Juros em queda, mas ciclo
perto do fim
Quando emitiu seu
comunicado após a reunião de meados de setembro, ao reduzir a taxa Selic para
5,5% ao ano, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central avisou que
“a consolidação do cenário benigno para a inflação prospectiva deverá permitir ajuste
adicional no grau de estímulo” – em outras palavras, se não houvesse nenhum
solavanco interno ou externo, os juros poderiam cair ainda mais. Foi exatamente
o que ocorreu no fim de outubro, quando o Copom promoveu outro corte de meio
ponto porcentual. Agora, a Selic está em 5%, um novo recorde de taxa mais baixa
desde 1999, para o bem do país, especialmente do setor produtivo.
O comunicado desta última
reunião, divulgado na noite de quarta-feira, é praticamente idêntico ao da
reunião anterior; afinal, não houve mudanças radicais no cenário, para o bem e
para o mal. A inflação continua sob controle, com as expectativas para os
próximos quatro anos permanecendo abaixo dos 4%. O cenário externo segue
favorável às economias emergentes: a guerra comercial entre superpotências
parece ter entrado em um período de trégua, e os Estados Unidos também cortaram
seus juros nesta semana. A reforma da Previdência foi finalmente aprovada pelo
Congresso Nacional, faltando apenas sua promulgação – o impasse sobre a data em
que isso ocorrerá é a última chance de os parlamentares ainda tentarem arrancar
alguma concessão do governo.
A queda dos juros facilita
os investimentos
que gerarão emprego e renda,
mas não faz milagres
O que também não mudou,
infelizmente, foi o ritmo “gradual” – um eufemismo do Copom para “lento” – da
recuperação da economia brasileira. A produção industrial, apesar de alta de
0,3% em setembro, ainda acumula queda de 1,4% no acumulado de 12 meses, segundo
o IBGE. O desemprego continua alto, em 11,8%, acima das expectativas do
mercado: são 12,5 milhões de brasileiros procurando emprego, enquanto outros
38,8 milhões estão trabalhando por conta própria ou sem carteira assinada. O
enfraquecimento na demanda é parte da explicação para a inflação baixa, e o
“nível de ociosidade elevado” voltou a ser citado pelos autores do relatório do
Copom como um dos fatores que poderá manter a inflação sob controle mesmo em
caso de um reaquecimento mais forte da economia.
Mas, diferentemente do
relatório de setembro, desta vez o Copom dá a entender que este novo ciclo de
queda nos juros pode estar perto do fim. No relatório de setembro afirmava-se
que “o comitê avalia que a consolidação do cenário benigno para a inflação
prospectiva deverá permitir ajuste adicional no grau de estímulo”; o texto de
quarta-feira repete a frase, mas acrescenta um “de igual magnitude” e a
expressão “o Copom entende que o atual estágio do ciclo econômico
recomenda cautela em eventuais novos ajustes no grau de estímulo”, antecipando
que pode haver um novo corte de meio ponto na última reunião do ano, em
dezembro, mas novas reduções depois disso terão de ser muito bem ponderadas,
pois também será preciso observar os efeitos da atual política de estímulo
monetário, que não vêm imediatamente.
A queda dos juros facilita
os investimentos que gerarão emprego e renda, mas não faz milagres. Para que
esses investimentos ocorram, o setor produtivo precisa estar confiante a ponto
de empenhar dinheiro em melhorias, ampliações e contratações. O fim da novela
da reforma da Previdência é um ponto positivo; o Congresso Nacional discute a
reforma tributária, enquanto o Poder Executivo estuda uma reforma administrativa
e um pacote de estímulo ao emprego. Quanto mais reformas liberalizantes e menos
intervencionismo estatal sobre a produção e o consumo, mais próximo estará o
ponto de virada.
Gazeta do Povo