Lucro é coisa de rico.
Coisa de pobre é prejuízo
O Brasil é realmente um
país onde as coisas vivem de cabeça para baixo boa parte do tempo, ou talvez a
maior parte do tempo.
Pelo que qualquer
cientista social, formador de opinião ou pensador de universidade dirá, todas
as vezes que você perguntar, governos de esquerda se preocupam em atender os
interesses das populações mais pobres, que são a maioria. Já os governos de
direita, vice-versa e ao contrário, gostam dos ricos – e, por isso mesmo, se
preocupam em atender os interesses do “1%” mais rico da população. Esse célebre
1% do qual se ouve falar o tempo todo, mas que também pode ser 2% ou, vá lá,
até uns 5% ou 10%, na melhor das hipóteses.
Imagina-se, então, que nos
governos de esquerda as empresas estatais, que precisam existir porque o povo
precisa ter empresas, deveriam dar lucro – e esse lucro seria distribuído aos
pobres. Nos governos de direita, pelo mesmo raciocínio, as estatais não
deveriam nem existir, e se existissem deveriam dar prejuízo, porque o povo não
tem nada de ficar recebendo lucro de coisa nenhuma. Lucro é coisa de rico.
Coisa de pobre é prejuízo.
Por que raios, então, as
empresas estatais brasileiras dão prejuízo nos “governos dos pobres” e dão
lucro nos “governos dos ricos”? Vai saber.
Por razões que nunca foram
explicadas direito, alguém por aqui ligou o polo negativo no lugar onde fica o
polo positivo, ou fez o inverso, e o resultado é que as coisas vivem com sinal
trocado no país. Estamos passando, justo agora, por um desses grandes momentos
da “contradição inerente aos fenômenos”, ou da “lei da unidade nos contrários”,
no dialeto marxista à brasileira.
Em 2019, primeiro ano do
governo de direita de Jair Bolsonaro, as estatais vão dar um lucro recorde na
história – R$ 52 bilhões só nos primeiros nove meses, o que pode acabar perto
dos R$ 70 bi até o final de dezembro. Em 2015, último ano do governo de
esquerda Lula-Dilma, as mesmíssimas estatais deram um prejuízo de R$ 35
bilhões. Será preciso dizer mais alguma coisa?
O PT - o grande partido
estatista do Brasil junto com os seus serviçais do Psol, PCdoB, etc. - é o
inimigo número 1 da privatização, como todos estamos cansados de saber. Se
desse, tudo o que serve para produzir alguma coisa deveria pertencer ao
“Estado” – talvez não tanto quanto em Cuba, onde até charrete puxada a burro é
estatal, mas o mais parecido com isso que os seus teóricos conseguissem
imaginar.
No papel, tudo é
“patrimônio popular” e pertence “ao povo”. Na prática, é tudo propriedade
privada dos que mandam no governo – e aí a gente acaba vendo que na verdade não
existe contradição absolutamente nenhuma nessa história toda. Uns roubam.
Outros trabalham. As estatais, nos governos Lula-Dilma, foram roubadas dia e
noite. Só podiam mesmo dar prejuízo. Agora seus diretores trabalham, em vez de
roubar. O lucro apareceu já no primeiro ano.
Não que “o povo” vá ver um
tostão furado de todos esses bilhões que entrarão em 2019 – o povo nem passa do
saguão de entrada das estatais, mesmo porque os seguranças não deixam. Mas os
pobres (além dos médios e dos ricos) não vão mais pagar, ao contrário de 2015,
pelo prejuízo com o dinheiro dos seus impostos, que têm de tirar do bolso a
cada vez que acendem a luz de casa ou compram um quilo de mandioca. Faz uma
imensa diferença.
J. R. Guzzo