Professores não querem
trabalhar. E os alunos, como ficam?
J.R. Guzzo
O Brasil é possivelmente o
único país em todo o planeta Terra onde os defensores mais intransigentes da
ideia de manter as escolas fechadas são os professores da rede pública de
ensino. Por mais quanto tempo ainda? Por tempo indeterminado, até que os seus
sindicatos autorizem os governos estaduais ou municipais a reabrirem as salas
de aula. Mesmo para o padrão mental da esquerda brasileira e de seus atuais
servidores na máquina do Estado, gente historicamente capaz de fazer qualquer
coisa, é um exagero. Teria de estar acontecendo justamente o contrário.
Os números da epidemia
caminham para dois meses seguidos de queda — o que, pela lógica mais elementar,
e pelo exemplo dado por países que estão uns 100 anos à frente do Brasil em
termos de educação, deveria fazer governos e professores se dedicarem ao máximo
a reabrir as escolas. Mas, acredite se quiser, os especialistas que decidem o
que é bom e o que é ruim para o ensino nacional dizem que manter tudo fechado
serve não apenas para “salvar vidas”: é uma exigência “social”.
Se eles não permitem que
se abram as escolas públicas — basicamente, porque não querem mais dar aula —,
as escolas particulares, então, poderiam reabrir as portas, não é mesmo? Nem
pensar. Se os alunos ricos ou de classe média da rede privada (cujos pais, por
sinal, estão pagando as mensalidades desde março, sem receberem em troca o
serviço contratado) voltarem a ter aulas, as “diferenças” entre eles e os
alunos pobres da rede pública vão aumentar ainda mais. Isso é injustiça. É
aumento de desigualdade. É coisa da elite branca. Não pode. Tudo pelo social.
Ou seja: enquanto as
escolas públicas estiverem fechadas, ninguém tem o direito de funcionar. O que
vale “para os pobres”, dizem eles, tem de valer também “para os ricos”. Não
querem, nem mesmo, que escolas privadas tenham horários com atividades de recreação,
ao ar livre e obedecendo a todas as exigências dos médicos que militam no
"Partido do Fique em Casa Pelo Resto da Vida".
Por que esses meninos
riquinhos teriam direito a se distrair um pouco se os meninos pobres estão
obrigados a ficar nas suas casas da periferia, sem conforto, sem espaço e sem
ter o que fazer? Não senhor. Se sofrem uns, têm de sofrer todos. Nunca ocorre
aos professores públicos, é claro, que os meninos pobres estão sofrendo
unicamente porque eles mesmos, os professores, decidiram impor esse sofrimento
com a sua guerra para manter a rede pública trancada.
É sabido, há décadas, que
há uma diferença estúpida entre a qualidade do ensino particular e a do ensino
público — e que essa, justamente, é a principal causa das desigualdades na sociedade
brasileira. Mas a esquerda educacional nunca pensou, nem por um minuto, em
fazer algum esforço de verdade para melhorar a escola pública; sua solução para
o problema, como se vê agora, é reprimir a escola particular. Mais: sua
exigência de quarentena sem fim para as salas de aula está sendo um dos ataques
mais agressivos que já se fez a favor da concentração de renda e do aumento da
diferença de classes no Brasil.
O fechamento das escolas
virou, nos dias de hoje, umas das principais bandeiras do “campo progressista”,
como a esquerda — com o aval da mídia — chama a si própria. Não acham que 50
milhões de alunos sem aula seja uma tragédia; trata-se, para o “progressismo”,
de uma meta a atingir ou a preservar. Talvez até estejam, como Dilma Rousseff,
querendo “dobrar a meta”.
As escolas já estão
fechadas há mais de 200 dias no Brasil – mais do que em qualquer país de
primeiro mundo. A nova meta, imagina-se, é chegar aos 400.