Veto de Bolsonaro correu risco
só nas manchetes de jornal
Por J.R. Guzzo
Se você lê e ouve durante
semanas a fio, no noticiário político, que o governo corre o risco de sofrer
uma séria derrota no Congresso, é natural você esperar que o governo sofra uma
séria derrota no Congresso. Foi esse o caso, à essa altura ex-caso, dos vetos
do presidente da República a decisões tomadas pelos deputados em relação ao
Orçamento – reservando mais dinheiro para ser gasto em seus próprios projetos,
é claro.
A mídia, reforçada pelos
especialistas, cientistas políticos, comentaristas, etc., deu a entender, desde
que a história começou, que os deputados iriam rejeitar os vetos. Seria mais
uma demonstração da incapacidade do governo em lidar com o Parlamento, que anda
indignado com o Palácio do Planalto – e com isso teríamos mais uma crise
política de consequências desconhecidas, e certamente ruins.
Terminada a votação sobre
a rejeição ou manutenção dos vetos, porém, quem olhasse para o placar da Câmara
onde aparece o resultado das decisões do plenário veria o seguinte número: 398
votos a favor do governo.
Que diabo aconteceu entre
o começo dessa conversa de veto e a exibição dos números finais no marcador
eletrônico? Aconteceu que o leitor, ouvinte e telespectador perdeu o seu tempo
sendo mal informado. Falaram que havia o risco real e iminente de o governo
sofrer uma derrota horrorosa. Só que aconteceu o contrário. O governo não
apenas ganhou. Ganhou por uma diferença tão grande que o caso nem precisou ir
para o Senado.
São coisas que acontecem,
é claro; ninguém é perfeito. O problema real, aí, é que histórias como essa não
servem para nada. Poderiam levar a alguma reflexão sobre a necessidade de
melhorar a qualidade da informação política prestada ao público. Tipo: “será
que não seria mais certo, numa próxima vez, ter mais cuidado com aquilo que a
gente está dizendo?” Mas aconteceu justo o contrário. A parte da mídia que optou
pela rejeição dos vetos passou a dizer, encerrada a votação, que o governo, em
vez de ganhar, na verdade tinha perdido. Foi obrigado a fazer um “dá cá, toma
lá”. Os políticos ainda levaram um naco do que queriam. Enfim, deu tudo errado.
O público, compreensivelmente, não entendeu coisa nenhuma.
A cobertura do episódio
dos vetos é um desses casos onde há males que vem para o mal. Não ajuda quem
fala nem quem ouve. Dá para escrever uma porção de livros tentando explicar por
que as coisas são assim, mas fica de bom tamanho se o leitor prestar atenção em
dois fatos.
O primeiro é que boa parte
do noticiário político de hoje é jornalismo de torcida – o informador diz que
está acontecendo aquilo que ele quer que aconteça. O segundo é o convívio mal
resolvido entre jornalistas e políticos. Jornalistas falam demais com
políticos, porque é fácil. É só aparecer para ser bajulado, paparicado e
recebido como o melhor sujeito do mundo. Políticos falam demais com os
jornalistas, porque é útil. Tudo o que dizem sai publicado, e o seu nome
aparece – basta dizer o que o jornalista quer ouvir.
Só perde quem ouve uns e
outros.