sábado, 11 de janeiro de 2020



O fantasma de Rolando Lero

O economista do PT Marcio Pochmann declarou que a queda no número de assinaturas da TV paga é culpa do governo Bolsonaro. E arrematou com uma ironia triunfal: não era só o PT sair do poder que tudo se resolvia? (ou algo assim, quem quiser procure o original).

O mais importante na notícia não é o fato do eminente economista nunca ter ouvido falar de streaming, Netflix, Amazon, etc – o que possivelmente o levará a novas descobertas, como a de que as vendas de aparelhos de fax também despencaram, da mesma forma que o serviço de revelação de filmes fotográficos mergulhou numa grave crise. Também não há nada de extraordinário na invenção de teses vagabundas para tentar desmentir a realidade da recuperação econômica: a maior parte do noticiário nacional está há um ano fazendo isso diariamente, todo mundo já se acostumou.

O dado realmente significativo – e dramático – desta notícia, ou desta antinotícia, é que Marcio Pochmann possivelmente seria hoje o ministro da Economia se Fernando Haddad tivesse sido eleito presidente.

E aí vale a recapitulação histórica – ou ajuda-memória, como diria Marcelo Odebrecht, o grilo falante do Lula: apesar de ter sido ungido dentro da cadeia pelo maior ladrão do país, Haddad chegou ao segundo turno da eleição (hoje parece mentira, mas está no Google), tendo tido, portanto, chances reais de vitória. E Marcio Pochmann, esse economista que, como visto acima, sabe tudo de economia, era o homem forte (sic) do suplente de presidiário na campanha – o Paulo Guedes do Haddad.

Como se vê, o Brasil tinha de um lado o posto Ipiranga e de outro a escolinha do professor Raimundo. Onde eu faço as reformas e tiro o país do buraco? Pergunta no posto Ipiranga. Onde eu faço panfletagem fantasiada de gestão e jogo o país no buraco? Pergunta pro Rolando Lero.

Outra ajuda-memória, ou informação cultural, para trazer luz em meio a esse período de trevas: a briga de foice no escuro (bota escuro nisso) pelo poder na campanha de Fernando Haddad consagrou esse mesmo Pochmann em duelo mortal com Nelson Barbosa. Não está ligando o nome à pessoa? Sem problemas, a ajuda-memória da Odebrecht te socorre: Nelson Barbosa era o braço direito de Dilma Rousseff naquela epopeia que levou o Brasil gloriosamente ao fundo do poço. Ele perdeu a parada para Pochmann porque foi considerado pelo estado-maior de Haddad ortodoxo demais...

É aquela coisa: por que você vai se contentar com o fundo do poço se você pode ir de uma vez por todas para o brejo? (essa gente nunca se acomoda na zona de conforto).

O que estava em jogo na eleição de 2018 é o que continua em jogo agora: posto Ipiranga ou escolinha do professor Raimundo, gestão de equipe econômica ou poesia de Rolando Lero, trabalhar sério ou ir para o brejo. Vale notar que diversas outras vozes que se dizem liberais (e até sabem o que é streaming) viraram avestruz na eleição – e hoje estão por aí fantasiadas de girafa, corneteando a equipe de Paulo Guedes com estranhas teorias macroeconômicas da democracia florestal. Sem dúvida alguma o professor Raimundo andou fazendo escola.

Feito esse breve esclarecimento sobre o caminho escolhido pelo Brasil, podem voltar ao videogame do apocalipse e à caçada de Pokémon com o Pochmann. Só lembrando que nesta ajuda-memória – um oferecimento do Instituto Odebrecht – não falamos em nenhum momento de roubo. Ou seja: não menosprezemos a incompetência e a estupidez, até porque essas a Lava Jato não pega.

Guilherme Fiuza