O fantasma de Rolando Lero
O economista do PT Marcio
Pochmann declarou que a queda no número de assinaturas da TV paga é culpa do
governo Bolsonaro. E arrematou com uma ironia triunfal: não era só o PT sair do
poder que tudo se resolvia? (ou algo assim, quem quiser procure o original).
O mais importante na
notícia não é o fato do eminente economista nunca ter ouvido falar de
streaming, Netflix, Amazon, etc – o que possivelmente o levará a novas
descobertas, como a de que as vendas de aparelhos de fax também despencaram, da
mesma forma que o serviço de revelação de filmes fotográficos mergulhou numa
grave crise. Também não há nada de extraordinário na invenção de teses
vagabundas para tentar desmentir a realidade da recuperação econômica: a maior
parte do noticiário nacional está há um ano fazendo isso diariamente, todo
mundo já se acostumou.
O dado realmente
significativo – e dramático – desta notícia, ou desta antinotícia, é que Marcio
Pochmann possivelmente seria hoje o ministro da Economia se Fernando Haddad
tivesse sido eleito presidente.
E aí vale a recapitulação
histórica – ou ajuda-memória, como diria Marcelo Odebrecht, o grilo falante do
Lula: apesar de ter sido ungido dentro da cadeia pelo maior ladrão do país,
Haddad chegou ao segundo turno da eleição (hoje parece mentira, mas está no
Google), tendo tido, portanto, chances reais de vitória. E Marcio Pochmann,
esse economista que, como visto acima, sabe tudo de economia, era o homem forte
(sic) do suplente de presidiário na campanha – o Paulo Guedes do Haddad.
Como se vê, o Brasil tinha
de um lado o posto Ipiranga e de outro a escolinha do professor Raimundo. Onde
eu faço as reformas e tiro o país do buraco? Pergunta no posto Ipiranga. Onde
eu faço panfletagem fantasiada de gestão e jogo o país no buraco? Pergunta pro
Rolando Lero.
Outra ajuda-memória, ou
informação cultural, para trazer luz em meio a esse período de trevas: a briga
de foice no escuro (bota escuro nisso) pelo poder na campanha de Fernando
Haddad consagrou esse mesmo Pochmann em duelo mortal com Nelson Barbosa. Não
está ligando o nome à pessoa? Sem problemas, a ajuda-memória da Odebrecht te
socorre: Nelson Barbosa era o braço direito de Dilma Rousseff naquela epopeia
que levou o Brasil gloriosamente ao fundo do poço. Ele perdeu a parada para
Pochmann porque foi considerado pelo estado-maior de Haddad ortodoxo demais...
É aquela coisa: por que
você vai se contentar com o fundo do poço se você pode ir de uma vez por todas
para o brejo? (essa gente nunca se acomoda na zona de conforto).
O que estava em jogo na eleição
de 2018 é o que continua em jogo agora: posto Ipiranga ou escolinha do
professor Raimundo, gestão de equipe econômica ou poesia de Rolando Lero,
trabalhar sério ou ir para o brejo. Vale notar que diversas outras vozes que se
dizem liberais (e até sabem o que é streaming) viraram avestruz na eleição – e
hoje estão por aí fantasiadas de girafa, corneteando a equipe de Paulo Guedes
com estranhas teorias macroeconômicas da democracia florestal. Sem dúvida
alguma o professor Raimundo andou fazendo escola.
Feito esse breve
esclarecimento sobre o caminho escolhido pelo Brasil, podem voltar ao videogame
do apocalipse e à caçada de Pokémon com o Pochmann. Só lembrando que nesta
ajuda-memória – um oferecimento do Instituto Odebrecht – não falamos em nenhum
momento de roubo. Ou seja: não menosprezemos a incompetência e a estupidez, até
porque essas a Lava Jato não pega.
Guilherme Fiuza