domingo, 5 de julho de 2020




Alexandre de Moraes decide soltar 
Oswaldo Eustáquio, mas impõe restrições
O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), decidiu soltar o blogueiro Oswaldo Eustáquio, preso no último dia 26 de junho no âmbito do inquérito sobre atos antidemocráticos. Segundo a rede de TV CNN, porém, a decisão que soltou Eustáquio estabelece uma série de restrições ao blogueiro: ele está proibido de ter contato com outros investigados – incluindo ativistas de direita, empresários e outros blogueiros – e impedido de frequentar as redes sociais. Outra restrição determina que Eustáquio não pode ficar a menos de um quilômetro da Praça dos Três Poderes, em Brasília, nem de residências de ministros do STF.

Câmara começa a discutir PL das 
fake news nesta semana, afirma Maia
Apesar da pressão de bolsonaristas contra o projeto de lei das fake news, a Câmara vai colocar a proposta em discussão nesta semana, segundo o presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Alvo de polêmica e de críticas do presidente Jair Bolsonaro, o projeto foi aprovado pelo Senado no último dia 30 e propõe um marco inédito na regulamentação do uso das redes sociais, criando a chamada Lei Brasileira de Liberdade, Responsabilidade e Transparência na Internet. Bolsonaro já prometeu vetar a medida. No sábado (4), Maia saiu em defesa da proposta durante webconferência promovida pelo grupo de advogados Prerrogativas. "Ninguém aqui está querendo discutir nem abrir mão da liberdade de expressão, mas a gente precisa de regras, de forma clara conseguir chegar no dinheiro, sem dúvida nenhuma, quem financia todos esses movimentos aqui e no mundo, quais são as intenções, como eles impactam", afirmou.




Brasil tem 1.577.004 casos 
de covid-19 diagnosticados

Cerca de 56%, mais de 870 mil pessoas, são consideradas curadas - Foto: Reuters/Agência Brasil

Segundo o boletim divulgado no final da tarde de ontem (04) pelo Ministério da Saúde, o Brasil registrou até o momento 1.577.004 casos de covid-19. Destes, 64.265 casos resultaram em óbito - 1.091 registrados nas últimas 24 horas. O número de pessoas recuperadas é de 876.359.https://agenciabrasil.ebc.com.br/ebc.png?id=1310898&o=node

Entre os estados, São Paulo continua com o maior número de casos até agora, 312.530; seguido pelo Ceará (120.952) e Rio de Janeiro (120.440). Em número de mortes, no entanto, o Rio de Janeiro, com 10.624, ultrapassa o Ceará, que teve 6.411 óbitos até o momento. Também nesse quesito, São Paulo registra o maior número, com 15.996 mortes.

Entre os estados com menos registros, o Mato Grosso do Sul é a área de menor incidência, com 9.910 casos e 114 mortes. Tocantins, com 12.282 casos e 215 mortes, vem em seguida.

Fonte: Agência Brasil




Sumula do moralismo epidemiológico

Por Guilherme Fiuza

Estamos no ano de 2050 e uma junta de historiadores continua debruçada sobre o longínquo (e estranho) ano de 2020. A cada semana um membro da equipe precisa ser retirado e enviado a uma quarentena rigorosa para descontaminação espiritual, de tão pesado que é o trabalho.
Mas a junta é abnegada e está avançando no front da arqueologia cultural – já tendo alcançado a certeza científica de que 2020 significou, na curva evolutiva da humanidade, o pico de disseminação das falsas éticas. Deu-se ali praticamente uma hecatombe moralista fundada na hipocrisia: “Barra pesada”, resumiu um dos cientistas da junta, que pediu para não ser identificado.

O trabalho corre em sigilo total, mas conseguimos o vazamento do rascunho de uma primeira súmula sobre a falsa ética que explodiu em 2020 e publicamos a seguir, com exclusividade:

1 - “Os próximos 15 dias serão decisivos no enfrentamento ao coronavírus”. Este alerta enigmático foi captado em discursos de governadores brasileiros tanto em abril, quanto em julho de 2020 – levando os pesquisadores de 2050 à hipótese bastante provável de que no ano em estudo o tempo era contado de outra forma, num sistema em que cada dia podia levar três meses ou mais, dependendo da região do país e do partido do governador.

2 - “Se puder, fique em casa”. Essa foi a frase que mais intrigou os historiadores. Como aparentemente era uma recomendação para barrar uma epidemia, eles não conseguem entender o que acontecia na versão “se não puder”. Isto porque há pouquíssimos registros de slogans ou palavras de ordem para quem saía de casa – e há vários registros de aglomerações em transportes sem nenhuma ação disciplinadora do Estado, que por outro lado algemava e batia em mulher sozinha na praça ou na praia. Era tudo muito estranho nessa época.

3 - “Use máscara em casa”. Por incrível que possa parecer, havia seres humanos em 2020 que se sentiam (e se diziam) éticos ao tentar empurrar o Estado para patrulhar o interior de residências em busca de quem não estivesse usando máscara – fingindo que assim bloqueariam o contágio do coronavírus e salvariam vidas. (OBS: Eles diziam amar a democracia). E também queriam que alguém fechado sozinho no seu próprio carro sem máscara fosse considerado genocida em potencial. Os historiadores estão tipificando esse fenômeno antropológico como “Complexo de Zorro”.

4 - “Dane-se a economia”. Com uma habilidade retórica impressionante, os fundamentalistas da Seita da Terra Parada – corrente mística dominante em 2020 – faziam milhões de pessoas acreditarem que os que não seguissem sua cartilha eram criaturas desumanas e só pensavam em dinheiro. Hoje sabemos que morreu mais gente de asfixia social do que de coronavírus, mas na época a ordem unida para parar o mundo como seguro de vida era praticamente inquestionável. Alguns historiadores estão comparando esse tabu com o da Terra como centro do universo, que também deu muita briga e demorou a cair.

5 - Conclusão preliminar da junta de historiadores: o ano de 2020 foi o Pico dos Hipócritas. Uma elite intelectual que se apresentava como libertária levou ao extremo seu expediente malandro de viver patrulhando os outros para proteger a si mesma – numa espécie de jardim das delícias burguesas, também conhecido na época como “curralzinho vip”. Com a epidemia, eles foram tão longe no lockdown mental que, em dado momento, só não era expulso do clube quem inserisse em todas as suas mensagens a ideia de prisão. Os historiadores de 2050 estão convictos de que 2020 foi o ano mais reacionário da história – e que dificilmente um fenômeno similar voltará a atingir a humanidade de forma tão obscura.