domingo, 2 de agosto de 2020






Nove estados e DF podem voltar 
às aulas nas escolas particulares
As demais unidades da federação estão sem data definida - Foto: AB

Após cerca de quatro meses com as aulas suspensas, estados começam a sinalizar a volta às aulas presenciais nas escolas. De um lado, melhor equipadas, de maneira geral, que as escolas públicas, as escolas particulares defendem que estão prontas para uma retomada com segurança. Do outro, há professores e funcionários que não se sentem seguros com o retorno e dizem que a permanência nas salas de aula e uma maior circulação de pessoas nas cidades podem aumentar os casos de infecção por coronavírus.https://agenciabrasil.ebc.com.br/ebc.png?id=1312774&o=nodehttps://agenciabrasil.ebc.com.br/ebc.gif?id=1312774&o=node

De acordo com o Mapa de Retorno das Atividades Educacionais presencial no Brasil, elaborado diariamente pela Federação Nacional das Escolas Particulares (Fenep), até sexta-feira (31), havia, no país, um estado com a reabertura autorizada das escolas, Amazonas. Outros nove estados e o Distrito Federal têm propostas de data para retornar às atividades presenciais. São eles: Acre, Pará, Maranhão, Piauí, Rio Grande do Norte, Alagoas, São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul. No Rio de Janeiro, na capital, a prefeitura autorizou o retorno facultativo para algumas séries este mês. As demais unidades da federação estão sem data definida.

“Na parte operacional já está tudo certo, temos protocolo, a gente já sabe o que fazer. Agora é uma questão política, porque, tecnicamente, já têm as condições sanitárias em muitos locais para voltar. Tem a necessidade das escolas funcionarem para não quebrarem, necessidade dos pais e das crianças. Também, para não prejudicar as crianças do ponto de vista pedagógico. Tem todas essas questões. Agora, a decisão é política”, diz o presidente da Fenep, Ademar Batista Pereira.

Professores e trabalhadores em educação, no entanto, dizem que não estão sendo consultados para a definição dos protocolos de segurança e que temem um retorno às aulas. “Neste momento, não existe protocolo seguro, não existe. Os órgãos de saúde estão dizendo que é perigoso, que não tem condição, nem com afastamento. Ainda mais criança. Não tem condição de garantir um protocolo completamente seguro”, diz a coordenadora geral da Contee, Madalena Peixoto.

A questão foi levada para o Ministério Público e para a Justiça em algumas unidades da federação. Segundo levantamento da Contee, no Distrito Federal, o Sindicato dos Professores em Estabelecimentos Particulares de Ensino (Sinproep-DF) acionou o Ministério Público. Em reunião entre o Ministério Público do Trabalho e a 6ª Vara do Trabalho, ficou mantida a suspensão das aulas presenciais nas escolas do setor privado do DF. Uma audiência de conciliação envolvendo as várias partes está marcada para segunda-feira (3). Em São Paulo, a Federação dos Professores do Estado de São Paulo (Fepesp) também acionou o Ministério Público do Trabalho contra a volta às aulas, previstas para 8 de setembro.

No Mato Grosso, o Sindicato dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino no Mato Grosso (Sintrae-MT) notificou os estabelecimentos de ensino da responsabilidade pela garantia da incolumidade física e mental dos professores e administrativos ao convocá-los para a realização de atividades em suas dependências. Na cidade do Rio de Janeiro, os professores decretaram, em assembleia do Sindicato dos Professores do Município do Rio de Janeiro  e Região (Sinpro-Rio), uma greve no início de julho.

Fonte: Agência Brasil




A revolução cosmética

Por Guilherme Fiuza

A Natura elegeu como pai do ano um transexual. A empresa pretende, dessa forma, trazer a mensagem de que está ajudando os transexuais contra o preconceito. Mas ela não está. A Natura está prejudicando os transexuais.

Solidariedade sincera agrega. Solidariedade simulada segrega. Em 1968, São Francisco (Califórnia) explodiu em manifestações pelos direitos dos gays, pela liberdade de cada um para viver em paz suas escolhas, suas normalidades, suas esquisitices, suas peculiaridades para o bem e para o mal. De lá para cá a liberdade individual, sexual e moral teve mais de meio século de conquistas. Não de tolerância, porque tolerância é migalha. Conquistas de reconhecimento.

A Natura faz parte de um surto panfletário que joga isso tudo fora. O business é protestar contra a sociedade careta de meio século atrás. Não cola.

Nos anos 70 o Brasil estava cantando “qualquer maneira de amor vale a pena”. Nos 80, a bissexualidade e a identidade transexual saíam do gueto. Os gays já tinham saído. Estavam todos nas novelas, nos filmes, nas músicas, em cargos de comando. Ninguém dizia que “agora é assim”, ou que era o “novo normal” ou nenhum desses carimbos idiotas. Não tinha essa paranoia aritmética de maioria, minoria, hegemonia. Cada um na sua e ponto final. O processo de libertação era a redução da patrulha (em todas as direções) – o contrário do que acontece agora.

O progressista de laboratório é, na verdade, um reacionário. Ele não quer ajudar ninguém. Quer só colar um adesivo virtuoso na testa. É um calculista, um egoísta, um avarento. Graças a ele, hoje o número de patrulheiros contra a discriminação sexual é provavelmente um milhão de vezes maior do que o número de pessoas que cometem discriminação sexual. O humanista de butique precisa do preconceito. É o seu oxigênio vital.

A campanha da Natura simboliza um surto burguês de compra e venda de consciência e sensibilidade a 1,99. A contracultura nos anos 60 queria combater a sociedade repressiva “chocando a burguesia”. Assim derrubou alguns tabus, e também criou outros, o que não interessa julgar aqui. Meio século depois a burguesia resolveu brincar de chocar a burguesia. É ridículo.

Um ator adotou uma filha negra e no Natal disse que ela tinha medo de Papai Noel branco. Captou a profundidade? Os descolados de almanaque querem “chocar a burguesia” no Natal, no Dia dos Pais ou em qualquer cenário onde eles possam pendurar uma melancia no pescoço e aparecer com sua revolução cosmética. Hipocrisia in Natura.

Não é para ajudar ninguém. É para apontar o dedo para os outros. Onde não houver preconceito, eles inventam. Recentemente perguntaram a um cantor se ele era gay. O artista respondeu que nos anos 70 namorava quem queria e nunca tinha que dar a ficha dos parceiros de cama. O interlocutor insistiu perguntando se o cantor não ia sair do armário. Ele respondeu: “Não posso. Na minha casa só tem closet.”

Parem de patrulhar os outros, seus neuróticos. Parem de carimbar todo mundo com carteirinhas sexuais e raciais. E vão cuidar da vida, porque a embalagem está bonita, só falta botar alguma coisa dentro.