sábado, 31 de agosto de 2019







17ª RODADA
31 de agosto/ 1 e 2 de setembro

Sábado – 31
11 horas
São Paulo 0 X 0 Grêmio – Morumbi

17 horas
Bahia 1 X 0 CSA – Fonte Nova

19 horas
Chapecoense 0 X 1 Santos – Arena Conda
Athlético PR 1 X 0 Ceará – Arena Baixada

21 horas
Internacional 3 X 2 Botafogo – Beira Rio

Domingo - 01
16 horas
Fortaleza 2 X 0 Goiás – Castelão
Flamengo 3 X 0 Palmeiras – Maracanã

19 horas
Cruzeiro 1 X 0 Vasco – Mineirão
Corinthians 1 X 0 Atlético MG – Arena Corinthians

Segunda – 02
20 horas
Fluminense _ X _ Avaí - Maracanã

CLASSIFICAÇÃO







O STF, a mente criminosa e nós, essa gente ordinária

Francisco Escorsim
Até que demorou para o tal STF começar a devolver o país à normalidade do seu Estado Corrompido de Direito, não acha, leitor ordinário? Mas agora parece que vai. Era tolice mesmo imaginar que gente tão extraordinária quanto sua excelência, o ministro Gilmar Mendes, indicado para o cargo por critério político, assim como todos os demais membros da côrte, deixaria que outros tão extraordinários quanto fossem processados e julgados como pessoas ordinárias. Jamais! Por isso entendo perfeitamente sua indignação contra quem os fez passar por uma situação extrema como essa, serem tratados como pessoas comuns. No seu lugar eu também me indignaria histericamente: “Que Gente Ordinária!”

Está agastado, leitor ordinariamente desiludido? Permita-me uma sugestão para suportar melhor essa brasistrite nervosa aí. Desconecte um pouco do noticiário e das redes sociais e assista ao seriado Mindhunter, da Netflix, baseado no livro Mind Hunter: Inside the FBI’s Elite Serial Crime Unit escrito por John E. Douglas e Mark Olshaker, que conta a história de como o FBI, a polícia federal americana, nos anos 1970 começou a usar da psicologia para compreender e mapear o comportamento de assassinos em série, donde surgiu o termo serial killer. Na primeira temporada os agentes apenas entrevistaram assassinos condenados, mas na segunda passaram a atuar em casos em andamento, aplicando o conhecimento que haviam aprendido com aquela gente extraordinária.

Até que demorou para o tal STF começar a devolver o país à normalidade do seu Estado Corrompido de Direito

O interessante na série, no meu entender, não é a psicologia dos serial killers, que ao ser mapeada vai revelando uma mesmice que beira ao tédio. Há quase sempre um componente de desordem sexual e uma vaidade colossal que os leva a quererem ser reconhecidos, nomeados e imitados. Em outras palavras, querem se tornar uma ideia. Uma ideia besta, porém muito perigosa, não apenas para suas vítimas, mas para quem lhes dá atenção por muito tempo, como os agentes do seriado, pois como bem disse Nietzsche: “Aquele que luta com monstros deve acautelar-se para não tornar-se também um monstro. Quando se olha muito tempo para um abismo, o abismo olha para você.”

Nenhum dos policiais escapa de serem entortados pela proximidade com aqueles psicopatas. Um deles torna-se obsessivo por tentar compreendê-los, desvendar os crimes, puni-los, “entrando” na mente dos assassinos e pagando um preço alto por isso, desenvolvendo ataques de pânico, perdendo todo traquejo social e de certa forma se isolando. O outro, mais consciente da absoluta necessidade de separar o dever do ser, até que tenta manter a distância prudente do trabalho, mas acaba sendo engolido, não conseguindo evitar o naufrágio do seu casamento. Em outros seriados e filmes com a mesma temática, como Criminal Minds, True Detective, Seven, a consequência para os policiais também é muito semelhante.

Mas o que os derruba, na verdade, é menos a monstruosidade dos assassinos do que a frustração por saberem quem eles são e, mesmo deixando isso evidente para todo mundo, verem todo seu esforço com frequência dar em nada ou muito pouco, pois o sistema político-jurídico costuma servir mais como garantia de proteção aos criminosos do que às suas vítimas. A segunda temporada de MindHunter, por exemplo, é baseada num caso real de um psicopata que matou ao menos 27 crianças. Os policiais o descobriram, prenderam e ele foi condenado, mas apenas por outros crimes. Até hoje, ninguém foi punido pelas mortes dessas crianças, embora todo mundo saiba perfeitamente bem quem foi o assassino, não só pelo trabalho policial feito à época que levou à sua prisão, mas também porque assim que foi retirado do convívio social não aconteceram novas mortes de crianças.

Mas trabalho policial é uma coisa, o judiciário, outra. Quem costuma acompanhá-los ou mesmo ler romances ou assistir filmes policiais e thrillers jurídicos sabe do que falo. Nas histórias policiais, descobrir a verdade é o que importa. De histórias assim, talvez a mais impactante para mim tenha sido a do romance policial de Durenmatt, A Promessa, que virou filme nas mãos de Sean Penn, como diretor, e Jack Nicholson, como o policial prestes a se aposentar e que antes disso tenta desvendar o assassinato de uma garota, prometendo à sua mãe que pegaria o assassino. Ele passa sua aposentadoria investigando por conta, acaba descobrindo quem é o sujeito e sabe como prendê-lo, mas por um azar do acaso não consegue, passando o resto de sua vida obcecado e frustrado com isso.

Já nas histórias jurídicas o que interessa é o que se consegue provar dessa verdade trazida pela investigação policial. Por isso, é comum que os “operadores do Direito” se descolem dos fatos e das próprias provas, passando a viver na sobre-realidade do processo, não raro acabando por inverter a realidade e transformando o julgamento num ato teatral ridículo. O recente julgamento do STF anulando a condenação do ex-presidente da Petrobrás é emblemático disso, aliás. Ignorando por completo a realidade dos fatos, também a realidade do próprio processo legal, destacaram um aspecto qualquer, sem sequer demonstrarem que prejuízo teria havido aos réus, para inventar outro caminho processual e anular tudo.

É claro que nada disso anula a realidade revelada e provada pela operação Lava Jato, mas certamente anula ainda mais a ínfima credibilidade que o STF possuía aos olhos da população que vive na realidade dos fatos, não na dos corredores de tribunais em que alguns advogados são admitidos de bermuda, mas o homem ordinário seria barrado se assim aparecesse por lá. Aconteça o que acontecer, a Lava Jato como um todo já se tornou quixotesca. Mas quixotesca ao avesso. Dom Quixote combatia moinhos de vento crente serem dragões. Vivesse no Brasil e os dragões seriam perfeitamente reais, mas os STF da vida fariam de tudo para defendê-los e preservá-los tentando obrigar todos a enxergarem-nos apenas como moinhos de vento.

O grande crítico literário, Otto Maria Carpeaux, aliás, considerava o gênero dos romances policiais como um desenvolvimento temporal dos romances de cavalaria, como o Amadis de Gaula, que se tornou mais conhecido depois de Cervantes colocá-lo como a grande influência de Dom Quixote, que melhor nos serve aqui para compreender nossa realidade, pois era um cavaleiro nobre numa época sem nobreza, sem ideais, parecendo mais o bobo da corte do que o seu grande herói. É assim que todos nós que nos recusamos a tapar a realidade criminosa revelada pela Lava Jato com a peneira idealizada das chicanas jurídicas do STF estamos sendo tratados por essa gente extraordinária que tem o poder da caneta, mas não o da verdade.

Francisco Escorsim