Depois de perder nas pistas para homens
biológicos, três meninas
anunciam ação
Por Fred Lucas
Quando Chelsea Mitchell, classificada como a menina mais rápida
nos 55 metros rasos de uma escola de ensino médio Connecticut, apareceu para
competir ano passado, ela sabia que seria um desafio.
Entre suas concorrentes havia dois homens biológicos que disseram
se identificar como meninas.
Mitchell, aluna do último ano da Canton High School, tinha visto
os tempos alcançados pelos dois. Ela sabia que outras meninas haviam perdido
para atletas nascidos meninos, mas que agora se identificavam como meninas.
Mas, na hora, “eu sentia a adrenalina no meu sangue”, disse ela.
Mas a adrenalina não foi suficiente. Mitchell chegou em terceiro,
atrás dos dois homens biológicos.
Por fim, por causa das regras de atletismo de Connecticut sobre
competidores trans, ela perdeu quatro campeonatos estaduais femininos e dois
prêmios de toda Nova Inglaterra para homens biológicos que se identificam como
mulheres.
“Definitivamente foi frustrante e desanimador estar lá,
concorrendo às maiores honras do estado, trabalhar tanto e tentar ser a melhor
do estado”, disse Mitchell ao The Daily Signal em uma entrevista exclusiva por
telefone.
Mitchell e duas outras meninas de diferentes escolas de ensino
médio de Connecticut, Alanna Smith e Selina Soule, agora estão processando a
Conferência de Atletismo Interescolar de Connecticut por causa da regra que
permite que homens biológicos compitam com mulheres biológicas em esportes do
ensino secundário.
O processo, apresentado na quarta-feira (12) no Tribunal Distrital
dos EUA para o Distrito de Connecticut, alega que a conferência estadual de atletismo
está violando o artigo da lei federal criado para garantir oportunidades
atléticas iguais para mulheres e meninas.
Smith é aluna do segundo ano do ensino médio na Danbury High
School e Soule é aluna do último ano na Glastonbury High School. A história foi
contada em maio de 2019.
Embora Soule tenha falado longamente ao Daily Signal e outros
meios de comunicação, Mitchell e Smith estão dando seus depoimentos pela
primeira vez.
Os dois meninos biológicos são Terry Miller, da Bloomfield High
School, que venceu a corrida dos 55 metros rasos, e Andraya Yearwood, da
Cromwell High School, que chegou em segundo lugar.
O processo afirma que Miller e Yearwood conquistaram 15 títulos de
campeonatos estaduais e “aproveitaram mais de 85 oportunidades para participar
de competições de nível superior de atletismo contando apenas as temporadas de
2017, 2018 e 2019”.
Mitchell e Smith eram anônimas na denúncia original de Soule em
junho passado, protocolada no Departamento de Educação dos EUA.
Primeiro
processo do tipo
Esse é primeiro processo do tipo no país, de acordo com a Alliance
Defending Freedom, organização cristã de assistência jurídica que representa as
três alunas do ensino médio.
O pai de Smith, ex-arremessador do Chicago Cubs, Lee Smith, entrou
para o Hall da Fama da Major League Baseball no ano passado.
Como caloura, Smith venceu os 400 metros no Campeonato Regional da
Nova Inglaterra de 2019. Ela ficou em terceiro lugar nos 200 metros, atrás de
um homem biológico.
“Isso nos faz trabalhar ainda mais duro e na maioria das vezes
sabemos que não conseguiremos o primeiro lugar, apenas alcançar um recorde
pessoal”, disse Smith em entrevista exclusiva por telefone na terça-feira (11),
referindo-se à decisão da conferência de atletismo de permitir que homens
biológicos compitam contra meninas.
É um caso complexo, disse ela, mas o processo judicial é sobre
concorrência justa. “Queremos ter certeza que há equidade”, disse Smith.
Soule perdeu as qualificatórias para a final do campeonato
estadual dos 55 metros rasos e, por uma colocação, a oportunidade de se
classificar para o campeonato da Nova Inglaterra na temporada 2018-2019. As
duas colocações acima dela foram ocupados por homens biológicos.
Como 18 outros estados têm políticas similares para o atletismo, o
caso das três meninas de Connecticut poderia estabelecer um precedente
nacional, de acordo com Christiana Holcomb, consultora jurídica da Alliance
Defending Freedom.
“O objetivo é que o esporte feminino seja justo”, disse Holcomb.
“A regra existe por uma razão”, disse ela. “É para dar a atletas como Chelsea
Mitchell e Alanna Smith a oportunidade de se destacarem e ser vitoriosas”.
Mitchell disse ter treinado muito e que sabia como melhorar seu
desempenho. Ela se lembra de ter consultado os tempos dos atletas
biologicamente masculinos e de perceber que vencê-los seria bastante difícil.
“Eles estavam muito além do meu melhor tempo”, disse Mitchell.
Bolsas de estudos e outras oportunidades
O processo das três meninas observa que as bolsas de estudo estão
entre as oportunidades que lhes escaparam depois que elas perderam para meninos
biológicos em competições destinadas especificamente para meninas.
“Fiquei pensando”, disse Mitchell. “Não vou obter a bolsa de
estudos e nem sei que oportunidades poderiam ter surgido se as regras fossem
diferentes”.
Como Soule antes delas, as duas garotas enfatizaram que apoiam a
equidade para indivíduos trans, mas que a política atual no atletismo não é
justa para as meninas.
A Associação das Conferências Interescolares de Atletismo das
Escolas de Connecticut, que administra o esporte estudantil no estado,
argumentou que a política sobre transgêneros se baseia em leis federais e
estaduais de combate à discriminação.
“É sobre o direito de alguém competir”, disse o diretor executivo
Glenn Lungarini à Associated Press no ano passado. “Não acho que seja diferente
de outras classes de pessoas que, num passado não muito distante, não tinham
permissão para competir. Acho que será preciso educação e entendimento para
compreender esse ponto da questão”.
O processo aberto na quarta-feira afirma:
Essa
política discriminatória agora está fazendo com que meninos substituam meninas em
competições de atletismo em Connecticut – excluindo meninas específicas e
identificáveis, incluindo as querelantes, de honras, oportunidade de competir
em níveis mais altos e reconhecimento público fundamentais para o recrutamento
das faculdades, e oportunidades de bolsa de estudo que deveriam ser
direcionadas a essas meninas.
Como
resultado, nas competições escolares em Connecticut, mais meninos do que
meninas estão conseguindo vitórias e obtendo as vantagens que se seguem, embora
as competições tenham sido pensadas para garantir que um número igual de
meninos e meninas avance para níveis mais altos de competição.
Em
comparação com os meninos – nascidos com cromossomos XY –, aquelas que nascem
do sexo feminino – com cromossomos XX – agora têm menos oportunidades de subir
no pódio, menos oportunidades de participar em competições de elite, menos
oportunidades de reconhecimento público como campeãs e uma chance muito menor
de estabelecer recordes reconhecidos.
Fred Lucas é o correspondente do The Daily Signal na Casa Branca e
co-apresentador do podcast “The Right Side of History”.