segunda-feira, 12 de outubro de 2020




Bandido bom é bandido solto 

J.R. Guzzo 

Para um país em que grande parte da população acreditou, dois anos atrás, que poderia estar começando, enfim, alguma reação séria do governo ao reino da impunidade penal que tem garantido o sucesso cada vez maior do crime e dos criminosos, o Brasil está conseguindo se tornar um exemplo mundial de sociedade que vai no caminho exatamente oposto.

Todos viram, dias atrás, o presidente do STF contradizer a decisão de um colega que havia mandado soltar um dos mais conhecidos chefes do PCC de São Paulo. Não adiantou nada, como até uma criança com 10 anos de idade poderia adivinhar: assim que colocou o pé na rua, o homem pegou um jatinho e fugiu. Mas o pior da história não é isso. O pior é que, do ponto de vista legal, quem mandou prender está errado e que mandou soltar está certo - é este, com viés de piora, o Brasil em que os bandidos deveriam estar tendo “vida dura”. Conversa. Sua vida, ao contrário, está cada vez melhor.

Está melhor porque o PCC e o resto do crime organizado, incluindo as gangues de políticos corruptos que mandam no Congresso, ganharam há pouco um presente sensacional do deputado Lafayette de Andrada, de Minas Gerais, com o apoio integral do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e da maioria dos colegas. É o seguinte: por um pé-de-cabra que o deputado enfiou no “pacote anticrime” votado meses atrás, a justiça é obrigada, agora, a confirmar a cada 90 dias a prisão preventiva aplicada a qualquer criminoso. 

O sujeito pode ter sido preso em flagrante por matar o pai e a mãe na frente de 50 testemunhas; dali a 90 dias um juiz vai ter de rever a prisão e explicar por que o criminoso ainda está preso. Vai ser obrigado a fazer isso de novo dali a outros 90 dias, e depois mais outros 90, e assim por diante, até o Dia do Juízo Final. Se não der a cada vez uma justificativa que satisfaça as exigências dos advogados do preso, a trapaça que o deputado enfiou na lei anticrime diz que ele tem de ser solto. É o que acaba de acontecer. 

Não há nada parecido com isso em qualquer país medianamente sério do mundo; é coisa típica dessas nações fora-da-lei em que os traficantes escrevem o Código de Processo Penal. Agora, além de provar a culpa do criminoso, a justiça brasileira fica obrigada, também, a explicar por que ele está preso há 91 dias. O máximo que se permite são 90; a partir daí é preciso começar tudo de novo. Talvez não haja nada de tão agressivo, em matéria de “garantismo”, em toda a legislação de incentivo ao crime que existe no Brasil. O próximo passo é prender os policiais que prenderam o homem que matou pai e mãe - e os juízes que decretaram a sua prisão. 

Boa parte da população, sobretudo, a que teve esperanças de um governo que prometia lutar contra o crime, se acostumou a colocar no STF a culpa por essas alucinações. Mas, no caso, os ministros podem pouco. 

O chefe do PCC de São Paulo está solto por culpa direta do deputado Lafayette, dos seus colegas e do presidente da República, que sancionou a lei sem vetar o dispositivo contrabandeado para dentro dela com o propósito exclusivo de soltar corruptos e bandidos que têm dinheiro para pagar advogados caros – são eles, no fundo, que redigem esse tipo de lei. Vetou 25 outros artigos; esse não. Bandido bom, por essa filosofia, é bandido solto. 

 



STF acaba com o sentido da lista tríplice 

Alexandre Garcia 

Parece que tem uma praga no STF. Dessa vez, o ministro Edson Fachin determinou que o presidente terá que nomear o que melhor for avaliado na lista tríplice para a escolha de reitores de universidades. 

Ou seja, não será necessária uma lista tríplice, bastaria mandar uma única pessoa. O mais engraçado é que na época em que Dilma era presidente, Fachin disse exatamente o oposto, que ela era livre para escolher entre os três da lista.  

Essa história é só porque não gostaram da nomeação de alguns reitores pelo Brasil e por isso estão tentando obrigar o presidente a nomear o mais bem qualificado entre os três classificados.  

No entanto, a lei determina que o presidente é livre para nomear qualquer um entre os três candidatos. Agora o ministro Fachin diz ao contrário, aliás, se contradizendo porque já falou outra coisa no passado. 

Estímulo à impunidade

O ministro Marco Aurélio mandou soltar André do Rap, um grande traficante e um dos líderes do PCC. Ele ficou cinco anos foragido e foi preso em setembro após encontrarem ele em uma mansão em Angra dos Reis (RJ). 

Na mansão tinha lancha, helicópteros e outros artigos de luxo, o tráfico internacional dá dinheiro. Ele foi condenado a 25 anos de prisão. Depois de solto, ele se tornou novamente foragido.  

O argumento de Marco Aurélio é que André do Rap estava preso temporariamente e o prazo para que fosse apresentada uma acusação já tinha expirado, como manda a lei para que os presídios não fiquem mais superlotados. 

Ao receber a reclamação do Ministério Público Federal, o ministro Luiz Fux determinou que a soltura fosse cancelada. Marco Aurélio reclamou a decisão e afirmou que o assunto vai ao plenário da Corte.  

Eu acho que seria mais sensato que dessem 10 dias para a Polícia Federal de São Paulo resolvesse a situação da prisão temporária. Porque o povo quer que os assassinos, os traficantes, entre outros, encham os presídios, mas os juízes querem esvaziar.

É incrível como há estímulo ao crime, há uma impunidade neste país. O nosso ex-presidente está aí para provar, ele foi condenado em segunda instância e está em casa esperando uma condenação em terceira instância - daqui a pouco vão criar uma quarta. 

Isolamento está fazendo mais mal que o coronavírus

Eu fiz uma live no sábado com dois pesquisadores sobre o isolamento. Alguns jornais internacionais e brasileiros dizendo que o isolamento social faz mais mal que o coronavírus. 

Um dos pesquisadores que estavam na live, Bruno Campello, mostrou que com o isolamento aumentou o número de violência doméstica e sexual, divórcios e suicídios. As pessoas não aguentam mais ficar trancadas. 

Alguns artigos estadunidenses mostraram que ninguém mais aguenta essa máscara que é anti higiênica, que só deveria ser usada por quem está doente e não por quem não está com a doença. Quem não está doente e fica em casa vai acabar doente.