro turno. 

Lá atrás, o Ibope apontou que Manuela D’Ávila estava com 40% das intenções de voto e Sebastião Melo com 25%. Mas ela ficou com 29% e o candidato que apontavam como segundo colocado ficou com 31%. 

Já no segundo turno, no último sábado (28), o Ibope insistiu que a candidata do PCdoB iria ganhar por 51% a 49%, o que seria um empate dentro da margem de erro. Mas Manuela perdeu por 55% a 45%, uma grande diferença. 

Em Fortaleza, o senador Eduardo Girão (Podemos) também acusou o Ibope de manipulação. Isso porque no sábado o Ibope divulgou que Sarto Nogueira (PDT) teria 61% e Capitão Wagner (Pros), 39%. Mas, no fim, a diferença foi de 51,7% a 48,3%. Será que não houve aí uma indução da pesquisa ao eleitor?

Em Vitória, o instituto de pesquisa também errou. Eles diziam que poderia dar empate entre o candidato do Republicanos e do PT, mas o petista João Coser teve só 41,5% dos votos enquanto o delegado Pazolini venceu com 58,5%. 

Ibope e Datafolha disseram que a culpa é do eleitor, que no sábado vai votar num candidato e no domingo vota em outro. Chamaram o eleitor de maluco, de biruta de aeroporto, que muda de acordo com a direção do vento. Ainda precisa de mais explicação essa história de pesquisas eleitorais. Eu já não acredito desde 2018. Meu lema é: engana-me uma vez e não me enganarás mais. 

Abstenção no segundo turno foi alta

Houve muita abstenção nestas eleições. Isso pode significar que o eleitor rejeitou os dois candidatos que se apresentaram no segundo turno. Em São Paulo houve 30,8% de abstenção. 

No Rio de Janeiro houve 35,5% de abstenções, ou 1.720.154 pessoas não foram votar. O prefeito eleito Eduardo Paes (DEM) teve 1.629.319 votos. Ou seja foram quase 91 mil cidadãos de diferença entre os votos no Paes e os não comparecimentos. Em Porto Alegre, a abstenção dos eleitores chegou a 354.692 pessoas. 

Isso é um recado aos partidos políticos pensarem muito antes de ofereceram um candidato ao eleitor. O cidadão tem reclamado que precisa escolher o “menos ruim” e não quer mais isso. Mas eu não acredito que eles vão aprender.