domingo, 17 de novembro de 2019



Lula e as mentiras sobre a economia
“Depois que eu fui preso (...) o Brasil não melhorou. O Brasil piorou, o povo está desempregado, o povo está trabalhando de Uber, de bicicleta para entregar comida.” “Eu duvido que o ministro demolidor de sonhos, destruidor de emprego, destruidor de empresas públicas brasileiras chamado Guedes durma com a consciência tranquila que eu durmo.” “Eles têm de explicar por que eles estão apresentando um projeto econômico que vai empobrecer ainda mais a sociedade brasileira”. O ex-presidente Lula, condenado em três instâncias por corrupção e lavagem de dinheiro, escolheu a economia como um dos campos de batalha contra o governo de Jair Bolsonaro em seus primeiros discursos depois de deixar sua cela na sede da Polícia Federal em Curitiba. Uma estratégia que só tem como prosperar se a população brasileira for subitamente acometida de uma amnésia poderosa, que apague até mesmo a memória do passado recente.

É verdade, como disse Lula, que “o povo está desempregado”. São mais de 10 milhões de brasileiros à procura de um trabalho formal, e outras dezenas de milhões na informalidade ou trabalhando por conta própria. Mas, se existe no Brasil um “demolidor de sonhos” e um “destruidor de emprego”, seu nome é “nova matriz econômica”. Este é o nome da política econômica baseada na expansão desenfreada do gasto público e no intervencionismo estatal, desenhada pelo petismo e adotada no fim do segundo governo Lula e nos dois mandatos de Dilma Rousseff. Ela representou o abandono do tripé macroeconômico – meta de inflação, câmbio flutuante e superávit primário – criado no governo Fernando Henrique Cardoso e respeitado por Lula em seus primeiros anos no Planalto.

Se existe no Brasil um “demolidor de sonhos” e um
“destruidor de emprego”, seu nome é 
“nova matriz econômica”, a política econômica do petismo


Ao deixar de lado a responsabilidade fiscal e estimular o consumo sem bases sólidas para essa expansão, os governos petistas criaram as condições que resultaram na disparada dos juros e da inflação, seguida pela recessão e, por fim, pelo desemprego. A política econômica que destruiu o Brasil não tinha nada de “liberal”, nem mesmo de “neoliberal”; era o puro intervencionismo de esquerda, aquele que Fernando Haddad prometia retomar se tivesse vencido em 2018.

Tamanho estrago não tem como ser consertado integralmente em tempo recorde – ao menos, não sem fazer uso de soluções heterodoxas que podem dar resultados imediatos, mas deixam plantada a semente da próxima crise. Felizmente, não foi este o caminho trilhado no pós-impeachment, marcado por reformas que retomam o compromisso com a saúde fiscal do país. É o caso, por exemplo, do teto de gastos, da recém-promulgada reforma da Previdência e do esforço, ainda incipiente, de reduzir o tamanho do Estado por meio de concessões e privatizações das empresas estatais destruídas não por Paulo Guedes, mas pela corrupção petista. Em outra frente, a reforma trabalhista em vigor há dois anos e a recente Lei da Liberdade Econômica destravam o empreendedorismo e a geração de empregos, mas não têm como trazer efeitos de curto prazo se o setor produtivo não tiver a confiança necessária para investir no país – e está confiança, interna e externamente, está apenas começando a retornar. Isso explica por que bons indicadores, como a inflação abaixo do centro da meta, os juros básicos no menor patamar desde 1999 e o risco-país mais baixo desde 2011, ainda convivem com números preocupantes, como o alto desemprego e as previsões de crescimento abaixo de 1% para este ano.

Mentira ou incompetência (editorial de 27 de agosto de 2015)
A reação do nível de emprego (editorial de 30 de setembro de 2019)
Até mesmo os bons números obtidos por Lula em seus dois mandatos, usados para reforçar a mitologia do presidente que “tirou milhões da pobreza” e que por isso é “perseguido” pelas “elites”, precisam ser vistos com lupa. Como demonstrou na Gazeta do Povo o colunista Pedro Menezes, Lula se beneficiou de bases estabelecidas por seus antecessores (e aos quais nunca deu crédito, preferindo falar em “herança maldita”) e a maior parte dos mandatos do petista transcorreu durante um período de prosperidade mundial, intervalo em que o país teve uma das menores médias de crescimento da América do Sul. Em comparação com nações semelhantes, o Brasil do lulismo ficou para trás em vários indicadores. Ou seja: poderia ter entregue muito mais caso não tivesse optado por um caminho que, anos depois, reverteria praticamente todos os avanços obtidos nos tempos de bonança.

O lulopetismo legou ao Brasil a mais grave crise econômica da história do país, mas tenta ressurgir apelando justamente para a economia como forma de criar antagonismo com o governo de Jair Bolsonaro. É uma estratégia que só funcionará à base de muita mentira, martelada insistentemente sobre a população que ainda sofre os efeitos do desastre causado pela “nova matriz econômica”. É preciso recuperar e relembrar a verdade sobre os responsáveis pela recessão e pelo desemprego, quantas vezes for necessário.

Gazeta do Povo



A mesma coisa

ex-presidente Lula acaba de completar uma semana do lado de fora da cela sala-e-quarto onde passou o último ano e meio, mas não foi preciso mais do que uma ou duas horas para ficar claro que ele saiu de lá, na melhor das hipóteses, igual ao que era quando entrou. Talvez já tenha passado da idade para fazer mudanças. Talvez não consiga ser diferente da pessoa que se tornou desde que sua vida política foi à falência – ou, como se diz hoje, entrou em recuperação judicial. Talvez tenha uma incapacidade clínica de perceber que pode cometer algum erro. Acha que está sempre ganhando, mesmo quando o placar mostra 4 a 0 para o adversário – e quando a coisa fica assim nada tem conserto. O fato é que Lula não foi capaz, depois de solto, de fazer um único gesto de paz. Como antes de ser preso, quando ameaçava por “o exército do Stédile na rua”, só conseguiu apresentar uma proposta: “Vamos para a briga”.

Os especialistas em analisar Lula e concluir que ele sempre tem alguma estratégia genial na cabeça, tão genial que está necessariamente acima do entendimento comum, sugerem que o homem, mais uma vez, está dando uma aula de política para o Brasil. Que aula seria essa? Como no “Plano de Deus”, que o catecismo nos diz que é misterioso por natureza, e por isso dispensa explicações lógicas, o Plano de Lula nos será, talvez, revelado um dia. Por enquanto o que temos é o que ele diz em público. Uma de suas primeiras sugestões foi transformar o Brasil “num Chile”, onde milícias do mesmo tipo que as suas querem obter o socialismo instantâneo tocando fogo no metrô. Outra foi disputar com o ministro Sérgio Moro, mano a mano, um pega de MMA para ver do lado de quem o povo brasileiro está. Declarou uma guerra de destruição contra o governo eleito do presidente Jair Bolsonaro. O pensador-chefe de seu partido disse que “a luta”, agora, não é mais para tirar Lula da cadeia, mas para “retomarmos o governo” – ou o poder, que, segundo o mesmo pensador, é uma coisa “muito diferente do que ganhar eleições”. O que significa um negócio desses? Deve fazer parte, talvez, do “Plano de Deus” – de modo que não adianta ficar perguntando muito.

O que se pode dizer, com certeza, é que nada disso combina com a vida real. Lula continua inelegível e condenado, por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, em três instâncias. Não foi absolvido de nada – ao contrário, já está condenado num segundo processo criminal e tem mais uma meia dúzia de sentenças ainda a receber, das quais poderá apelar em liberdade por graça do STF. Bolsonaro e Moro, com quem ele quer brigar diretamente, são as figuras políticas mais populares do Brasil. Para destruir o presente governo Lula precisa combinar com os resultados concretos da economia, que estão fora de seu controle; não é fazendo “greve geral” e queimando pneu na rua que vai alterar o PIB, a inflação ou a taxa de juros. A oposição que ele diz comandar não tem 20% dos votos da Câmara e menos ainda que isso no Senado; na última vez que foi brigar, na reforma da Previdência, o governo ganhou com uma maioria de três quartos. Não pode nomear um porteiro de repartição. Terá de vencer eleições já no ano que vem, para as prefeituras, e em 2022. As Forças Armadas não estão a seu serviço, como acontece na Venezuela, para virar a mesa.

O fato é que Lula joga tudo, mais uma vez, no “nós contra eles”. O problema, nessas coisas, é saber direito quantos são os “nós” e quantos são os “eles”. São pequenos detalhes assim que criam as grandes dores de cabeça dessa vida. Os piores desastres, como se sabe, são causados por aquilo que não aprendemos.

J R Guzzo