sábado, 21 de março de 2020



Sistema de saúde pode entrar em 
colapso em abril, diz ministro

Estimativa é que em agosto ocorra um movimento de queda da Covid-19


O sistema de saúde pode entrar em colapso em abril em decorrência da pandemia do novo coronavírus, disse hoje (20) o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, durante videoconferência da qual participaram o presidente Jair Bolsonaro e representantes de associações empresariais brasileiras hoje (20).

“No final de abril sistema entra em colapso. O colapso é quando você pode ter o dinheiro, o plano de saúde, a ordem judicial, mas não há o sistema para entrar”, afirmou o ministro. 

A estimativa do Ministério da Saúde é que haja um crescimento dos casos do Covid-19 nos próximos 10 dias, uma subida mais aguda em abril, permanecendo alta em maio e junho. A partir de julho é a expectativa de início da desaceleração. Em julho começa um plateau (estabilidade) e em agosto um movimento de queda.

Mas a intensidade depende das medidas adotadas e do comportamento das pessoas, destacou Mandetta. Neste sentido, o ministro reiterou a importância da redução de circulação e iniciativas de isolamento. “Para evitar esse colapso eventualmente pode ser necessário segurar a movimentação para ver se consegue diminuir a transmissão. Quando tomamos medida de segurar 14 dias, o impacto só é sentido 28 dias depois. A cadeia é sustentada e você quebra”, comentou Mandetta.
Isolamento

Ontem (19) o Ministério divulgou novo protocolo para os postos de saúde.

Nos locais com transmissão comunitária (São Paulo, Rio de Janeiro, Pernambuco, Porto Alegre, Belo Horizonte e Santa Catarina) pessoas com sintomas do novo coronavírus terão um atendimento agilizado, serão colocadas em isolamento por 14 dias assim como familiares e todos os idosos acima de 60 anos.

Nos locais sem transmissão comunitária, pessoas com sintoma de Covid-19 devem buscar os postos de saúde e ficar em isolamento, com monitoramento a cada 48 horas. Caso mais graves serão encaminhados para atendimento hospitalar.

Governo declara transmissão comunitária em todo o país
Pessoas infectadas e moradores da mesma 
casa devem ficar em isolamento

O Ministério da Saúde publicou portaria nessa sexta-feira (20) decretando o estado de transmissão comunitária do novo coronavírus (Covid-19) em todo o Brasil. Com isso, as orientações para locais nessa modalidade de forma de disseminação do vírus passam a valer em todo o país.

A transmissão comunitária é uma modalidade de circulação na qual as autoridades de saúde não conseguem mais rastrear o primeiro paciente que originou as cadeias de infecção, ou quando esta já envolve mais de cinco gerações de pessoas.

Ela difere dos casos importados (quando uma pessoa adquire o vírus em viagens ao exterior) e da transmissão local (quando alguém é contaminado por contato com alguém infectado em outro país). As situações de transmissão comunitária significam que o vírus está mais disseminado, demandando cuidados mais efetivos.

Até ontem, essa classificação era atribuída pelo Ministério da Saúde a São Paulo, Rio de Janeiro, Pernambuco, Porto Alegre, Belo Horizonte e a região Sul de Santa Catarina.

Quando há transmissão comunitária, agora em todo o país, a orientação é de isolamento por duas semanas de pessoas com sintomas e das que moram no mesmo espaço de quem apresentou sinais da infecção. Isso implica ficar definitivamente em casa e evitar a todo custo não apenas aglomerações, como a circulação fora de casa.

Sintomas do novo coronavírus

De acordo com a portaria, são considerados sintomas do novo coronavírus “tosse seca, dor de garanta ou dificuldade respiratória, acompanhada ou não de febre, desde que seja confirmado por atestado médico”. Além dos sintomas, o isolamento também depende de prescrição médica, razão pela qual pessoas com sintomas devem procurar um médico para verificar o estado de saúde e confirmar a orientação.

Atestado médico

O atestado ofertado pelo médico para a pessoa que apresentar esses sinais será estendido também aos familiares ou outros que residem com ela. Para isso, o paciente deve informar o nome completo dos demais parentes ou moradores da casa. Se esses coabitantes vierem a apresentar sintomas, poderão solicitar um novo atestado médico, dentro do prazo previsto de 14 dias.
O atestado faz-se necessário para justificar o afastamento do trabalho, evitando, assim, qualquer sanção caso o empregador mantenha as atividades. 

Idosos

Já os idosos acima de 60 anos devem “observar o distanciamento social, restringindo seus deslocamentos para realização de atividades estritamente necessárias, evitando transporte coletivo, viagens e eventos esportivos, artísticos, culturais, científicos, comerciais e religiosos e outros com concentração próxima de pessoas.



 Depois da epidemia

Por Guilherme Fiuza

O coronavírus desencadeou uma epidemia de pânico que não ajudará no enfrentamento do problema. Qualquer tentativa de se pensar em saídas para o colapso mundial iminente tem sido confundida com menosprezo pelo perigo e atentado contra a saúde pública. Quem decide as medidas contra a epidemia são as autoridades, e o cidadão cumpre. Ponto. Pensar ainda não está proibido, mesmo que a patrulha do pânico aja como se estivesse. Mas se você pronuncia uma palavra além do alerta “fique em casa”, você é um potencial corona killer.

Aparentemente não há mais nenhuma região do mundo desmobilizada para o combate à epidemia – e as medidas de isolamento, chamadas de distanciamento social, são consensuais em todo o planeta. Dito isso, também se observa que os planos de isolamento não são idênticos de país para país, ou mesmo de cidade para cidade, havendo portanto espaço para se discutir os níveis de paralisação mais eficazes.

Não há até agora, por exemplo, uma diretriz geral para interrupção dos transportes, pelo menos nas nações mais visíveis. O Reino Unido tem procurado manter setores da sociedade e da produção em funcionamento, incluindo escolas – todos com protocolos rigorosos de distanciamento, higiene e variadas formas de bloqueio de contágio, especialmente em relação a idosos e grupos de risco em geral. Não é um flerte com o perigo, nem uma aventura. É uma tentativa legítima de mitigar o colapso econômico e social, que pelos níveis de paralisação impostos pelo coronavírus possivelmente fará mais vítimas que a própria epidemia.

Em parte a disseminação do medo é inevitável, pela velocidade do contágio. Mas a qualidade da informação precisa contribuir para um maior esclarecimento da população, porque a consciência é essencial contra o pânico. As estatísticas de mortes de pessoas infectadas por coronavírus precisam discriminar os casos em que o vírus foi o fator letal.

Há um grande contingente de casos de doentes com enfermidades importantes que morreram com coronavírus, mas não de coronavírus – pelo fato de que o seu contágio é rápido e fácil, mas a sua letalidade não é alta (mais baixa que da influenza e outras gripes conhecidas). Há notícias, por exemplo, de um surto de H1N1 (mais letal que o coronavírus) na Lombardia, região da Itália que está entre as mais atingidas no mundo pelo coronavírus. Mas é praticamente impossível a verificação pelo público leigo da parcela de falecimentos de doentes de coronavírus na Lombardia provocados na verdade pelo H1N1. As autoridades e os veículos de informação devem ao público esse tipo de esclarecimento em relação às estatísticas de coronavírus no mundo todo.

A própria OMS já tinha indicado que, pela facilidade do contágio, não seria possível deter essa epidemia com isolamento – o que não anula as medidas de isolamento indispensáveis que vêm sendo tomadas para tentar evitar os picos de contaminação. Mas também quer dizer que nem sempre o curso geral da epidemia será alterado com essas medidas, ou seja, o contágio inevitavelmente vai alcançar uma determinada abrangência para começar a decair rumo ao fim da epidemia. A principal ação das sociedades é preservar ao máximo, no curso do contágio, os idosos e grupos de risco – de forma que o maior número de infectados fique entre os que têm sintomas brandos ou mesmo sintoma nenhum, muitos dos quais nem saberão que tiveram coronavírus, mas terão contribuído para o declínio da epidemia. E a outra ação essencial é ir calibrando a estratégia de paralisação não pelo medo, mas pela inteligência – porque a tragédia pós-epidemia já está desenhada. Pensar agora em formas de minimizar essa tragédia não é pecado, é obrigação.